sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ACTOS DOS APÓSTOLOS

Os Actos dos Apóstolos constituem a segunda parte da obra de Lucas (1,1-2). Desde muito cedo, foram considerados Escritura sagrada, sendo lidos na liturgia da Igreja como memória e norma de fé. Esta obra “apostólica”, relata a sorte do Evangelho confiado aos Apóstolos e expõe os primeiros passos da comunidade cristã; por isso a Igreja viu nela um guia precioso e um estímulo exemplar para a vida dos cristãos: da escuta da Palavra à fé, do Baptismo à solidariedade, da perseguição ao martírio.

AUTOR E DATA Pensa-se que o seu autor é o mesmo do Terceiro Evangelho, que a tradição, durante séculos, tem identificado com Lucas. Apesar de alguns problemas levantados pelos peritos, o estudo da língua e do pensamento dos dois livros, assim como da figura de Paulo nos Actos e da concordância com o pensamento das suas Cartas, levam a concluir a favor daquele a quem o Apóstolo trata por «Lucas, o caríssimo médico» (Cl 4,14). Tendo em conta o estado da crítica actual, o livro terá sido escrito por volta do ano 80, ou seja, depois do Terceiro Evangelho, que muitos estudiosos colocam depois do ano 70. Um dos elementos a favor dessa datação é a abertura e indeterminação do epílogo, cujo resumo da estadia de Paulo em Roma mostra como o anúncio do Evangelho já chegava de Jerusalém às extremidades da terra (1,8; 28,30). Ver Introduçaõ aos Evangelhos e Actos, p. 1561-1562.

TEXTO O estudo dos Actos confronta-se, antes de mais, com o complexo problema do estabelecimento do texto primitivo. Basta dizer que existem três versões principais: a síria ou antioquena, a egípcia ou alexandrina e a ocidental ou corrente, de grande interesse histórico e doutrinal.Sob o ponto de vista literário, a obra caracteriza-se por uma grande unidade de língua e de pensamento, independentemente das diferenças entre as duas partes em que se divide.

DIVISÃO E CONTEÚDO O livro divide-se em duas grandes partes: 1-12 (“Actos de Pedro”) e 13-28 (“Actos de Paulo»), com as seguintes secções:Introdução: 1,1-11;I. A Igreja de Jerusalém: 1,12-6,7;II. Expansão da Igreja fora de Jerusalém: 6,8-12,25;III. Missões de Paulo fora de Jerusalém: 13,1-21,26: 1.ª Viagem (13,1-14,28); 2.ª Viagem (15,35-18,22); 3.ª Viagem (18,23-21,26).IV. Paulo, prisioneiro de Cristo: Condenação e Viagem do Cativeiro (21,27-28,31).Distinguem-se facilmente diversas unidades literárias, cuja extensão e repetição conferem ao livro actual a sua própria fisionomia “eclesial”: Narrações de missão: 2,1-41; 8,4-40; 9,32-11,18; 13,1-21,26.Narrações de processos: 3,1-4,31; 5,17-42; 6,8-8,12; 12,1-7; 21,27-26,32.Narrações de viagens: 13,1-21,26; 27,1-28,16.Discursos de diversos tipos: 2,14-39; 3,12-26; 4,8-12; 5,29-32.35-39; 7,2-53; 10,34-43; 13,16-41; 14,15-17; 17,22-31; 20,18-35; 22,1-21; 24,10-21; 26,2-23; 28,25-28.Orações: 1,24-25; 2,42.46; 4,24-30; 12,11...Cartas: 15,23-29; 23,25-30. Sumários: 2,42-47; 4,32-35; 5,12-15...Além da coordenação de todos estes materiais, o autor pôde dispor de fontes orais e escritas, muitas vezes ligadas à fundação e vida das igrejas referidas ao longo do livro. Ressaltam de um modo particular as passagens descritas com o sujeito “nós”, em que o autor se sente testemunha ocular, deixando-nos uma espécie de “diário de viagem” ou um “itinerário” dos acontecimentos ligados a Paulo (16,10-17; 20,5-15; 21,1-18; 27,1-28,16).

VALOR HISTÓRICO As narrações e os discursos dos Actos são confirmados pelos dados da História e da Arqueologia, por um lado, e, por outro, concordam com o quadro dos Evangelhos e com as Cartas de Paulo, que ajudam a compreender. Os resultados do exame histórico são favoráveis à veracidade do livro e permitem estabelecer os elementos de uma cronologia bastante segura das origens cristãs, assim como das Cartas de Paulo. A visão histórica do livro aparece integrada numa visão teológica. Assim, Deus é actor e autor do crescimento da Igreja (2,47; 11,21.23). De um modo particular, o autor insiste no Dom do Espírito, actuando sem cessar na expansão da Igreja.Para o autor dos Actos, a História do mundo é uma História de Salvação que tem Deus como autor principal e se divide em duas etapas principais: a primeira é o tempo da Promessa, da prefiguração, da preparação, da Profecia o Antigo Testamento; a segunda é o tempo do cumprimento, da realização, da salvação já presente o Novo Testamento. Esse cumprimento do desígnio salvífico de Deus em Cristo Senhor abre um tempo em que a História da Salvação continua até à plenitude final. Daí a importância decisiva que Lucas atribui ao “hoje”, como memória e imperativo da fé em Cristo ressuscitado.

UNIVERSALIDADE Deste “hoje” faz parte, em primeiro lugar, o anúncio da Boa-Nova e o testemunho de Jesus, Senhor e Messias, que encontra nos Doze, nos diáconos e, sobretudo, em Pedro e Paulo, os arautos mais credenciados.Os Actos descrevem o espaço geográfico e humano da expansão dessa Boa-Nova de Jesus. Enquanto no Evangelho de Lucas a manifestação de Jesus começa em Nazaré e termina em Jerusalém, nos Actos, o anúnico da Boa-Nova parte de Jerusalém (2-5), passando depois à Samaria e Judeia (8,1), à Fenícia, Chipre e Síria (11,19-21), para, através da Ásia Menor e da Grécia (13-18), chegar a Roma (28,30).O Evangelho destina-se a todos (17,31); mas a passagem da salvação do Evangelho, do povo de Israel para os pagãos (13,46), faz parte do plano de Deus (2,39; 15,7-11.14) e constitui o tema principal deste livro.

ECLESIOLOGIA Aos olhos do autor, o ideal, para o qual todas as comunidades devem tender, é expresso nos chamados “sumários”. Aí se traduzem os vectores fundamentais que, em referência à comunidade primitiva de Jerusalém, devem caracterizar as diversas igrejas: escuta assídua do ensinamento dos Apóstolos, comunhão fraterna e solidariedade, participação na fracção do pão e nas orações (2,42-47; 4,32-35; 5,12-15).No interior das comunidades adivinham-se tensões, sobretudo entre helenistas e judaizantes, mas também sobressaem grupos de pessoas com funções particulares de governo, de direcção e de serviço, e até com poderes taumatúrgicos. Tudo isso representa uma certa estrutura, necessária para a comunhão das igrejas. Depois dos Doze Apóstolos, com um lugar privilegiado para Paulo, vêm os Sete Diáconos (6,1-6), os Anciãos (14,23; 20,17.28) e os Profetas (11,27).Esta exemplaridade dinâmica, animada pelo Espírito Santo, ontem como hoje, há-de traduzir-se em decisões e atitudes que sejam testemunho da ressurreição do Senhor, mediante a comunhão na diversidade, na solidariedade e na piedade. Nesta “Via do Senhor” está a identidade própria do Povo de Deus, com uma história a recordar e a recriar, primeiro a partir de Jerusalém, depois a partir de Roma, «até aos confins do mundo» (1,8).

TEOLOGIA Um dos pontos fundamentais na trama literária dos Actos é a passagem do judaísmo para o cristianismo. De facto, os primeiros cristãos, que eram judeus, deviam dar “um salto” da convicção da salvação pela Lei (15,1.5) para a salvação pela fé em Cristo (15,9.11). Daí as tensões que surgem na abertura a circuncisos e incircuncisos, e na passagem do Evangelho para os pagãos. Sem rejeitar os judeus, e sem se deixar “judaizar”, a Boa-Nova de Cristo tem como fronteira a universalidade.Este dado teológico ajuda a compreender a intenção do autor. Ao compor a sua obra, Lucas pensava, sobretudo, num público cristão, constituído por judeus e não-judeus. Homem da unidade e da comunhão, ele apela a que os cristãos espalhados pelo mundo se conduzam pela exemplaridade da comunidade de Jerusalém. Insistindo sobre a fé, ele opõe-se a eventuais tendências judaizantes; respeitando a fidelidade dos judeo-cristãos à Lei, ele desarma as críticas dos irmãos vindos da gentilidade.

INTRODUÇÃO (1,1-11)
1 Prólogo (Lc 1,1-4) - 1No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei as obras e os ensinamentos de Jesus, desde o princípio 2até ao dia em que, depois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera, foi arrebatado ao Céu. 3A eles também apareceu vivo depois da sua paixão e deu-lhes disso numerosas provas com as suas aparições, durante quarenta dias, e falando-lhes também a respeito do Reino de Deus.

Ascensão (Mc 16,19-20; Lc 24,50-53) - 4No decurso de uma refeição que partilhava com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem lá o Prometido do Pai, «do qual - disse Ele - me ouvistes falar. 5João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo.» 6Estavam todos reunidos, quando lhe perguntaram: «Senhor, é agora que vais restaurar o Reino de Israel?» 7Respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a sua autoridade. 8Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo.» 9Dito isto, elevou-se à vista deles e uma nuvem subtraiu-o a seus olhos. 10E como estavam com os olhos fixos no céu, para onde Jesus se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco, 11que lhes disseram: «Homens da Galileia, porque estais assim a olhar para o céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu.»

I. A IGREJA DE JERUSALÉM (1,12-6,7)
O grupo dos Apóstolos - 12Desceram, então, do monte chamado das Oliveiras, situado perto de Jerusalém, à distância de uma caminhada de sábado, e foram para Jerusalém. 13Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente.Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago. 14E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.

Eleição de Matias - 15Por aqueles dias, Pedro levantou-se no meio dos irmãos - encontravam-se reunidas cerca de cento e vinte pessoas - e disse: 16«Irmãos, era necessário que se cumprisse o que o Espírito Santo anunciou na Escritura pela boca de David a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus. 17Ele, efectivamente, era um dos nossos e tinha recebido uma parte do nosso ministério. 18Esse homem, depois de ter adquirido um terreno com o salário do seu crime, precipitou-se de cabeça para baixo, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se espalharam. 19O facto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, a tal ponto que esse terreno foi chamado na língua deles ‘Haqueldamá’, que quer dizer Campo de Sangue. 20Está realmente escrito no Livro dos Salmos:‘Fique deserta a sua habitaçãoe não haja quem nela resida’.E ainda: ‘Receba outro o seu encargo.’ 21Portanto, de entre os homens que nos acompanharam durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu no meio de nós, 22a partir do baptismo de João até ao dia em que nos foi arrebatado para o Alto, é indispensável que um deles se torne, connosco, testemunha da sua ressurreição.» 23Designaram dois: José, de apelido Barsabas, chamado Justo, e Matias. 24Fizeram, então, a seguinte oração: «Senhor, Tu que conheces o coração de todos, indica-nos qual destes dois escolheste 25para ocupar, no ministério apostólico, o lugar abandonado por Judas, que foi para o lugar que merecia.» 26Depois, tiraram à sorte, e a sorte caiu em Matias, que foi incluído entre os onze Apóstolos.

2 O Dom do Espírito Santo - 1Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. 2De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. 3Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. 4Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem. 5Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. 6Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua. 7Atónitos e maravilhados, diziam: «Mas esses que estão a falar não são todos galileus? 8Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? 9Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, 10da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, 11judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!» 12Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: «Que significa isto?» 13Outros, por sua vez, diziam, troçando: «Estão cheios de vinho doce.»

Discurso de Pedro à multidão - 14De pé, com os Onze, Pedro ergueu a voz e dirigiu-lhes então estas palavras:«Homens da Judeia e todos vós que residis em Jerusalém, ficai sabendo isto e prestai atenção às minhas palavras. 15Não, estes homens não estão embriagados como imaginais, pois apenas vamos na terceira hora do dia. 16Mas tudo isto é a realização do que disse o profeta Joel: 17‘Nos últimos dias, diz o Senhor,derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura.Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar;os vossos jovens terão visões,e os vossos velhos terão sonhos. 18Certamente, sobre os meus servose as minhas servasderramarei o meu Espírito, nesses dias,e eles hão-de profetizar. 19Farei ver prodígios, em cima, no céu, e sinais, em baixo na terra:sangue, fogo e uma coluna de fumo. 20O Sol será transformado em trevas e a Lua em sangue,antes de vir o Dia do Senhor, grande e glorioso. 21E então, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.’ 22Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou no meio de vós por seu intermédio, como vós próprios sabeis, 23este, depois de entregue, conforme o desígnio imutável e a previsão de Deus, vós o matastes, cravando-o na cruz pela mão de gente perversa. 24Mas Deus ressuscitou-o, libertando-o dos grilhões da morte, pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte. 25David diz a seu respeito:‘Eu via constantemente o Senhor diante de mim,porque Ele está à minha direita, a fim de eu não vacilar. 26Por isso o meu coração se alegroue a minha língua exultou;e até a minha carne repousará na esperança, 27porque Tu não abandonarás a minha vida na habitação dos mortos,nem permitirás que o teu Santo conheça a decomposição. 28Deste-me a conhecer os caminhos da Vida,hás-de encher-me de alegria com a tua presença.’ 29Irmãos, seja-me permitido falar-vos sem rodeios: o patriarca David morreu e foi sepultado, e o seu túmulo encontra-se, ainda hoje, entre nós. 30Mas, como era profeta e sabia que Deus lhe prometera, sob juramento, que um dos descendentes do seu sangue havia de sentar-se no seu trono, 31viu e proclamou antecipadamente a ressurreição de Cristo por estas palavras: ‘Não foi abandonado na habitação dos mortos e a sua carne não conheceu a decomposição.’ 32Foi este Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas. 33Tendo sido elevado pelo poder de Deus, recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou-o como vedes e ouvis. 34David não subiu aos Céus, mas ele próprio diz:‘O Senhor disse ao meu Senhor:Senta-te à minha direita, 35 até Eu pôr os teus inimigospor estrado dos teus pés.’ 36Saiba toda a casa de Israel, com absoluta certeza, que Deus estabeleceu como Senhor e Messias a esse Jesus por vós crucificado.»

Primeiras conversões - 37Ouvindo estas palavras, ficaram emocionados até ao fundo do coração e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?» 38Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um o baptismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo. 39Na verdade, a promessa de Deus é para vós, para os vossos filhos, assim como para todos os que estão longe: para todos os que o Senhor nosso Deus quiser chamar.» 40Com estas e muitas outras palavras, Pedro exortava-os e dizia-lhes: «Afastai-vos desta geração perversa.» 41Os que aceitaram a sua palavra receberam o baptismo e, naquele dia, juntaram-se a eles cerca de três mil pessoas.
Uma comunidade modelo - 42Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. 43Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. 44Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. 45Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. 46Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. 47Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.

3 Cura de um aleijado - 1Pedro e João subiam ao templo, para a oração das três horas da tarde. 2Era para ali levado um homem, coxo desde o ventre materno, que todos os dias colocavam à porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola àqueles que entravam. 3Ao ver Pedro e João entrarem no templo, pediu-lhes esmola. 4Pedro, juntamente com João, olhando-o fixamente, disse-lhe: «Olha para nós.» 5O coxo tinha os olhos nos dois, esperando receber alguma coisa deles. 6Mas Pedro disse-lhe: «Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, isto te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!» 7E, segurando-o pela mão direita, ergueu-o.No mesmo instante, os pés e os artelhos se lhe tornaram firmes. 8De um salto, pôs-se de pé, começou a andar e entrou com eles no templo, caminhando, saltando e louvando a Deus. 9Todo o povo o viu caminhar e louvar a Deus. 10Bem o conheciam, como sendo aquele que costumava sentar-se à Porta Formosa do templo a mendigar; ficaram cheios de assombro e estupefactos com o que lhe acabava de suceder. 11E, como ele não deixasse Pedro e João, todo o povo, cheio de assombro, se juntou a eles sob o chamado pórtico de Salomão.

Discurso de Pedro ao povo - 12Ao ver isto, Pedro dirigiu a palavra ao povo:«Homens de Israel, porque vos admirais com isto? Porque nos olhais, como se tivéssemos feito andar este homem por nosso próprio poder ou piedade,? 13O Deus de Abraão, de Isaac e Jacob, o Deus dos nossos pais, glorificou o seu servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos, estando ele resolvido a libertá-lo. 14Negastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação de um assassino. 15Destes a morte ao Príncipe da Vida, mas Deus ressuscitou-o dos mortos, e disso nós somos testemunhas. 16Pela fé no seu nome, este homem, que vedes e conheceis, recobrou as forças. Foi a fé que dele nos vem que curou completamente este homem na vossa presença. 17Agora, irmãos, sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. 18Dessa forma, Deus cumpriu o que antecipadamente anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Messias havia de padecer. 19Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam apagados; 20e, assim, o Senhor vos conceda os tempos de conforto, quando Ele enviar aquele que vos foi destinado, o Messias Jesus, 21que deve permanecer no Céu até ao momento da restauração de todas as coisas, de que Deus falou outrora pela boca dos seus santos profetas. 22Moisés disse: ‘O Senhor Deus suscitar-vos-á um Profeta como eu, de entre os vossos irmãos. Escutá-lo-eis em tudo quanto vos disser. 23Quem não escutar esse Profeta, será exterminado do meio do povo.’ 24E, por outro lado, todos os profetas que falaram desde Samuel anunciaram igualmente estes dias. 25Vós sois os filhos dos profetas e da aliança que Deus concluiu com os vossos pais, quando disse a Abraão: ‘Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da Terra.’ 26Foi primeiramente para vós que Deus suscitou o seu Servo e o enviou para vos abençoar e para se afastar cada um de vós das suas más acções.»

4 Pedro e João perante o Sinédrio - 1Estando eles a falar ao povo, surgiram os sacerdotes, o comandante do templo e os saduceus, 2irritados por vê-los a ensinar o povo e a anunciar, na pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos. 3Deitaram-lhes as mãos e prenderam-nos até ao dia seguinte, pois já era tarde. 4No entanto, muitos dos que tinham ouvido a Palavra abraçaram a fé, e o número dos crentes elevou-se a cerca de cinco mil. 5No dia seguinte, os chefes dos judeus, os anciãos e os escribas reuniram-se em Jerusalém 6com o Sumo Sacerdote Anás, e ainda Caifás, João, Alexandre e todos os membros das famílias dos sumos sacerdotes. 7Mandaram comparecer os Apóstolos diante deles e perguntaram-lhes: «Com que poder ou em nome de quem fizestes isso?» 8Então Pedro, cheio do Espírito Santo, disse-lhes:«Chefes do povo e anciãos, 9já que hoje somos interrogados sobre um benefício feito a um enfermo e sobre o modo como ele foi curado, 10ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: É em nome de Jesus Nazareno, que vós crucificastes e Deus ressuscitou dos mortos, é por Ele que este homem se apresenta curado diante de vós. 11Ele é a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se transformou em pedra angular. 12E não há salvação em nenhum outro, pois não há debaixo do céu qualquer outro nome, dado aos homens, que nos possa salvar.» 13Ao verem o desassombro de Pedro e de João e percebendo que eram homens iletrados e plebeus, ficaram espantados. Reconheciam-nos por terem andado com Jesus, 14mas, ao mesmo tempo, vendo de pé, junto deles, o homem que fora curado, nada encontraram para replicar. 15Mandaram-nos, então, sair do Sinédrio e começaram sozinhos a deliberar: 16«Que havemos de fazer a estes homens? Que um milagre notável foi realizado por eles é demasiado claro para todos os habitantes de Jerusalém e não podemos negá-lo. 17No entanto, para evitar que a notícia deste caso se espalhe ainda mais por entre o povo, proibamo-los, com ameaças, de falar, doravante, a quem quer que seja, nesse nome.» 18Chamaram-nos, então, e impuseram-lhes a proibição formal de falar ou ensinar em nome de Jesus. 19Mas Pedro e João retorquiram: «Julgai vós mesmos se é justo, diante de Deus, obedecer a vós primeiro do que a Deus. 20Quanto a nós, não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos.» 21Eles, então, com novas ameaças, mandaram-nos em liberdade, não encontrando maneira de os castigar, por causa do povo; pois todos glorificavam a Deus pelo que tinha acontecido. 22O homem curado miraculosamente tinha mais de quarenta anos.

A oração dos fiéis - 23Logo que foram postos em liberdade, foram ter com os seus e contaram-lhes tudo quanto os sumos sacerdotes e os anciãos lhes tinham dito. 24Depois de tudo terem ouvido, ergueram a voz a Deus, numa só alma, e disseram:«Senhor, Tu é que fizeste o Céu, a Terra, o mar e tudo o que neles se encontra. 25Tu disseste pelo Espírito Santo e pela boca do nosso pai David, teu servo:‘Porque bramiram as naçõese os povos formaram vãos projectos? 26Levantaram-se os reis da Terrae os chefes coligaram-secontra o Senhor e contra o seu Ungido.’ 27Sim, realmente, Herodes e Pôncio Pilatos coligaram-se nesta cidade com as nações e os povos de Israel, contra o teu Santo Servo Jesus, a quem ungiste, 28para levarem a cabo tudo quanto determinaste antecipadamente, pelo teu poder e sabedoria. 29Agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra com todo o desassombro, 30estendendo a tua mão para se operarem curas, milagres e prodígios, em nome do teu Santo Servo Jesus.» 31Tinham acabado de orar, quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com desassombro.

Partilha dos bens - 32A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. 33Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles. 34Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda 35e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse. 36Assim, um levita cipriota, de nome José, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé, isto é, «filho da consolação», 37possuía uma terra; vendeu-a e trouxe a importância, que depositou aos pés dos Apóstolos.

5 Fraude de Ananias e Safira - 1Um certo homem, chamado Ananias, com sua mulher, Safira, vendeu uma propriedade; 2mas desviou parte do preço, de acordo com a mulher e, trazendo o restante, depositou-o aos pés dos Apóstolos. 3Então Pedro perguntou-lhe: «Ananias, porque é que Satanás invadiu o teu coração, a ponto de te levar a mentir ao Espírito Santo e subtraíres uma parte do preço do terreno? 4Não podias tu conservá-lo sem o vender? E, depois de o teres vendido, não podias dispor livremente do valor em teu poder? Como pudeste conceber semelhante plano no teu coração? Não foi aos homens que tu mentiste, mas a Deus.» 5Ao ouvir tais palavras, Ananias caiu e expirou, e um grande terror se apoderou de todos os assistentes. 6Os mais novos aproximaram-se para amortalhar o corpo e levaram-no a enterrar. 7Cerca de três horas depois, entrou sua mulher, ignorando o que se passara. 8Pedro perguntou-lhe: «Foi por tanto que vendestes o terreno?» Ela respondeu: «Sim, foi por esse preço.» 9Pedro insistiu: «Porque combinaste pôr à prova o Espírito do Senhor? Aí estão à porta os pés daqueles que sepultaram o teu marido, e te hão-de levar a ti.» 10No mesmo instante, caiu aos pés do Apóstolo e expirou. Os jovens, entrando, encontraram-na morta e, levando-a, sepultaram-na ao lado do marido. 11Então, um grande temor se apoderou de toda a Igreja e de todos quantos ouviram contar estes acontecimentos.

Milagres dos Apóstolos - 12Entretanto, pela intervenção dos Apóstolos, faziam-se muitos milagres e prodígios no meio do povo. Reuniam-se todos no Pórtico de Salomão 13e, dos restantes, ninguém se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo não cessava de os enaltecer. 14Sempre em maior número, juntavam-se, em massa, homens e mulheres, acreditando no Senhor, 15a tal ponto que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e catres, a fim de que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. 16A multidão vinha também das cidades próximas de Jerusalém, transportando enfermos e atormentados por espíritos malignos, e todos eram curados.

Prisão e libertação dos Apóstolos - 17Surgiu, então, o Sumo Sacerdote com todos os seus sequazes, isto é, o partido dos saduceus; encheram-se de inveja 18e deitaram as mãos aos Apóstolos, metendo-os na prisão pública. 19Mas, durante a noite, o Anjo do Senhor abriu as portas da prisão e, depois de os ter conduzido para fora, disse-lhes: 20«Ide para o templo e anunciai ao povo a Palavra da Vida.» 21Obedientes a essas ordens, entraram no templo de manhã cedo e começaram a ensinar.Entretanto, chegou o Sumo Sacerdote com os seus sequazes; convocaram o Sinédrio e todo o Senado dos filhos de Israel e mandaram buscar os Apóstolos à cadeia. 22Os guardas foram lá, mas não os encontraram na prisão e voltaram, declarando: 23«Encontrámos a cadeia fechada com toda a segurança e os guardas de sentinela à porta, mas, depois de a abrirmos, não encontrámos ninguém no interior.» 24Esta notícia pôs os sumos sacerdotes e o comandante do templo numa grande perplexidade acerca dos Apóstolos, e perguntavam a si próprios o que poderia significar tudo aquilo. 25Veio, então, alguém comunicar-lhes: «Os homens que metestes na prisão estão agora no templo a ensinar o povo.» 26O comandante do templo dirigiu-se imediatamente para lá com os guardas e trouxe os Apóstolos, mas não à força, pois receavam ser apedrejados pelo povo. 27Trouxeram-nos, pois, e levaram-nos à presença do Sinédrio. O Sumo Sacerdote, interrogando-os, 28disse: «Proibimo-vos formalmente de ensinardes nesse nome, mas vós enchestes Jerusalém com a vossa doutrina e quereis fazer recair sobre nós o sangue desse homem.» 29Mas Pedro e os Apóstolos responderam: «Importa mais obedecer a Deus do que aos homens. 30O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, a quem matastes, suspendendo-o num madeiro. 31Foi a Ele que Deus elevou, com a sua direita, como Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. 32E nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o Espírito Santo, que Deus tem concedido àqueles que lhe obedecem.»

Intervenção de Gamaliel - 33Enraivecidos com tal linguagem, pensaram a sério em matá-los. 34Ergueu-se, então, um homem no Sinédrio, um fariseu chamado Gamaliel, doutor da Lei, respeitado por todo o povo. Mandou sair os acusados por alguns momentos 35e, tomando a palavra, disse:«Homens de Israel, tende cuidado com o que ides fazer a esses homens! 36Nos últimos tempos, apareceu Teudas, que se dizia alguém e ao qual seguiram cerca de quatrocentos homens. Ele foi liquidado e todos os seus partidários foram destroçados e reduzidos a nada. 37Depois dele, apareceu também Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo atrás dele. Morreu, igualmente, e todos os seus adeptos foram dispersos. 38E, agora, digo-vos: não vos metais com esses homens, deixai-os. Se o seu empreendimento é dos homens, esta obra acabará por si própria; 39mas, se vem de Deus, não conseguireis destruí-los, sem correrdes o risco de entrardes em guerra contra Deus.»Concordaram, então, com as suas palavras. 40Trouxeram novamente os Apóstolos e, depois de os mandarem açoitar, proibiram-lhes de falar no nome de Jesus e libertaram-nos. 41Quanto a eles, saíram da sala do Sinédrio cheios de alegria, por terem sido considerados dignos de sofrer vexames por causa do Nome de Jesus. 42E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa-Nova de Jesus, o Messias.

6 Instituição dos Sete - 1Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentando, houve queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário. 2Os Doze convocaram, então, a assembleia dos discípulos e disseram: «Não convém deixarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas. 3Irmãos, é melhor procurardes entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria; confiar-lhes-emos essa tarefa. 4Quanto a nós, entregar-nos-emos assiduamente à oração e ao serviço da Palavra.» 5A proposta agradou a toda a assembleia e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócuro, Nicanor, Timão, Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 6Foram apresentados aos Apóstolos que, depois de orarem, lhes impuseram as mãos. 7A palavra de Deus ia-se espalhando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé.

II. EXPANSÃO DA IGREJA FORA DE JERUSALÉM (6,8-12,25)
Prisão de Estêvão - 8Cheio de graça e força, Estêvão fazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo. 9Ora, alguns membros da sinagoga, chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e da Ásia, vieram para discutir com Estêvão; 10mas era-lhes impossível resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 11Subornaram, então, uns homens para dizerem: «Ouvimo-lo proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.» 12Provocaram, assim, a ira do povo, dos anciãos e dos escribas; depois, surgindo-lhe na frente, arrebataram-no e levaram-no ao Sinédrio. 13Aí, apresentaram falsas testemunhas que declararam: «Este homem não cessa de falar contra este Lugar Santo e contra a Lei, 14pois ouvimo-lo afirmar que Jesus, o Nazareno, destruiria este lugar e mudaria as regras que Moisés nos legou.» 15Todos os membros do Sinédrio tinham os olhos fixos nele e viram que o seu rosto era como o rosto de um Anjo.

7 Discurso de Estêvão - 1Depois, o Sumo Sacerdote perguntou-lhe: «Isso é verdade?» 2Ele respondeu:«Irmãos e pais, escutai! O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, quando ele estava na Mesopotâmia, antes de se ter estabelecido em Haran, 3e disse-lhe: ‘Deixa a tua terra e a tua parentela e vai para a terra que te hei-de mostrar.’ 4Abandonou, então, o país dos caldeus, e foi estabelecer-se em Haran. Daí, após a morte do pai, Deus fê-lo emigrar para esta terra que habitais agora. 5Não lhe deu aí propriedade alguma, nem mesmo um palmo de terra, mas prometeu-lhe a posse dela, a ele e, depois, à sua descendência, embora não tivesse sequer um filho. 6E Deus afirmou-lhe que a sua descendência habitaria em terra estranha, que a reduziriam à escravidão e que seria maltratada, durante quatrocentos anos. 7‘Mas o povo de quem forem escravos, hei-de Eu julgá-lo, disse Deus. Depois disso, hão-de sair e prestar-me culto neste lugar.’ 8Em seguida, deu-lhe a aliança da circuncisão. Foi assim que Abraão gerou Isaac e o circuncidou, ao oitavo dia. E Isaac fez o mesmo a Jacob, e Jacob aos doze patriarcas. 9Os patriarcas, invejosos de José, venderam-no, a fim de ser levado para o Egipto. Mas Deus estava com ele: 10livrou-o de todas as provas e deu-lhe graça e sabedoria diante do faraó, rei do Egipto, que o nomeou governador desse país e de toda a sua casa. 11Veio depois a fome sobre todo o Egipto e sobre Canaã. A angústia era grande e os nossos pais não encontravam nada para comer. 12Ouvindo dizer que no Egipto havia trigo, Jacob mandou lá os nossos pais, uma primeira vez. 13À segunda vez, José deu-se a conhecer a seus irmãos e sua origem foi revelada ao Faraó. 14José mandou então buscar seu pai Jacob e toda a sua parentela, composta de setenta e cinco pessoas. 15Jacob desceu ao Egipto e lá morreu, assim como os nossos pais. 16Os seus corpos foram trasladados para Siquém e depositados no sepulcro que Abraão adquirira, por uma importância em prata, aos filhos de Emor, em Siquém. 17Enquanto se aproximava o tempo em que deveria realizar-se a promessa feita por Deus a Abraão, o povo cresceu e multiplicou-se no Egipto, 18até que subiu ao trono do Egipto um novo rei, que não tinha conhecimento de José. 19Usando de astúcia para com a nossa raça, esse rei perseguiu os nossos pais, até ao ponto de os fazer expor os recém-nascidos, para os privar da vida. 20Nessa altura nasceu Moisés, que era agradável aos olhos de Deus. Foi criado durante três meses em casa de seu pai. 21Depois, tendo sido exposto, a filha do Faraó recolheu-o e criou-o como seu próprio filho. 22Moisés foi iniciado em toda a ciência dos egípcios, e era poderoso em palavras e obras. 23Quando completou os quarenta anos, veio-lhe ao espírito a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel. 24Ao ver um deles maltratado, tomou a sua defesa e vingou o oprimido, matando o egípcio. 25Pensava que os seus irmãos compreenderiam ser Deus quem, por sua mão, lhes trazia a liberdade, mas não o compreenderam. 26No dia seguinte, apareceu a dois deles que lutavam, e pretendeu reconciliá-los, dizendo: ‘Sendo irmãos, porque vos agredis um ao outro?’ 27Então, aquele que agredia o companheiro repeliu-o, dizendo: ‘Quem te nomeou nosso chefe e nosso juiz. 28Queres matar-me como ontem mataste o egípcio?’ 29A essas palavras, Moisés fugiu e foi residir, como estrangeiro, para a terra de Madian, onde teve dois filhos. 30Ao fim de quarenta anos, apareceu-lhe um Anjo no deserto do monte Sinai, na chama de uma sarça ardente. 31Perante essa aparição, Moisés ficou estupefacto e, aproximando-se para observar melhor, fez-se ouvir a voz do Senhor: 32‘Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob.’ A tremer, Moisés não ousava erguer os olhos. 33Então, o Senhor disse-lhe: ‘Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que te encontras é uma terra santa. 34Eu vi a angústia do meu povo no Egipto, ouvi os seus gemidos e desci para o libertar. E, agora, vem cá, pois vou mandar-te ao Egipto.’ 35Este Moisés, que eles renegaram, dizendo: ‘Quem te nomeou chefe e juiz’, é este que foi enviado por Deus como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu na sarça. 36Foi ele que os fez sair do Egipto, realizando prodígios e milagres na terra do Egipto, no Mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos. 37Foi ele, Moisés, quem disse aos filhos de Israel: ‘Deus fará surgir um profeta como eu, entre os vossos irmãos.’ 38Foi ele que, durante a assembleia no deserto, esteve entre o Anjo, que lhe falava no monte Sinai, e os nossos pais; foi ele que recebeu as palavras de vida, para no-las transmitir. 39Foi a ele que os nossos pais se recusaram a obedecer, antes o repeliram, voltando em seus corações ao Egipto 40e dizendo a Aarão: ‘Faz-nos deuses que marchem à nossa frente, pois desse Moisés que nos fez sair do Egipto, não sabemos o que foi feito dele.’ 41E, nesses dias, construíram um bezerro, ofereceram um sacrifício ao ídolo e festejaram alegremente a obra das suas próprias mãos. 42Deus, então, afastou-se deles e entregou-os ao culto do exército celeste, como está escrito no Livro dos Profetas:‘Oferecestes-me, porventura, vítimas e sacrifíciosdurante quarenta anos, no deserto, ó Casa de Israel? 43Vós transportastes a tenda de Moloce a estrela do deus Refan,imagens que fizestes para as adorar!Por isso, exilar-vos-ei para além da Babilónia.’ 44Os nossos pais tinham no deserto a tenda do testemunho, como ordenara aquele que disse a Moisés que a construísse de harmonia com o modelo por ele visto. 45Foi precisamente essa tenda que os nossos pais receberam e introduziram, sob o comando de Josué, no território conquistado aos povos que Deus expulsou na sua frente, e assim se manteve até aos dias de David. 46Este achou graça diante de Deus e pediu para edificar uma habitação ao Deus de Jacob. 47Foi, porém, Salomão quem lhe construiu uma casa. 48Mas o Altíssimo não habita em casas erguidas pela mão do homem, como diz o profeta: 49‘O Céu é o meu tronoe a Terra, estrado dos meus pés.Que casa me haveis de construir, diz o Senhor,e qual será o lugar do meu repouso? 50Não foi a minha mão que fez todas as coisas?’ 51Homens de cerviz dura, incircuncisos de coração e de ouvidos, sempre vos opondes ao Espírito Santo; como foram os vossos pais, assim sois vós também. 52Qual foi o profeta que os vossos pais não tenham perseguido? Mataram os que predisseram a vinda do Justo, a quem traístes e assassinastes, 53vós, que recebestes a Lei pelo ministério dos anjos, mas não a guardastes!»
Martírio de Estêvão - 54Ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. 55Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. 56«Olhai, disse ele, eu vejo o Céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.» 57Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele 58e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo.As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. 59E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» 60Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: «Senhor, não lhes atribuas este pecado.» Dito isto, adormeceu.

8 Saulo, o perseguidor - 1Saulo aprovava também essa morte. No mesmo dia, uma terrível perseguição caiu sobre a igreja de Jerusalém. À excepção dos Apóstolos, todos se dispersaram pelas terras da Judeia e da Samaria. 2Entretanto, homens piedosos sepultaram Estêvão e fizeram por ele grandes lamentações. 3Quanto a Saulo, devastava a Igreja: ia de casa em casa, arrastava homens e mulheres e entregava-os à prisão.

Filipe leva o Evangelho à Samaria - 4Os que tinham sido dispersos foram de aldeia em aldeia, anunciando a palavra da Boa-Nova. 5Foi assim que Filipe desceu a uma cidade da Samaria e aí começou a pregar Cristo. 6Ao ouvi-lo falar e ao vê-lo realizar milagres, as multidões aderiam unanimemente à pregação de Filipe. 7De facto, de muitos possessos saíam espíritos malignos, soltando grandes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. 8E houve grande alegria naquela cidade. 9Encontrava-se na cidade um homem chamado Simão, que praticava a magia e assombrava o povo de Samaria, dizendo ser ele próprio algo de grande. 10Do mais pequeno ao maior, todos acreditavam nele. «Este homem, diziam, é a Força de Deus, chamada a grande.» 11Acreditavam nele porque, havia bastante tempo, tinham-se deixado entusiasmar pelas suas habilidades mágicas. 12Mas, quando acreditaram em Filipe, que lhes anunciava a Boa-Nova do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, homens e mulheres começaram a receber o baptismo. 13O próprio Simão também acreditou e, depois de baptizado, andava sempre com Filipe; e, ao ver os grandes milagres e portentos que ele fazia, ficava assombrado.

Pedro e João na Samaria - 14Quando os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tiveram conhecimento de que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. 15Estes desceram até lá e oraram pelos samaritanos para eles receberem o Espírito Santo. 16Na verdade, não descera ainda sobre nenhum deles, pois tinham apenas recebido o baptismo em nome do Senhor Jesus. 17Pedro e João iam, então, impondo as mãos sobre eles, e recebiam o Espírito Santo. 18Ao ver que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos dos Apóstolos, Simão ofereceu-lhes dinheiro, 19dizendo: «Dai-me também a mim esse poder, para que aquele a quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo.» 20Mas Pedro replicou: «Vá contigo o teu dinheiro para a perdição, pois julgaste comprar o Dom de Deus com dinheiro. 21Neste assunto, não tens parte, nem herança, pois o teu coração não é recto diante de Deus. 22Arrepende-te, portanto, da tua má intenção e roga ao Senhor que te perdoe - se for possível - o projecto do teu coração. 23Vejo-te, efectivamente, a transbordar de fel e nos laços da iniquidade.» 24Simão respondeu: «Intercedei vós mesmos por mim junto do Senhor, para que não me aconteça nada do que acabais de dizer.» 25Quanto aos Apóstolos, depois de terem dado o seu testemunho eanunciado a palavra do Senhor, regressaram a Jerusalém, proclamando a Boa-Nova a muitas aldeias da Samaria.

Filipe e o eunuco etíope - 26O Anjo do Senhor falou a Filipe e disse-lhe: «Põe-te a caminho e dirige-te para o Sul, pela estrada que desce de Jerusalém para Gaza, a qual se encontra deserta.» 27Ele pôs-se a caminho e foi para lá. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros, que tinha ido em peregrinação a Jerusalém, 28regressava, na mesma altura, sentado no seu carro, a ler o profeta Isaías. 29O Espírito disse a Filipe: «Vai e acompanha aquele carro.» 30Filipe, acorrendo, ouviu o etíope a ler o profeta Isaías e perguntou-lhe: «Compreendes, verdadeiramente, o que estás a ler?» 31Respondeu ele: «E como poderei compreender, sem alguém que me oriente?» E convidou Filipe a subir e a sentar-se junto dele. 32A passagem da Escritura que ele estava a ler era a seguinte:Como ovelha levada ao matadouro,e como cordeiro sem voz diante daquele que o tosquia,assim Ele não abre a sua boca. 33Na humilhação se consumou o seu julgamento,e quem poderá contar a sua geração?Da face da terra foi tirada a sua vida! 34Dirigindo-se a Filipe, o eunuco disse-lhe: «Peço-te que me digas: De quem fala o profeta? De si mesmo ou de outra pessoa?» 35Então, Filipe tomou a palavra e, partindo desta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Boa-Nova de Jesus. 36Pelo caminho fora, encontraram uma nascente de água, e o eunuco disse: «Está ali água! Que me impede de ser baptizado?» 37Filipe respondeu: «Se acreditas com todo o coração, isso é possível.» O eunuco respondeu: «Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.» 38E mandou parar o carro. Ambos desceram à água, Filipe e o eunuco, e Filipe baptizou-o. 39Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe e o eunuco não o viu mais, seguindo o seu caminho cheio de alegria. 40Filipe encontrou-se em Azoto e, partindo dali, foi anunciando a Boa-Nova a todas as cidades, até que chegou a Cesareia.

9 Conversão de Saulo - 1Saulo, entretanto, respirando sempre ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, foi ter com o Sumo Sacerdote 2e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta Via, os trouxesse algemados para Jerusalém. 3Estava a caminho e já próximo de Damasco, quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu. 4Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» 5Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. 6Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.» 7Os seus companheiros de viagem tinham-se detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas sem verem ninguém. 8Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, 9onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber. 10Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor disse-lhe numa visão: «Ananias!» Respondeu: «Aqui estou, Senhor.» 11O Senhor prosseguiu: «Levanta-te, vai à casa de Judas, na rua Direita, e pergunta por um homem chamado Saulo de Tarso, que está a orar neste momento.» 12Saulo, entretanto, viu numa visão um homem, de nome Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. 13Ananias respondeu: «Senhor, tenho ouvido muita gente falar desse homem e a contar todo o mal que ele tem feito aos teus santos, em Jerusalém. 14E agora está aqui com plenos poderes dos sumos sacerdotes, para prender todos quantos invocam o teu nome.» 15Mas o Senhor disse-lhe: «Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos, os reis e os filhos de Israel. 16Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome.» 17Então, Ananias partiu, entrou na dita casa, impôs as mãos sobre ele e disse: «Saulo, meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo.» 18Nesse instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o baptismo.

Saulo em Damasco - 19Depois de se ter alimentado, voltaram-lhe as forças e passou alguns dias com os discípulos, em Damasco. 20Começou, então, imediatamente, a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus. 21Os que o ouviam ficavam estupefactos e diziam: «Não era ele que, em Jerusalém, perseguia aqueles que invocam o nome de Jesus? Não tinha ele vindo aqui expressamente para os levar, presos, aos sumos sacerdotes?» 22Mas Saulo fortalecia-se cada vez mais e confundia os judeus de Damasco, demonstrando-lhes que Jesus era o Messias. 23Passado muito tempo, os judeus combinaram matá-lo, 24mas Saulo foi avisado das suas intenções. Até as portas da cidade eram guardadas, noite e dia, com o fim de o matarem. 25Então os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha abaixo, dentro de um cesto.

Saulo em Jerusalém - 26Chegado a Jerusalém, Saulo procurava reunir-se aos discípulos, mas todos tinham medo dele, não querendo acreditar que fosse um discípulo. 27Barnabé tomou-o, então, consigo, levou-o aos Apóstolos e contou-lhes como ele, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe falara, e com que coragem ele anunciara o nome de Jesus em Damasco. 28A partir desse dia, ficou com eles, indo e vindo por Jerusalém e confessando corajosamente o nome do Senhor. 29Dirigia-se também aos helenistas e discutia com eles, mas estes planeavam a sua morte. 30Os irmãos, porém, ao saberem disto, levaram-no para Cesareia e fizeram-no seguir para Tarso.
Pedro cura um paralítico - 31Entretanto, a Igreja gozava de paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, crescia como um edifício e caminhava no temor do Senhor e, com a assistência do Espírito Santo, ia aumentando. 32Pedro, que andava por toda a parte, desceu também até junto dos santos que habitavam em Lida. 33Encontrou lá, estendido num catre, havia oito anos, um homem chamado Eneias, que era paralítico. 34Pedro disse-lhe: «Eneias, Jesus Cristo vai curar-te! Levanta-te e arranja a enxerga.» E ele ergueu-se imediatamente. 35Todos os habitantes de Lida e da planície de Saron viram isso e converteram-se ao Senhor.

Ressurreição de Tabitá - 36Havia em Jope, entre os discípulos, uma mulher chamada Tabitá, que significa «Gazela.» Era rica em boas obras e nas esmolas que distribuía. 37Ora, nesses dias, caiu doente e morreu. Depois de a terem lavado, depositaram-na na sala de cima. 38Como Lida era perto de Jope e ouvindo os discípulos dizer que Pedro estava lá, mandaram-lhe dois homens com o seguinte pedido: «Vem depressa ter connosco!» 39Pedro partiu imediatamente com eles. Logo que chegou, levaram-no à sala de cima e encontrou lá todas as viúvas, que choravam e lhe mostravam as túnicas e mantos feitos por Dórcada, enquanto ela estava na sua companhia. 40Pedro mandou sair toda a gente, pôs-se de joelhos e orou. Voltando-se depois para o corpo, disse: «Tabitá, levanta-te!» Ela abriu os olhos e, ao ver Pedro, sentou-se. 41Tomando-a pela mão, Pedro ajudou-a a erguer-se. Chamando então os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. 42Toda a cidade de Jope soube deste acontecimento e muitos acreditaram no Senhor. 43Pedro ficou em Jope bastante tempo ainda, em casa de um curtidor chamado Simão.

10 Visão de Cornélio em Cesareia - 1Havia em Cesareia um homem de nome Cornélio, centurião da coorte itálica. 2Piedoso e temente a Deus, como aliás toda a sua casa, dava largas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus. 3Teve uma visão, cerca das três horas da tarde, e viu distintamente o Anjo de Deus entrar, aproximar-se dele e dizer-lhe: «Cornélio!» 4Fitando nele os olhos, cheio de medo, respondeu: «Que é, Senhor?» Respondeu o Anjo: «As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus, e Ele recordou-se de ti. 5E agora, envia homens a Jope e manda chamar um certo Simão, conhecido por Pedro. 6Está hospedado em casa de um curtidor chamado Simão, cuja casa fica à beira-mar.» 7Quando o Anjo se retirou, depois de lhe falar, Cornélio chamou dois dos seus servos e um soldado piedoso, dos que lhe eram pessoalmente dedicados, 8explicou-lhes tudo e mandou-os a Jope.

Visão de Pedro em Jope - 9No dia seguinte, enquanto eles iam a caminho e se aproximavam da cidade, Pedro subiu ao terraço para a oração do meio-dia. 10Então, sentiu fome e quis comer alguma coisa. Enquanto lhe preparavam de comer, foi arrebatado em êxtase. 11Viu o Céu aberto e um objecto, como uma grande toalha atada pelas quatro pontas, a descer para a terra. 12Estava cheia de todos os quadrúpedes e répteis da terra e de todas as aves do céu. 13E uma voz dizia-lhe: «Vamos, Pedro, mata e come.» 14Mas Pedro retorquiu: «De modo algum, Senhor! Nunca comi nada de profano nem de impuro.» 15E a voz falou-lhe novamente, pela segunda vez: «O que foi purificado por Deus não o consideres tu impuro.» 16Isto repetiu-se por três vezes e, imediatamente, o objecto foi levado para o Céu. 17Atónito, Pedro perguntava a si próprio o que poderia significar a visão que acabara de ter, quando os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado pela casa de Simão, se apresentaram à porta. 18Chamaram e indagaram se era ali que se encontrava hospedado Simão, cujo sobrenome era Pedro. 19E, como Pedro estava ainda a reflectir sobre a visão, o Espírito disse-lhe: «Estão aí três homens a procurar-te. 20Ergue-te, desce e parte com eles sem qualquer hesitação, porque fui Eu que os mandei cá.» 21Pedro desceu, foi ter com os homens e disse: «Sou eu quem procurais. Qual o motivo da vossa vinda?» 22Responderam: «O centurião Cornélio, homem justo e temente a Deus, do qual todo o povo judeu dá bom testemunho, foi avisado por um anjo para te mandar chamar a sua casa e para ouvir as palavras que tens a dizer-lhe.» 23Então Pedro mandou-os entrar e deu-lhes hospedagem.No dia seguinte, levantando-se, partiu com eles, e alguns irmãos de Jope acompanharam-no. 24Chegou a Cesareia, um dia depois. Cornélio estava à espera deles com os seus parentes e amigos íntimos, que tinha reunido. 25Na altura em que Pedro entrava, Cornélio foi ao seu encontro e, caindo-lhe aos pés, prostrou-se. 26Mas Pedro levantou-o, dizendo: «Levanta-te, que eu também sou apenas um homem.» 27E, a conversar com ele, foi para dentro, encontrando muitas pessoas reunidas. 28Pedro disse-lhes: «Vós sabeis que não é permitido a um judeu ter contacto com um estrangeiro, ou entrar em sua casa. Mas Deus mostrou-me que não se deve chamar profano ou impuro a homem algum. 29Por isso, não opus qualquer dificuldade ao vosso convite. Peço-vos apenas que me digais o motivo por que me mandastes chamar.» 30Cornélio respondeu: «Faz hoje três dias, a esta mesma hora, estava eu em minha casa a fazer a oração das três horas da tarde, quando surgiu de repente um homem com uns trajes resplandecentes, diante de mim, 31e me disse: ‘Cornélio, a tua oração foi atendida e as tuas esmolas foram recordadas diante de Deus. 32Envia, pois, emissários a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro. Está hospedado em casa de Simão, curtidor, junto ao mar.’ 33Mandei-te imediatamente chamar e agradeço-te teres vindo. E, agora, estamos todos na tua presença para ouvirmos o que Deus te ordenou.»

Discurso de Pedro em casa de Cornélio - 34Então, Pedro tomou a palavra e disse: «Reconheço, na verdade, que Deus não faz acepção de pessoas, 35mas que, em qualquer povo, quem o teme e põe em prática a justiça, lhe é agradável. 36Enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a Boa-Nova da paz, por Jesus Cristo, Ele que é o Senhor de todos. 37Sabeis o que ocorreu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: 38como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré, o qual andou de lugar em lugar, fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele. 39E nós somos testemunhas do que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém.A Ele, que mataram, suspendendo-o de um madeiro, 40Deus ressuscitou-o, ao terceiro dia, e permitiu-lhe manifestar-se, 41não a todo o povo, mas às testemunhas anteriormente designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois da sua ressurreição dos mortos. 42E mandou-nos pregar ao povo e confirmar que Ele é que foi constituído, por Deus, juiz dos vivos e dos mortos. 43É dele que todos os profetas dão testemunho: quem acredita nele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados.»

Baptismo dos primeiros pagãos - 44Pedro estava ainda a falar, quando o Espírito Santo desceu sobre quantos ouviam a palavra. 45E todos os fiéis circuncisos que tinham vindo com Pedro ficaram estupefactos, ao verem que o dom do Espírito Santo fora derramado também sobre os pagãos, 46pois ouviam-nos falar línguas e glorificar a Deus. Pedro, então, declarou: 47«Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo, como nós?» 48E ordenou que fossem baptizados em nome de Jesus Cristo. Então eles pediram-lhe que ficasse alguns dias com eles.

11 Pedro justifica o seu procedimento - 1Os Apóstolos e os irmãos da Judeia ouviram, entretanto, dizer que também os pagãos tinham recebido a palavra de Deus. 2E, quando Pedro subiu a Jerusalém, os circuncisos começaram a censurá-lo, 3dizendo-lhe: «Tu entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles.» 4Pedro expôs-lhes, então, o caso, do princípio ao fim, dizendo: 5«Estava eu em oração na cidade de Jope quando, em êxtase, tive uma visão: um objecto semelhante a uma grande toalha, descia do céu, preso pelas quatro pontas, e chegou até junto de mim. 6Fitando os olhos nele, pus-me a observar e vi os quadrúpedes da terra, os animais ferozes, os répteis e as aves do céu. 7Ouvi também uma voz que me dizia: ‘Vamos, Pedro, mata e come.’ 8Mas eu respondi: ‘De modo algum, Senhor! Nunca entrou na minha boca nada de profano ou impuro!’ 9A voz fez-se ouvir do Céu, pela segunda vez: ‘O que Deus purificou não o consideres tu impuro.’ 10Isto repetiu-se três vezes; depois, tudo foi novamente elevado ao Céu. 11Nesse instante, apresentaram-se três homens na casa em que estávamos, enviados de Cesareia à minha presença. 12O Espírito disse-me que os acompanhasse, sem hesitar. Vieram também comigo os seis irmãos, aqui presentes, e entrámos em casa do homem. 13Ele contou-nos que tinha visto um anjo apresentar-se em sua casa, dizendo-lhe: ‘Envia alguém a Jope e manda chamar Simão, cujo sobrenome é Pedro; 14ele dir-te-á palavras que te hão-de trazer a salvação, a ti e a toda a tua casa.’ 15Ora, quando principiei a falar, o Espírito Santo desceu sobre eles, como sobre nós, ao princípio. 16Recordei-me, então, da palavra do Senhor, quando Ele dizia: ‘João baptizou em água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo.’ 17Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós, por terem acreditado no Senhor Jesus Cristo, quem era eu para me opor a Deus?» 18Estas palavras apaziguaram-nos, e eles deram glória a Deus, dizendo: «Deus também concedeu aos pagãos o arrependimento que conduz à Vida!»

Fundação da igreja de Antioquia - 19Entretanto, os que se tinham dispersado, devido à perseguição desencadeada por causa de Estêvão, adiantaram-se até à Fenícia, Chipre e Antioquia, mas não anunciavam a palavra senão aos judeus. 20Houve, porém, alguns deles, homens de Chipre e Cirene que, chegando a Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando-lhes a Boa-Nova do Senhor Jesus. 21A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que abraçaram a fé e se converteram ao Senhor. 22A notícia chegou aos ouvidos da igreja de Jerusalém, e mandaram Barnabé a Antioquia. 23Assim que ele chegou e viu a graça concedida por Deus, regozijou-se com isso e exortou-os a todos a que se conservassem unidos ao Senhor, de coração firme; 24ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. Assim, uma grande multidão aderiu ao Senhor. 25Então, Barnabé foi a Tarso procurar Saulo. 26Encontrou-o e levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, mantiveram-se juntos nesta igreja e ensinaram muita gente. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de «cristãos.»

Caridade dos primeiros cristãos - 27Nesses dias, uns profetas desceram de Jerusalém a Antioquia. 28Um deles, chamado Agabo, ergueu-se e, sob a inspiração do Espírito, predisse que haveria uma grande fome por toda a terra. Foi a que sobreveio no reinado de Cláudio. 29Os discípulos, cada qual segundo as suas posses, resolveram então enviar socorros aos irmãos da Judeia, 30o que fizeram, mandando-os aos anciãos, por intermédio de Barnabé e de Saulo.

12 Execução de Tiago. Prisão de Pedro - 1Por esse tempo, o rei Herodes maltratou alguns membros da Igreja. 2Mandou matar à espada Tiago, irmão de João, 3e, vendo que tal procedimento agradara aos judeus, mandou também prender Pedro. Decorriam os dias dos Ázimos. 4Depois de o mandar prender, meteu-o na prisão, entregando-o à guarda de quatro piquetes, de quatro soldados cada um, na intenção de o fazer comparecer perante o povo, a seguir à Páscoa. 5Enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele. 6Na noite anterior ao dia em que Herodes contava fazê-lo comparecer, Pedro estava a dormir entre dois soldados, bem preso por duas correntes, e diante da porta estavam sentinelas de guarda à prisão. 7De repente, apareceu o Anjo do Senhor e a masmorra foi inundada de luz. O anjo despertou Pedro, tocando-lhe no lado e disse-lhe: «Ergue-te depressa!» E as correntes caíram-lhe das mãos. 8O anjo prosseguiu: «Põe o cinto e calça as sandálias.» Pedro assim fez. Depois, disse-lhe: «Cobre-te com a capa e segue-me.» 9Pedro saiu e seguiu-o. Não se dava conta da realidade da intervenção do anjo, pois julgava que era uma visão. 10Depois de atravessarem o primeiro e o segundo posto da guarda, chegaram à porta de ferro que dá para a cidade, a qual se abriu por si mesma. Saíram, avançando por uma rua, e logo o anjo se retirou de junto dele. 11Pedro, voltando a si, exclamou: «Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo e me arrancou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava.» 12E, depois de reflectir, dirigiu-se a casa de Maria, mãe de João, de sobrenome Marcos, onde numerosos fiéis estavam reunidos a orar. 13Bateu à porta da entrada, e uma serva chamada Rode veio atender. 14Reconheceu a voz de Pedro e, com alegria, em vez de abrir, correu a anunciar que Pedro se encontrava em frente da porta. 15«Estás louca!» disseram eles. Como ela afirmava, sem hesitar, que era verdade, disseram: «É o seu anjo.» 16Pedro, entretanto, continuava a bater à porta. Eles abriram e, ao vê-lo, ficaram estupefactos. 17Fazendo-lhes sinal com a mão para se calarem, contou-lhes como o Senhor o tinha tirado da prisão e acrescentou: «Mandai dizer tudo isto a Tiago e aos irmãos.» Depois, retirou-se dali e foi para outro lugar. 18Ao romper do dia, grande foi o alvoroço entre os soldados. Que seria feito de Pedro? 19Como Herodes o tivesse mandado buscar e não o encontrassem, submeteu os guardas a um interrogatório e mandou-os matar. Herodes deixou, em seguida, a Judeia, desceu para Cesareia e por ali se demorou.

Morte de Agripa - 20Herodes estava furioso com os habitantes de Tiro e de Sídon. Estes, de comum acordo, apresentaram-se diante dele e, depois de terem ganhado Blasto, camareiro do rei, à sua causa, pediram a paz, porque o seu país era abastecido pelo rei. 21No dia aprazado, Herodes, revestido com um traje real e sentado na tribuna, dirigiu-lhes um grande discurso. 22E o povo gritava: «É um deus que fala, não é um homem!» 23Mas, no mesmo instante, o Anjo do Senhor feriu Herodes, por não ter dado glória a Deus. E, roído pelos vermes, expirou. 24Entretanto, a palavra de Deus crescia e multiplicava-se. 25Barnabé e Saulo, depois de terem cumprido a sua missão, regressaram de Jerusalém, levando consigo João, de sobrenome Marcos.

III. MISSÕES DE PAULO (13,1-28,31)
1.ª Viagem Missionária: 13,1-14,28
13 Barnabé e Saulo em missão - 1Havia na igreja, estabelecida em Antioquia, profetas e doutores: Barnabé, Simeão, chamado ‘Níger’, Lúcio de Cirene, Manaen, companheiro de infância do tetrarca Herodes, e Saulo. 2Estando eles a celebrar o culto em honra do Senhor e a jejuar, disse-lhes o Espírito Santo: «Separai Barnabé e Saulo para o trabalho a que Eu os chamei.» 3Então, depois de terem jejuado e orado, impuseram-lhes as mãos e deixaram-nos partir.
Evangelização de Chipre - 4Enviados, pois, pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e ali meteram-se num barco, rumo à ilha de Chipre. 5Chegados que foram a Salamina, começaram a anunciar a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Tinham também João como auxiliar. 6Percorreram toda a ilha até Pafos e encontraram lá um mago, falso profeta, judeu, chamado Barjesus, 7que estava ao serviço do procônsul Sérgio Paulo, homem ponderado. Este mandou chamar Barnabé e Saulo, desejoso de ouvir a palavra de Deus. 8Mas o mago Elimas - assim se traduz o seu nome - opôs-se-lhe, procurando desviar da fé o procônsul. 9Então Saulo - também chamado Paulo - cheio do Espírito Santo, fitou nele os olhos 10e disse-lhe: «Ó criatura, cheia de todas as astúcias e de toda a iniquidade, filho do diabo, inimigo de toda a justiça, quando é que cessarás de perverter os rectos caminhos do Senhor? 11Mas agora a mão do Senhor está sobre ti: vais ficar cego e, durante algum tempo, não hás-de ver o sol.» No mesmo instante, caíram sobre ele o nevoeiro e as trevas e, voltando-se para todos os lados, procurava alguém que o guiasse pela mão. 12Vendo, então, o que se tinha passado, o procônsul abraçou a fé, vivamente impressionado com a doutrina do Senhor.

O Evangelho na Ásia Menor - 13De Pafos, onde embarcaram Paulo e os companheiros, dirigiram-se a Perga da Panfília. João, porém, separando-se deles, voltou para Jerusalém. 14Quanto àqueles, deixaram Perga e, caminhando sempre, chegaram a Antioquia da Pisídia.A um sábado, entraram na sinagoga e sentaram-se. 15Depois da leitura da Lei e dos Profetas, os chefes da sinagoga mandaram-lhes dizer: «Irmãos, se tiverdes alguma exortação a dirigir ao povo, falai.»

Discurso de Paulo em Antioquia da Pisídia - 16Então, Paulo, levantando-se, fez sinal com a mão e disse:«Homens de Israel e vós os tementes a Deus, escutai: 17O Deus deste povo, o Deus de Israel, escolheu os nossos pais e engrandeceu este povo durante a sua permanência no Egipto. Depois, com a força do seu braço, retirou-o de lá 18e, durante uns quarenta anos, sustentou-o no deserto. 19A seguir, exterminando sete nações na terra de Canaã, conferiu-lhes a posse do seu território, 20por cerca de quatrocentos e cinquenta anos. Depois disso, deu-lhes juízes até ao profeta Samuel. 21Em seguida, pediram um rei, e Deus concedeu-lhes, durante quarenta anos, Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim. 22Pondo este de parte, Deus elevou David como rei, e a seu respeito deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.’ 23Da sua descendência, segundo a sua promessa, Deus proporcionou a Israel um Salvador, que é Jesus. 24João preparou a sua vinda, anunciando um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Quase a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas vem, depois de mim, alguém cujas sandálias não sou digno de desatar.’ 26Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que de entre vós são tementes a Deus, a nós é que foi dirigida a palavra de salvação. 27Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém e os seus chefes não quiseram reconhecer Jesus, mas, condenando-o, cumpriram, sem disso se aperceberem, as profecias que são lidas todos os sábados. 28Embora não tivessem encontrado nele motivo algum de morte, exigiram a Pilatos que o mandasse matar. 29Quando cumpriram tudo o que acerca dele estava escrito, desceram-no do madeiro e sepultaram-no. 30Mas Deus ressuscitou-o dos mortos 31e, durante muitos dias, apareceu aos que tinham subido com Ele da Galileia a Jerusalém, os quais são agora suas testemunhas diante do povo. 32E nós estamos aqui para vos anunciar a Boa-Nova de que a promessa feita a nossos pais, 33Deus a cumpriu em nosso benefício, para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no Salmo segundo:Tu és meu filho, Eu hoje te gerei! 34Que Deus o ressuscitou dos mortos para não mais voltar à corrupção, disse-o Ele deste modo:Dar-vos-ei as coisas santas de David,que são verdadeiras. 35Por isso, diz noutra passagem:Não deixarás o teu Santo ver a corrupção. 36Ora David, depois de servir em sua vida os desígnios de Deus, morreu; foi reunir-se a seus pais e viu a corrupção. 37Mas aquele que Deus ressuscitou não viu a corrupção. 38Ficai sabendo, irmãos, que por seu intermédio é que vos é anunciada a remissão dos pecados. A justificação completa que não pudestes obter pela Lei de Moisés, 39obtê-la-á por meio dele todo aquele que crê. 40Tende, pois, cautela, para que vos não aconteça o que se diz nos profetas: 41Olhai, vós, os desdenhosos,admirai-vos e desaparecei!Porque Eu vou fazer uma obra em vossos dias,obra em que não acreditaríeis,se alguém vo-la contasse.» 42À saída, pediram-lhe que falasse do mesmo assunto no sábado seguinte. 43Depois da reunião, muitos judeus e prosélitos piedosos seguiam Paulo e Barnabé, os quais, nas suas conversas com eles, os exortavam a perseverar na graça de Deus.

Paulo e Barnabé dirigem-se aos pagãos - 44No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. 45A presença da multidão encheu os judeus de inveja, e responderam com blasfémias ao que Paulo dizia. 46Então, desassombradamente, Paulo e Barnabé afirmaram:«Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos, 47pois assim nos ordenou o Senhor:Estabeleci-te como luz dos povos,para levares a salvaçãoaté aos confins da Terra.» 48Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor; e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé. 49Assim, a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região. 50Mas os judeus incitaram as senhoras devotas mais distintas e os de maior categoria da cidade, desencadeando uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e expulsaram-nos do seu território. 51Estes, sacudindo contra eles o pó dos pés, foram para Icónio. 52Quanto aos discípulos, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.

14 Paulo e Barnabé em Icónio - 1Em Icónio, Paulo e Barnabé entraram igualmente na sinagoga dos judeus e falaram de tal maneira que uma grande multidão de judeus e de gregos abraçou a fé. 2Mas os judeus que não acreditaram instigaram e indispuseram os pagãos contra os irmãos. 3Apesar disso, Paulo e Barnabé demoraram-se por lá bastante tempo, absolutamente confiados no Senhor, que dava testemunho à palavra da sua graça, concedendo que se fizessem milagres e prodígios pelas mãos deles. 4A população da cidade dividiu-se: uns eram pelos judeus e outros pelos Apóstolos. 5Entre os pagãos e os judeus, conduzidos pelos respectivos chefes, levantou-se um movimento para os maltratar e apedrejar. 6Logo que tiveram conhecimento disso, refugiaram-se nas cidades da Licaónia, Listra e Derbe, e arredores, 7onde começaram a anunciar a Boa-Nova.

Em Listra. Cura de um coxo - 8Havia em Listra um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado. 9Um dia, ouviu Paulo falar. Este, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado, 10disse-lhe em voz alta: «Ergue-te, direito sobre os teus pés!» Ele deu um salto e começou a andar. 11Ao ver o que Paulo acabava de fazer, a multidão gritou em licaónio: «Os deuses tomaram forma humana e desceram até nós!» 12E chamavam Zeus a Barnabé, e Hermes a Paulo, pois este é que lhes dirigia a palavra. 13Então, o sacerdote do templo de Zeus, venerado junto da cidade, trazendo touros e grinaldas para as portas da cidade, pretendia, juntamente com a multidão, oferecer-lhes um sacrifício. 14Ao terem conhecimento disso, os Apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as vestes e precipitaram-se para a multidão, gritando: 15«Amigos, que fazeis? Também nós somos homens da mesma condição que vós, homens que vos anunciam a Boa-Nova de que deveis abandonar os ídolos vãos e voltar-vos para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles se encontra. 16Nas gerações passadas, permitiu que todos os povos seguissem os seus próprios caminhos, 17mas nem por isso deixou de dar testemunho da sua generosidade, dispensando-vos do céu chuvas e estações de fertilidade, enchendo os vossos corações de alimento e de felicidade.» 18Mesmo depois de terem assim falado, foi a custo que impediram a multidão de lhes oferecer um sacrifício. 19Apareceram, então, vindos de Antioquia e de Icónio, alguns judeus que aliciaram o povo, apedrejaram Paulo e, julgando-o morto, arrastaram-no para fora da cidade. 20Mas, como os discípulos o tivessem rodeado, ele ergueu-se e voltou para a cidade. No dia seguinte, partiu para Derbe com Barnabé.
Regresso a Antioquia da Síria - 21Depois de terem anunciado a Boa-Nova àquela cidade e de terem feito numerosos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icónio e Antioquia. 22Fortaleciam a alma dos discípulos, encorajavam-nos a manterem-se firmes na fé, porque, diziam eles: «Temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus.» 23Depois de lhes terem constituído anciãos em cada igreja, pela imposição das mãos, e de terem feito orações acompanhadas de jejum, recomendaram-nos ao Senhor, em quem tinham acreditado. 24A seguir, atravessaram a Pisídia, chegaram à Panfília e, 25depois de anunciarem a palavra em Perga, desceram a Atália. 26De lá, foram de barco para Antioquia, de onde tinham partido, confiados na graça de Deus, para o trabalho que agora acabavam de realizar. 27Assim que chegaram, reuniram a igreja e contaram tudo o que Deus fizera com eles, e como abrira aos pagãos a porta da fé. 28E demoraram-se bastante tempo com os discípulos.

15 Controvérsia sobre a Lei de Moisés - 1Alguns que tinham descido da Judeia ensinavam aos irmãos: «Se não vos circuncidardes, de harmonia com o uso herdado de Moisés, não podereis ser salvos.» 2Depois de muita confusão e de uma controvérsia bastante viva de Paulo e Barnabé contra eles, foi resolvido que Paulo, Barnabé e mais alguns outros subissem a Jerusalém para consultarem, sobre esta questão, os Apóstolos e os Anciãos. 3Então, depois de despedidos pela igreja, atravessaram a Fenícia e a Samaria, relatando a conversão dos pagãos, o que causava imensa alegria a todos os irmãos. 4Chegados a Jerusalém, foram recebidos pela igreja, pelos Apóstolos e Anciãos e contaram tudo o que Deus fizera com eles. 5Levantaram-se alguns do partido dos fariseus, que tinham abraçado a fé, dizendo que era preciso circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés. 6Os Apóstolos e os Anciãos reuniram-se para examinarem a questão.

Discurso de Pedro - 7Depois de longa discussão, Pedro ergueu-se e disse-lhes:«Irmãos, sabeis que Deus me escolheu, desde os primeiros dias, para que os pagãos ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e abraçassem a fé. 8E Deus, que conhece os corações, testemunhou a favor deles, concedendo-lhes o Espírito Santo como a nós. 9Não fez qualquer distinção entre eles e nós, visto ter purificado os seus corações pela fé. 10Porque tentais agora a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem os nossos pais nem nós tivemos força para levar? 11Além disso, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos que seremos salvos, exactamente como eles.» 12Toda a assembleia ficou em silêncio e se pôs a ouvir Barnabé e Paulo a descrever os milagres e prodígios que Deus realizara entre os pagãos, por intermédio deles.

Discurso de Tiago - 13Quando acabaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse:«Irmãos, escutai-me. 14Simão contou como Deus, desde o princípio, se dignou intervir para tirar de entre os pagãos um povo que fosse consagrado ao seu nome. 15E com isto concordaram as palavras dos profetas, conforme está escrito: 16Depois disto, hei-de voltara reconstruir a tenda de David, que estava caída;reconstruirei as suas ruínase erguê-la-ei de novo, 17a fim de que o resto dos homens procure o Senhor,bem como todos os povosque foram consagrados ao meu nome- diz o Senhor, que dá a conhecer 18 estas coisas desde a eternidade. 19Por isso, sou de opinião que não se devem importunar os pagãos convertidos a Deus. 20Que se lhes diga apenas para se absterem de tudo quanto foi conspurcado pelos ídolos, da imoralidade, das carnes sufocadas e do sangue. 21Desde os tempos antigos, Moisés tem em cada cidade os seus pregadores e é lido todos os sábados nas sinagogas.»

Carta apostólica - 22Então, os Apóstolos e os Anciãos, de acordo com toda a Igreja, resolveram escolher alguns de entre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e Barnabé. Foram Judas, chamado Barsabas, e Silas, homens respeitados entre os irmãos. 23E mandaram a seguinte carta por intermédio deles:«Os Apóstolos e os Anciãos, vossos irmãos, aos irmãos de origem pagã residentes em Antioquia, na Síria e na Cilícia, saudações! 24Tendo conhecimento de que, sem autorização da nossa parte, alguns dos nossos vos foram inquietar, perturbando as vossas almas com as suas palavras, 25resolvemos, de comum acordo, escolher delegados e enviar-vo-los com os nossos queridos Barnabé e Paulo, 26homens estes que expuseram as suas vidas pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. 27Enviamos, pois, Judas e Silas, que vos transmitirão verbalmente as mesmas coisas. 28O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis: 29abster-vos de carnes imoladas a ídolos, do sangue, de carnes sufocadas e da imoralidade. Procedereis bem, abstendo-vos destas coisas. Adeus.» 30Eles, então, depois de se despedirem, desceram a Antioquia e, reunindo a assembleia, entregaram a carta. 31Depois de a lerem, todos ficaram satisfeitos com o encorajamento que lhes trazia. 32Judas e Silas, que também eram profetas, exortaram e fortaleceram os irmãos com um longo discurso. 33Ao fim de algum tempo, receberam dos irmãos a paz da despedida, regressando para junto dos que os tinham enviado. 34Silas, porém, resolveu ficar ali, e Judas partiu sozinho para Jerusalém.

2.ª Viagem Missionária: 15,35-18,22
Desacordo entre Paulo e Barnabé - 35Paulo e Barnabé ficaram em Antioquia, ensinando e anunciando, com muitos outros, a Boa-Nova da palavra do Senhor. 36Passados alguns dias, Paulo disse a Barnabé: «Voltemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que anunciámos a palavra do Senhor, para ver como estão.» 37Barnabé queria também levar João, chamado Marcos. 38Mas Paulo não era de parecer que se levasse por companheiro quem deles se tinha afastado na Panfília e não os tinha acompanhado no trabalho. 39Seguiu-se uma discussão tão violenta que se separaram um do outro e Barnabé tomou Marcos consigo, embarcando para Chipre. 40Por seu turno, Paulo escolheu Silas por companheiro e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor. 41Atravessou a Síria e a Cilícia, fortalecendo as igrejas.

16 Paulo e Silas na Macedónia - 1Paulo chegou em seguida a Derbe e, depois, a Listra.Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente e de pai grego, 2que era muito estimado pelos irmãos de Listra e de Icónio. 3Paulo resolveu levá-lo consigo e, tomando-o, circuncidou-o, por causa dos judeus existentes naquelas regiões, pois todos sabiam que o pai dele era grego. 4Nas cidades por onde passavam, transmitiam e recomendavam aos irmãos que cumprissem as decisões tomadas pelos Apóstolos e pelos Anciãos de Jerusalém. 5Dessa forma, as igrejas eram confirmadas na fé e cresciam em número, de dia para dia. 6Paulo e Silas atravessaram a Frígia e o território da Galácia, pois o Espírito Santo impediu-os de anunciar a Palavra na Ásia. 7Chegando à fronteira da Mísia, tentaram dirigir-se à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu. 8Atravessaram, então, a Mísia e desceram para Tróade. 9Ora, durante a noite, Paulo teve uma visão: um macedónio estava de pé diante dele e fazia-lhe este pedido: «Passa à Macedónia e vem ajudar-nos!» 10Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir para a Macedónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a Boa-Nova.
Em Filipos. Conversão de Lídia - 11Embarcámos em Tróade e fomos directamente a Samotrácia; no dia seguinte, fomos a Neápoles 12e de lá, a Filipos, cidade de primeira categoria deste distrito da Macedónia, e colónia. Estivemos aí durante alguns dias. 13No dia de sábado, saímos fora de portas, em direcção à margem do rio, onde era costume haver oração.Depois de nos sentarmos, começámos a falar às mulheres que lá se encontravam reunidas. 14Uma das mulheres chamada Lídia, negociante de púrpura, da cidade de Tiatira e temente a Deus, pôs-se a escutar. O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia. 15Depois de ter sido baptizada, bem como os de sua casa, fez este pedido: «Se me considerais fiel ao Senhor, vinde ficar a minha casa.» E obrigou-nos a isso.

A escrava bruxa - 16Um dia, quando íamos à oração, encontrámos uma serva que tinha um espírito pitónico e dava muito lucro aos seus senhores, exercendo a adivinhação. 17Começou a seguir Paulo e a nós, bradando: «Estes homens são servos do Deus Altíssimo e anunciam-vos o caminho da salvação.» 18Isto repetiu-se durante vários dias seguidos. Por fim, já agastado, Paulo voltou-se e disse ao espírito: «Ordeno-te, em nome de Jesus Cristo, que saias desta mulher.» E o espírito saiu imediatamente.

Paulo e Silas na Prisão - 19Mas os senhores da escrava, vendo desaparecer a esperança do lucro, apoderaram-se de Paulo e de Silas e arrastaram-nos até à praça pública, à presença dos magistrados. 20Apresentando-os aos estrategos, disseram: «Estes homens espalham a desordem na nossa cidade; são judeus, 21e apregoam usos que não nos é permitido a nós, romanos, nem admitir nem praticar.» 22A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. 23Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. 24Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo.

Conversão do carcereiro - 25Cerca da meia-noite, Paulo e Silas, em oração, entoavam louvores a Deus, e os presos escutavam-nos. 26De repente, sentiu-se um violento tremor de terra que abalou os alicerces da prisão. Todas as portas se abriram e as cadeias de todos se desprenderam. 27Acordando em sobressalto, o carcereiro viu as portas da prisão abertas e puxou da espada para se matar, pensando que os presos se tinham evadido. 28Paulo, então, bradou com voz forte: «Não faças nenhum mal a ti mesmo, porque nós estamos todos aqui.» 29O carcereiro pediu luz, correu para dentro da masmorra e lançou-se a tremer, aos pés de Paulo e de Silas. 30Depois, trouxe-os para fora e perguntou: «Senhores, que devo fazer para ser salvo?» 31Eles responderam: «Acredita no Senhor Jesus e serás salvo tu e os teus.» 32E anunciaram-lhe a palavra do Senhor, assim como aos que estavam na sua casa. 33O carcereiro, tomando-os consigo, àquela hora da noite, lavou-lhes as feridas e imediatamente se baptizou, ele e todos os seus. 34Depois, levando-os para cima, para a sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus.

Libertação de Paulo e Silas - 35Assim que amanheceu, os estrategos mandaram os lictores dizer ao carcereiro: «Põe esses homens em liberdade.» 36O carcereiro transmitiu a Paulo aquelas palavras: «Os estrategos mandaram dizer que vos pusesse em liberdade. Saí, pois, e ide em paz.» 37Mas Paulo disse aos lictores: «Açoitaram-nos em público, sem julgamento, a nós que somos cidadãos romanos; meteram-nos na prisão, e agora mandam-nos sair às escondidas! Não está bem! Venham eles próprios levar-nos lá para fora.» 38Os lictores foram comunicar estas palavras aos estrategos. Ao ouvirem dizer que eram cidadãos romanos, ficaram muito assustados. 39Foram pedir-lhes desculpa, puseram-nos em liberdade e rogaram-lhes que se retirassem da cidade. 40Ao saírem do cárcere, Paulo e Silas foram a casa de Lídia e, vendo os irmãos, fizeram-lhes as suas recomendações e partiram.

17 Em Tessalónica. Dificuldades com os judeus - 1Passando por Anfípole e Apolónia, chegaram a Tessalónica, onde os judeus tinham uma sinagoga. 2Segundo o seu costume, Paulo foi lá procurá-los e, durante três sábados, discutiu com eles acerca das Escrituras, 3explicando-as e provando que o Messias tinha de sofrer e de ressuscitar dos mortos. «E o Messias - dizia ele - é este Jesus que vos anuncio.» 4Alguns deles ficaram convencidos e reuniram-se a Paulo e Silas, bem como grande número de crentes gregos e muitas mulheres de categoria social. 5Mas os judeus, cheios de inveja, aliciaram alguns indivíduos da escória do povo, provocaram ajuntamentos e espalharam a agitação pela cidade. Assaltaram a casa de Jasão, à procura de Paulo e Silas, para os levarem à assembleia do povo. 6Não os tendo encontrado, arrastaram Jasão e alguns dos irmãos à presença dos politarcas, gritando: «Aqui estão os homens que alvoroçaram o mundo inteiro, 7e Jasão recebeu-os em sua casa. Todos eles estão em oposição aos éditos de César, pois afirmam que há outro rei, Jesus.» 8Impressionaram de tal maneira o povo e os politarcas com os seus clamores, 9que estes só depois de exigirem uma caução de Jasão e dos outros, os libertaram.

Em Bereia - 10Os irmãos fizeram com que Paulo e Silas partissem imediatamente, de noite, para Bereia. Ao chegarem, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. 11Estes tinham sentimentos mais nobres do que os de Tessalónica, e acolheram a palavra com maior interesse. Examinavam diariamente as Escrituras para verificarem se tudo era, de facto, assim. 12Muitos deles abraçaram a fé, bem como, de entre os gregos, senhoras das mais distintas e não poucos homens. 13Mas, quando os judeus de Tessalónica souberam que Paulo também anunciava a palavra de Deus em Bereia, foram lá provocar a agitação e a discórdia entre o povo. 14Os irmãos convenceram Paulo a partir em direcção ao mar. Quanto a Silas e a Timóteo, ficaram lá. 15Os que acompanhavam Paulo levaram-no a Atenas e regressaram, incumbidos de transmitir a Silas e a Timóteo a ordem de irem reunir-se a Paulo o mais rapidamente possível.

Paulo em Atenas - 16Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o espírito fremia-lhe de indignação, ao ver a cidade repleta de ídolos. 17Discutia na sinagoga com os judeus e prosélitos e, na praça pública, todos os dias, com os que lá apareciam. 18Até alguns filósofos epicuristas e estóicos trocavam impressões com ele. Uns diziam: «Que quererá dizer este papagaio?» Outros: «Parece que é um pregoeiro de deuses estrangeiros.» Isto, porque Paulo anunciava a Boa-Nova de Jesus e a ressurreição. 19Levaram-no com eles ao Areópago e disseram-lhe: «Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? 20O que nos dizes é muito estranho e gostaríamos de saber o que isso quer dizer.» 21Na verdade, tanto os atenienses como os estrangeiros residentes em Atenas não passavam o tempo noutra coisa, senão a dizer ou a escutar as últimas novidades.

Discurso no Areópago - 22De pé, no meio do Areópago, Paulo disse, então:«Atenienses, vejo que sois, em tudo, os mais religiosos dos homens. 23Percorrendo a vossa cidade e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: ‘Ao Deus desconhecido.’ Pois bem! Aquele que venerais sem o conhecer é esse que eu vos anuncio. 24O Deus que criou o mundo e tudo quanto nele se encontra, Ele, que é o Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários construídos pela mão do homem, 25nem é servido por mãos humanas, como se precisasse de alguma coisa, Ele, que a todos dá a vida, a respiração e tudo mais. 26Fez, a partir de um só homem, todo o género humano, para habitar em toda a face da Terra; e fixou a sequência dos tempos e os limites para a sua habitação, 27a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo, mesmo tacteando, embora não se encontre longe de cada um de nós. 28É nele, realmente, que vivemos,nos movemos e existimos,como também o disseram alguns dos vossos poetas:‘Pois nós somos também da sua estirpe.’ 29Se nós somos da raça de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e engenho do homem. 30Sem ter em conta estes tempos de ignorância, Deus faz saber, agora, a todos os homens e em toda a parte, que todos têm de se arrepender, 31pois fixou um dia em que julgará o universo com justiça, por intermédio de um Homem, que designou, oferecendo a todos um motivo de crédito, com o facto de o ter ressuscitado de entre os mortos.» 32Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, uns começaram a troçar, enquanto outros disseram: «Ouvir-te-emos falar sobre isso ainda outra vez.» 33Foi assim que Paulo saiu do meio deles. 34Alguns dos homens, no entanto, concordaram com ele e abraçaram a fé, entre os quais Dionísio, o areopagita, e também uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles.
18 Fundação da igreja de Corinto - 1Depois disso, Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. 2Encontrou ali um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália com Priscila, sua mulher, porque um édito de Cláudio ordenara que todos os judeus se afastassem de Roma. Paulo foi procurá-los 3e, como eram da mesma profissão - isto é, fabricantes de tendas - ficou em casa deles e começou a trabalhar. 4Todos os sábados dissertava na sinagoga e esforçava-se por convencer, tanto a judeus como a gregos. 5Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedónia, Paulo entregou-se à pregação, afirmando e provando aos judeus que Jesus era o Messias. 6Mas, perante a oposição e as blasfémias deles, sacudiu as suas vestes e disse-lhes: «Que o vosso sangue recaia sobre as vossas cabeças. Eu não sou responsável por isso. De futuro, dirigir-me-ei aos pagãos.» 7Retirou-se dali e foi para casa de um certo Tício Justo, homem temente a Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. 8No entanto, Crispo, o chefe da sinagoga, acreditou no Senhor, ele e todos os da sua casa; e muitos dos coríntios que ouviam Paulo pregar abraçavam também a fé e recebiam o Baptismo. 9Certa noite, o Senhor disse a Paulo, numa visão: «Nada temas, continua a falar e não te cales, 10porque Eu estou contigo e ninguém porá as mãos em ti para te fazer mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade.» 11Então, ele ficou lá durante um ano e seis meses, a ensinar-lhes a palavra de Deus.

Perante o tribunal de Galião - 12Sendo Galião procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, de comum acordo, contra Paulo e levaram-no ao tribunal. 13«Este homem - disseram eles - induz as pessoas a prestar culto a Deus de uma forma contrária à Lei.» 14Paulo ia abrir a boca, quando Galião disse aos judeus: «Se se tratasse de uma injustiça ou grave delito, escutaria as vossas queixas, ó judeus, como é meu dever. 15Mas como se trata de um conflito doutrinal sobre palavras e nomes e acerca de vossa própria Lei, o assunto é convosco. Recuso-me a ser juiz em semelhante questão.» 16E mandou-os sair do tribunal. 17Então todos se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e puseram-se a bater-lhe diante do tribunal. E Galião não se importou nada com isso.

Regresso a Antioquia - 18Depois de se ter demorado ainda algum tempo em Corinto, Paulo despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria, com Priscila e Áquila, rapando a cabeça em Cêncreas, por causa de um voto que tinha feito. 19Chegaram a Éfeso, onde os deixou, e foi à sinagoga falar com os judeus. 20Estes pediram que prolongasse a sua estadia, mas não acedeu. 21Porém, despedindo-se, disse-lhes: «Voltarei novamente ter convosco, se Deus quiser.»E partiu de Éfeso. 22Desembar-cou em Cesareia, subiu para saudar a igreja e desceu a Antioquia.

3.ª Viagem missionária: 18,23-21,26
23Depois de aí ter passado algum tempo, voltou a partir e percorreu sucessivamente a Galácia e a Frígia, fortalecendo todos os discípulos.
Pregação de Apolo - 24Entretanto, chegara a Éfeso um judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e muito versado nas Escrituras. 25Fora instruído na «Via» do Senhor e, com o espírito cheio de fervor, pregava e ensinava com precisão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João. 26Começou a falar desassombradamente na sinagoga. Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e expuseram-lhe, com mais precisão, a «Via» do Senhor. 27Como ele queria partir para a Acaia, os irmãos encorajaram-no e escreveram aos discípulos, para que o recebessem amigavelmente. Quando lá chegou, pela graça de Deus, prestou grande auxílio aos fiéis; 28pois refutava energicamente os judeus, em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus era o Messias.

19 Paulo em Éfeso - 1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, depois de atravessar as regiões do interior, chegou a Éfeso. Encontrou alguns discípulos 2e perguntou-lhes: «Recebestes o Espírito Santo, quando abraçastes a fé?» Responderam: «Mas nós nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo.» 3E indagou: «Então, que baptismo recebestes?» Responderam eles: «O baptismo de João.» 4«João - disse Paulo - ministrou apenas um baptismo de penitência e dizia ao povo que acreditasse naquele que ia chegar depois dele, isto é, Jesus.» 5Quando isto ouviram, baptizaram-se em nome do Senhor Jesus. 6E, tendo-lhes Paulo imposto as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles e começaram a falar línguas e a profetizar. 7Eram, ao todo, uns doze homens. 8Paulo foi, em seguida, à sinagoga, onde, durante três meses, falou desassombradamente e argumentava de forma a persuadir os seus ouvintes sobre o que dizia respeito ao Reino de Deus. 9Como alguns se mostrassem renitentes e não acreditassem, dizendo mal da «Via» perante a multidão, rompeu com eles, afastou-se com os seus discípulos e começou a ensinar diariamente na escola de Tirano. 10Isto prolongou-se por dois anos, de modo que todos os habitantes da Ásia, tanto judeus como gregos, puderam ouvir a palavra do Senhor. 11Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, 12a tal ponto que bastava aplicar aos doentes os lenços e as roupas que tinham estado em contacto com o seu corpo, para que as doenças e os espíritos malignos os deixassem.

Os exorcistas judeus - 13Entretanto, alguns dos exorcistas judeus, ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que estavam possuídos de espíritos malignos, dizendo: «Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo anuncia.» 14E havia sete filhos de um certo Escevas, Sumo Sacerdote judeu, que se entregavam a estas práticas. 15Mas o espírito maligno replicou-lhes: «Eu conheço Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois?» 16E atirando-se a eles o homem que estava possuído do espírito maligno, apoderou-se de uns e de outros e tratou-os tão violentamente, que tiveram de fugir daquela casa, nus e cobertos de contusões. 17Todos os habitantes de Éfeso, judeus e gregos, souberam da ocorrência, e todos se encheram de temor, sendo enaltecido o nome do Senhor Jesus. 18Muitos dos que tinham abraçado a fé vieram confessar e declarar as suas práticas. 19E muitos dos que se tinham dedicado à magia trouxeram os seus livros e queimaram-nos diante de todos. O valor dos livros foi calculado em cinquenta mil moedas de prata. 20Era assim que a palavra do Senhor se desenvolvia e fortalecia vigorosamente. 21Depois destes acontecimentos, Paulo resolveu ir a Jerusalém, passando pela Macedónia e Acaia. «Depois de eu lá ter estado - disse ele - tenho de ver Roma também.» 22Enviou, então, à Macedónia dois auxiliares seus, Timóteo e Erasto. Quanto a ele, ficou ainda mais algum tempo na Ásia.

Tumulto contra Paulo - 23Por esse tempo, levantou-se não pequeno tumulto a respeito da «Via.» 24Um certo Demétrio, ourives que fazia santuários de Ártemis, de prata, e proporcionava aos artífices um negócio lucrativo, 25convocou-os, assim como a outros que trabalhavam em obras semelhantes e, disse: «Sabeis, amigos, que a esta indústria devemos a nossa prosperidade. 26Ora, como vedes e ouvis dizer, não só em Éfeso, mas também em toda a Ásia, esse Paulo convenceu e desviou imensa gente, afirmando que não são deuses os que são feitos pelas mãos do homem. 27Isto não só faz correr o risco de cair em descrédito a nossa indústria, mas também de se reputar como nada o templo da grande deusa Ártemis, e de vir a perder o prestígio aquela que a Ásia inteira e todo o mundo veneram.» 28Quando isto ouviram, enfureceram-se e começaram a dizer em altos brados: «Grande é a Ártemis dos efésios!» 29A desordem espalhou-se pela cidade inteira e todos, em massa, se precipitaram para o teatro, arrastando com eles os macedónios Gaio e Aristarco, companheiros de viagem de Paulo. 30Paulo queria apresentar-se diante da assembleia do povo, mas os discípulos opuseram-se a isso 31e até alguns dos asiarcas, seus amigos, lhe mandaram pedir que não se apresentasse no teatro. 32Cada qual gritava por seu lado, pois a assembleia estava em confusão, e a maior parte não sabia por que motivo se tinha reunido. 33Então, do meio da multidão, saiu Alexandre, previamente informado, que os judeus empurravam para a frente. Alexandre, com um sinal da mão, deu a entender que desejava dar explicações ao povo. 34Mas, quando se aperceberam de que ele era judeu, todos começaram a gritar, numa só voz, durante cerca de duas horas: «Grande é a Ártemis dos efésios!» 35Por fim, o secretário acalmou a multidão e disse: «Efésios! Quem é o homem que ignora ser a cidade de Éfeso a guarda do templo da grande Ártemis e da sua estátua caída do céu? 36Portanto, sendo isto incontestável, deveis permanecer tranquilos e nada fazer com precipitação. 37Estes homens que trouxestes aqui não são culpados nem de sacrilégio, nem de blasfémias, em relação à nossa deusa. 38Consequentemente, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma queixa contra alguém, há audiências públicas e há procônsules; venham debater-se em juízo. 39Mas, se tiverdes qualquer outra questão a debater, ela será resolvida na assembleia legal. 40É possível que sejamos acusados de insurreição a propósito do que hoje sucedeu, pois não existe motivo algum com que possamos vir a justificar este ajuntamento.» E, com estas palavras, dissolveu a assembleia.

20 De novo na Macedónia e na Grécia - 1Logo que cessou o tumulto, Paulo reuniu os discípulos, fez-lhes as suas recomendações, despediu-se deles e partiu para a Macedónia. 2Percorreu toda aquela região, exortou demoradamente os fiéis e, depois, chegou à Grécia, 3onde esteve três meses.Uma conspiração, fomentada contra ele pelos judeus, quando ia embarcar para a Síria, levou-o a tomar a decisão de regressar pela Macedónia. 4Acompanharam-no Sópatro, filho de Pirro, de Bereia; Aristarco e Secundo, de Tessalónica; Gaio, de Derbe, e Timóteo, Tíquico e Trófimo, da província da Ásia. 5Estes partiram à frente e esperaram-nos em Tróade. 6Quanto a nós, embarcámos em Filipos, depois dos dias dos Ázimos e encontrámo-nos, cinco dias depois, em Tróade, onde passámos uma semana.

Em Tróade. Ressurreição de um morto - 7No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão, Paulo, que devia partir no dia seguinte, começou a falar com eles e prolongou a sua pregação até à meia-noite. 8Havia bastantes lâmpadas na sala de cima, onde estávamos reunidos. 9Ora um jovem, de nome Eutico, que estava sentado numa janela, adormeceu profundamente, enquanto Paulo se alongava no seu sermão. Dominado pelo sono, caiu do terceiro andar e levantaram-no já morto. 10Paulo desceu e, lançando-se sobre ele, apertou-o nos braços e disse: «Não façais barulho, pois a alma ainda está nele.» 11Depois, voltou para cima, partiu o pão, comeu e falou demoradamente até de madrugada. Só então se retirou. 12Quanto ao jovem, levaram-no vivo, o que foi motivo de grande consolação.

De Tróade a Mileto - 13Quanto a nós, partindo à frente por mar, largámos para Asso, onde deveríamos encontrar Paulo; assim tinha determinado, devendo ele ir por terra. 14Quando nos reunimos em Asso, levámo-lo para bordo e seguimos para Mitilene. 15Partimos de lá e, no dia seguinte, estávamos em frente de Quio. No outro dia, navegávamos para Samos e, no dia imediato, depois de uma escala em Trógilo, chegámos a Mileto. 16Paulo tinha decidido passar ao largo de Éfeso, a fim de não perder tempo na Ásia. Ia com pressa, pois diligenciava estar em Jerusalém, se possível, no dia de Pentecostes.

O adeus aos anciãos de Éfeso - 17De Mileto, Paulo mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso. 18Quando chegaram junto dele, disse-lhes:«Sabeis como, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia, procedi sempre convosco. 19Tenho servido o Senhor com toda a humildade e com lágrimas, no meio das provações, que as ciladas dos judeus me acarretaram. 20Jamais recuei perante qualquer coisa que vos pudesse ser útil. Preguei e instruí-vos, tanto publicamente como nas vossas casas, 21afirmando a judeus e gregos a necessidade de se converterem a Deus e de acreditarem em Nosso Senhor Jesus. 22E agora, obedecendo ao Espírito, vou a Jerusalém, sem saber o que lá me espera; 23só sei que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me avisa de que me aguardam cadeias e tribulações. 24Mas, a meus olhos, a vida não tem valor algum; basta-me poder concluir a minha carreira e cumprir a missão que recebi do Senhor Jesus, dando testemunho do Evangelho da graça de Deus. 25Agora sei que não vereis mais o meu rosto, todos vós, no meio de quem passei, proclamando o Reino. 26Por isso, tomo-vos hoje por testemunhas de que estou limpo do sangue de todos, 27pois jamais recuei, quando era preciso anunciar-vos todos os desígnios de Deus. 28Tomai cuidado convosco e com todo o rebanho, de que o Espírito Santo vos constituiu administradores para apascentardes a Igreja de Deus, adquirida por Ele com o seu próprio sangue. 29Sei que, depois de eu partir, se hão-de introduzir entre vós lobos temíveis que não pouparão o rebanho 30e que, mesmo no meio de vós, se hão-de erguer homens de palavras perversas para arrastarem discípulos atrás de si. 31Estai, pois, vigilantes e recordai-vos de que, durante três anos, de noite e de dia, não cessei de exortar, com lágrimas, cada um de vós. 32E agora, confio-vos a Deus e à palavra da sua graça, que tem o poder de construir o edifício e de vos conceder parte na herança com todos os santificados. 33Jamais cobicei prata, nem ouro, nem o vestuário de alguém. 34E bem sabeis que foram estas mãos que proveram às minhas necessidades e às dos meus companheiros. 35Em tudo vos demonstrei que deveis trabalhar assim, para socorrerdes os fracos, recordando-vos das palavras que o próprio Senhor Jesus disse: ‘A felicidade está mais em dar do que em receber.’» 36Depois destas palavras, ajoelhou-se com todos eles e orou. 37Todos romperam em pranto e, lançando-se ao pescoço de Paulo, começaram a abraçá-lo, 38consternados, sobretudo, com as palavras que lhes dissera: que não veriam mais o seu rosto. Em seguida, acompanharam-no ao barco.

21 Subida de Paulo a Jerusalém - 1Depois de nos separarmos deles, embarcámos e, navegando directamente, chegámos a Cós; no dia seguinte, a Rodes, e de lá, a Pátara. 2Encontrámos um barco que ia partir para a Fenícia e fizemo-nos ao mar. 3Chegando à vista de Chipre, que deixámos à esquerda, seguimos em direcção da Síria e aportámos a Tiro, pois era ali que o barco ia descarregar. 4Tendo encontrado os discípulos, passámos sete dias com eles.Inspirados pelo Espírito, diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém. 5Mas, no fim da nossa estadia, partimos. Acompanharam-nos todos, com as mulheres e os filhos, até fora da cidade. Ajoelhámo-nos na praia para orar, 6despedimo-nos e subimos para o barco, enquanto eles regressavam às suas casas. 7E nós, terminada a travessia, fomos de Tiro para Ptolemaida. Depois de termos saudado os irmãos e de termos ficado um dia com eles, 8partimos no dia seguinte para Cesareia.Fomos a casa do evangelista Filipe, um dos sete, e ficámos em sua companhia. 9Ele tinha quatro filhas virgens, que eram profetisas. 10Como lá passámos bastantes dias, desceu da Judeia um profeta de nome Agabo, 11o qual foi ter connosco, pegou no cinto de Paulo e, ligando-se de pés e mãos, disse: «Isto diz o Espírito Santo: ‘O homem, a quem pertence este cinto, será ligado assim, em Jerusalém pelos judeus, e eles entregá-lo-ão às mãos dos pagãos.’» 12Quando ouvimos isto, nós e os naturais da terra suplicámos a Paulo que não subisse a Jerusalém. 13Paulo, então, respondeu: «Porque estais a chorar e a despedaçar-me o coração? Quanto a mim, estou pronto, não só a ser amarrado, mas também a morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus.» 14Como não havia meio de o dissuadir, cessámos os nossos pedidos, dizendo: «Seja feita a vontade do Senhor!» 15Decorridos esses dias, fizemos os nossos preparativos e subimos a Jerusalém. 16Acompanharam-nos alguns discípulos de Cesareia, que nos levaram a casa de Menasão, discípulo da primeira hora, que era natural de Chipre.

Em Jerusalém - 17Quando chegámos a Jerusalém, os irmãos receberam-nos com alegria. 18No dia seguinte, Paulo foi connosco a casa de Tiago, e todos os anciãos aí se reuniram. 19Depois de os saudar, começou a expor, minuciosamente, tudo quanto Deus tinha feito entre os pagãos, pelo seu ministério. 20Quando acabaram de o ouvir, deram glória a Deus e disseram-lhe:«Vês, irmão, quantos milhares de judeus abraçaram a fé, sem deixarem de ser ardentes defensores da Lei? 21Ora, a teu respeito, disseram que ensinas a todos os judeus espalhados entre os pagãos a apostasia em relação a Moisés, aconselhando-os a não circuncidarem os filhos e a não seguirem a Lei. 22Que fazer então? Decerto, hão-de ouvir dizer que tu chegaste. 23Faz, pois, o que te vamos sugerir: temos aqui quatro homens que têm um voto a cumprir. 24Leva-os contigo, submete-te, com eles, aos ritos da purificação e paga-lhes as despesas para raparem a cabeça. Toda a gente ficará, assim, a saber que nada há de verdadeiro nos rumores postos a circular a teu respeito, mas que, pelo contrário, te mantens fiel cumpridor da Lei. 25Quanto aos pagãos que abraçaram a fé, já lhes demos a conhecer por escrito a nossa decisão: que se abstenham de carnes imoladas a ídolos, do sangue das carnes sufocadas e da imoralidade.» 26No dia seguinte, Paulo levou consigo esses homens, purificou-se com eles e entrou no templo, onde anunciou a data em que terminavam os dias da purificação, ao fim dos quais devia ser oferecido o sacrifício por cada um deles.

IV. PAULO PRISIONEIRO DE CRISTO (21,27-28,31)
Prisão de Paulo no templo - 27Quando os sete dias estavam já a terminar, os judeus da Ásia viram-no no templo e, amotinando o povo, 28gritaram: «Homens de Israel, acudi! Este é o homem que a todos prega, e em toda a parte, contra o nosso povo, contra a Lei e contra este lugar! Além disso, até gregos introduziu no templo e profanou este lugar santo.» 29De facto, tinham visto antes, na cidade, o efésio Trófimo com ele, e pensaram que Paulo o introduziu no templo. 30A cidade inteira ficou alvoroçada e o povo corria de todos os lados. Apoderaram-se de Paulo e arrastaram-no para fora do templo, cujas portas imediatamente fecharam. 31Preparavam-se para o matar, quando chegou ao tribuno da coorte a denúncia de que Jerusalém se encontrava toda em alvoroço. 32Reunindo, sem perda de tempo, soldados e centuriões, precipitou-se com eles sobre os manifestantes que, ao verem o tribuno e os soldados, cessaram de bater em Paulo. 33Então, o tribuno aproximando-se, mandou-o prender e ordenou que o algemassem com duas cadeias. Depois perguntou-lhe quem era e o que tinha feito. 34Mas cada qual, no meio da multidão, gritava o que lhe apetecia. Não podendo, devido ao tumulto, obter nenhuma informação precisa, mandou conduzir Paulo para a fortaleza. 35Quando chegou aos degraus, os soldados tiveram de o levar, por causa da violência da multidão, 36pois o povo seguia em massa, a gritar: «À morte!» 37Já quase dentro da fortaleza, Paulo disse ao tribuno: «Ser-me-á permitido dizer-te uma palavra?» Disse ele: «Tu sabes grego? 38Não és, então, o egípcio que, há tempos, provocou uma rebelião e arrastou para o deserto os quatro mil sicários?» 39Paulo respondeu: «Eu sou judeu, de Tarso, cidadão de uma notável cidade de Cilícia. Peço-te que me autorizes a falar ao povo.» 40Concedida a autorização, Paulo, de pé nos degraus, acenou com a mão ao povo. Fez-se profundo silêncio, e ele dirigiu-lhes a palavra em língua hebraica, dizendo:
22 Discurso de Paulo à multidão - 1«Irmãos e pais, ouvi agora o que tenho a dizer-vos em minha defesa.» 2Como o ouvissem dirigir-lhes a palavra em língua hebraica, maior silêncio fizeram. Ele prosseguiu: 3«Sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas fui educado nesta cidade, instruído aos pés de Gamaliel, em todo o rigor da Lei dos nossos pais e cheio de zelo pelas coisas de Deus, como todos vós sois agora. 4Persegui de morte esta «Via», algemando e entregando à prisão homens e mulheres, 5como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco, onde ia para prender os que lá se encontrassem e trazê-los agrilhoados a Jerusalém, a fim de serem castigados. 6Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. 7Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ 8Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele disse-me, então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’ 9Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. 10E prossegui: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.’ 11Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco. 12Ora um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, 13foi procurar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista.’ E, no mesmo instante, comecei a vê-lo. 14Ele prosseguiu: ‘O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires as palavras da sua boca, 15porque serás testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste. 16E agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o baptismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome.’ 17De regresso a Jerusalém, enquanto orava no templo, caí em êxtase. 18Vi o Senhor e Ele disse-me: ‘Apressa-te e sai rapidamente de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito.’ 19Eu respondi: ‘Senhor, eles bem sabem que eu andava pelas sinagogas a meter na prisão e a açoitar os que acreditavam em ti. 20E, quando foi derramado o sangue de Estêvão, tua testemunha, também eu estava presente, de acordo com eles, e tinha à minha guarda as capas dos que lhe davam a morte.’ 21Ele, então, disse-me: ‘Vai, que te vou enviar lá ao longe, aos pagãos.’»
Paulo declara-se cidadão romano - 22Foram-no ouvindo até esta frase, mas, depois, ergueram a voz, dizendo: «Elimina da terra semelhante homem! Ele não pode continuar a viver!» 23Como não deixassem de gritar, de arremessar as capas e de atirar terra para o ar, 24o tribuno ordenou que ele fosse conduzido para a fortaleza e o obrigassem a falar, à força de vergastadas, a fim de saber por que motivo assim gritavam contra ele. 25Mas, quando iam amarrá-lo para ser açoitado, Paulo disse ao centurião de serviço: «Tendes autoridade para açoitar um cidadão romano, que nem sequer foi julgado?» 26Ouvindo isto, o centurião correu a avisar o tribuno: «Que vais fazer? - disse. Esse homem é cidadão romano!» 27O tribuno foi ter com Paulo e perguntou-lhe: «Diz-me, tu és cidadão romano?» Ele respondeu: «Sou.» 28O tribuno continuou: «Eu adquiri por muito dinheiro esse direito de cidadania.» Paulo retorquiu: «Pois eu já nasci com esse direito.» 29Os que o iam interrogar retiraram-se imediatamente e o tribuno ficou cheio de medo, ao saber que tinha mandado algemar um cidadão romano. 30No dia seguinte, querendo averiguar com imparcialidade do que era acusado pelos judeus, fê-lo desalgemar, convocou os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio e mandou buscar Paulo, fazendo-o comparecer diante deles.
23 Paulo perante o Sinédrio - 1Paulo fitou os membros do Sinédrio e disse: «Irmãos, tenho procedido para com Deus, até hoje, com absoluta rectidão de consciência.» 2Mas o Sumo Sacerdote Ananias ordenou aos seus assistentes que lhe batessem na boca. 3Então, Paulo disse-lhe: «Deus te baterá, a ti, parede branqueada! Tu sentas-te para me julgares de acordo com a lei, e mandas bater-me, violando a lei?» 4Os assistentes disseram-lhe: «Tu insultas o Sumo Sacerdote de Deus?» 5Paulo respondeu: «Não sabia, irmãos, que era o Sumo Sacerdote. Realmente está escrito: ‘Não dirás mal do chefe do teu povo.’» 6Sabendo que havia dois partidos no Sinédrio, o dos saduceus e o dos fariseus, Paulo bradou diante deles:«Irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus, e é pela nossa esperança, a ressurreição dos mortos, que estou a ser julgado.» 7Estas palavras desencadearam um conflito entre fariseus e saduceus e a assembleia dividiu-se, 8porque os saduceus negam a ressurreição, assim como a existência dos anjos e dos espíritos, enquanto os fariseus ensinam publicamente o contrário. 9Estabeleceu-se enorme gritaria, e alguns escribas do partido dos fariseus ergueram-se e começaram a protestar com energia, dizendo: «Não encontramos nada de mau neste homem. E se um espírito lhe tivesse falado ou mesmo um anjo?» 10A discussão redobrou de violência, a tal ponto que o tribuno, receando que Paulo fosse despedaçado por eles, mandou descer a tropa para o arrancar das mãos deles e reconduzi-lo à fortaleza. 11Na noite seguinte, o Senhor apresentou-se diante dele e disse-lhe: «Coragem! Assim como deste testemunho de mim em Jerusalém, assim é necessário que o dês também em Roma.»

Conjura dos judeus contra Paulo - 12Logo que amanheceu, os judeus reuniram-se e juraram, sob pena de anátema, não comer nem beber enquanto não matassem Paulo. 13Eram mais de quarenta os que tinham feito essa conjura. 14Foram ter com os sumos sacerdotes e com os Anciãos e disseram-lhes: «Jurámos, sob pena de anátema, não comer nada enquanto não matarmos Paulo. 15Agora, de acordo com o Sinédrio, ide solicitar ao tribuno que o mande comparecer diante de vós, sob pretexto de examinardes o seu caso mais profundamente. E nós estamos prontos a suprimi-lo durante o trajecto.» 16Mas o filho da irmã de Paulo teve conhecimento da cilada. Correu à fortaleza, entrou e preveniu Paulo. 17Paulo chamou um dos centuriões e disse-lhe: «Leva este rapaz ao tribuno, porque tem uma coisa a comunicar-lhe.» 18O centurião tomou-o, pois, consigo, levou-o ao tribuno e disse: «O preso Paulo chamou-me e pediu-me que te trouxesse este rapaz, pois tem uma coisa a dizer-te.» 19O tribuno tomou o rapaz pela mão e, retirando-se à parte, perguntou-lhe: «Que tens a comunicar-me?» 20Ele respondeu: «Os judeus combinaram pedir-te que mandes comparecer Paulo, amanhã, diante do Sinédrio, sob pretexto de uma averiguação mais completa do seu caso. 21Não acredites em nada disso, pois mais de quarenta deles preparam-lhe uma cilada e juraram, sob pena de anátema, não comer nem beber, enquanto o não matarem. Agora, estão preparados e aguardam apenas a tua autorização.» 22Então, o tribuno despediu o rapaz, recomendando-lhe: «Não digas a ninguém que me revelaste estas coisas.»

Paulo conduzido a Cesareia - 23Depois, mandou chamar dois centuriões e disse-lhes: «Tende preparados, desde as nove horas da noite, duzentos soldados, setenta cavaleiros e duzentos lanceiros, para irem a Cesareia. 24Preparai, igualmente, montadas para Paulo, a fim de ser conduzido são e salvo ao governador Félix.» 25E escreveu uma carta nestes termos: 26«Cláudio Lísias, ao Excelentíssimo Governador Félix, saudações! 27Este homem foi preso pelos judeus, e pretendiam matá-lo, quando apareci com a tropa e o libertei, por saber que era cidadão romano. 28Querendo inteirar-me do que o acusavam, mandei-o comparecer diante do Sinédrio. 29Verifiquei que o incriminavam a propósito de questões relativas à lei deles, mas não havia qualquer delito que merecesse a morte ou os grilhões. 30Tendo sido avisado de que planeavam uma conspiração, cujo fim seria assassiná-lo, enviei-to imediatamente e notifiquei aos seus acusadores que deviam ir declarar, na tua presença, as queixas contra ele. Adeus.» 31De acordo com as ordens recebidas, os soldados tomaram Paulo consigo, conduziram-no, de noite, a Antipátrides. 32No dia seguinte, deixaram os cavaleiros seguir com ele e regressaram à fortaleza. 33Ao chegarem a Cesareia, os cavaleiros entregaram a carta ao governador e apresentaram-lhe também Paulo. 34O governador leu a carta e informou-se de que província era ele. Ouvindo que era da Cilícia, 35declarou: «Ouvir-te-ei, quando chegarem os teus acusadores.» E ordenou que o guardassem no pretório de Herodes.

24 Paulo acusado perante o governador - 1Cinco dias depois, o Sumo Sacerdote Ananias desceu com alguns anciãos e um advogado, um certo Tértulo, e apresentaram ao governador queixa contra Paulo. 2Este foi chamado e Tértulo iniciou a acusação nestes termos:«A grande paz de que beneficiamos pela tua acção e as reformas que este povo deve à tua providência 3são recebidas por nós, excelentíssimo Félix, em tudo e por toda a parte com profunda gratidão. 4Mas, para não te importunar, além do necessário, rogo-te que nos escutes por uns instantes, com a benevolência que te é peculiar. 5Nós verificámos que este homem é uma peste: fomenta discórdias entre todos os judeus do mundo inteiro e é cabecilha da seita dos Nazarenos. 6Até tentou profanar o templo, e então, prendêmo-lo. 7Mas o tribuno Lísias interveio com muita violência e arrancou-o das nossas mãos, 8ordenando aos seus acusadores que se apresentassem diante de ti. Interrogando-o pessoalmente, poderás verificar a autenticidade das nossas acusações contra ele.» 9E os judeus apoiaram o advogado, afirmando que tudo era assim.

Discurso de Paulo - 10Como o governador lhe acenasse para falar, Paulo respondeu:«Eu sei que, desde há muitos anos, este povo se encontra sob a tua jurisdição; por isso, confiadamente tomo a palavra para defender a minha causa. 11Podes verificar que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém, para fazer a minha adoração. 12Nunca me viram a discutir no templo com qualquer pessoa, nem a incitar o povo à revolta, quer nas sinagogas, quer pela cidade. 13São incapazes de provar as acusações que agora fazem contra mim. 14No entanto, confesso-te: sirvo o Deus dos nossos pais como ensina a «Via», a que eles chamam seita. Acredito em tudo quanto há na Lei e em tudo o que está escrito nos Profetas, 15e tenho a esperança em Deus, que eles também aceitam, de que há-de haver a ressurreição dos justos e dos pecadores. 16Por isso, eu me esforço por manter sempre uma consciência irrepreensível, diante de Deus e dos homens. 17Ora, decorridos vários anos, vim trazer esmolas ao meu povo e fazer oblações. 18Foi nessa altura que me encontraram no templo, já purificado, sem ajuntamento nem tumulto. 19Certos judeus da Ásia é que deviam estar aqui para me acusarem, se tivessem alguma coisa contra mim. 20Que estes, aqui presentes, digam ao menos de que delito me reconheceram culpado, quando me apresentei diante do Sinédrio. 21A não ser que se trate desta frase que proferi em voz alta, quando estava no meio deles: ‘É por causa da ressurreição dos mortos que estou hoje a ser julgado na vossa presença.’»

Cativeiro de Paulo em Cesareia - 22Félix, acertadamente informado sobre tudo quanto se relacionava com a «Via», adiou a audiência, dizendo: «Quando o tribuno Lísias vier cá abaixo, examinarei o vosso caso.» 23E ordenou ao centurião que retivesse Paulo preso, mas que lhe concedesse alguma liberdade e não impedisse nenhum dos seus de lhe prestar assistência. 24Uns dias depois, Félix apareceu acompanhado de Drusila, sua mulher, que era judia. Mandou chamar Paulo e ouviu-o falar acerca da fé em Cristo Jesus. 25E como estava a discorrer sobre a justiça, a continência e o julgamento futuro, Félix, dominado pela inquietação, respondeu: «Por agora, podes ir. Chamar-te-ei na primeira oportunidade.» 26Ao mesmo tempo, também esperava que Paulo lhe desse dinheiro. Por isso, mandava-o chamar frequentemente, para conversar com ele. 27Entretanto, decorreram dois anos e Félix teve como sucessor Pórcio Festo. Desejando cair nas boas graças dos judeus, Félix deixou Paulo na prisão.

25 Paulo apela para César - 1Festo, três dias depois de ter tomado conta do governo da província, subiu de Cesareia a Jerusalém. 2Os sumos sacerdotes e os judeus mais categorizados expuseram-lhe as suas queixas contra Paulo e pediram-lhe insistentemente, 3como um favor, a transferência de Paulo para Jerusalém, enquanto preparavam uma emboscada para o matarem no caminho. 4Festo, porém, respondeu que Paulo devia continuar preso em Cesareia, e que ele próprio ia partir brevemente. 5«Portanto - acrescentou - os mais qualificados de entre vós, venham comigo a Cesareia e, se algum delito existe nesse homem, que apresentem acusações contra ele.» 6Depois de se demorar entre eles, não mais de oito a dez dias, desceu a Cesareia. No dia seguinte, sentou-se no tribunal e mandou trazer Paulo. 7Quando este chegou, viu-se rodeado pelos judeus descidos de Jerusalém, que logo apresentaram contra ele muitas acusações graves, cuja autenticidade não eram capazes de provar. 8Por seu lado, Paulo defendia-se: «Não cometi delito algum nem contra a lei dos judeus, nem contra o templo, nem contra César.» 9Mas, como desejava captar as boas graças dos judeus, Festo respondeu: «Queres subir a Jerusalém para lá seres julgado sobre este assunto, na minha presença?» 10Paulo replicou: «Estou perante o tribunal de César. Devo ser julgado aqui. Não fiz mal nenhum aos judeus, como sabes perfeitamente. 11Mas se, de facto, sou culpado, se cometi algum crime que mereça a morte, não recuso morrer. Se, porém, não há fundamento nas acusações dessa gente contra mim, ninguém tem o direito de me entregar a eles. Apelo para César!» 12Então, depois de conferenciar com o seu conselho, Festo respondeu: «Apelaste para César, irás a César.»

Paulo perante o rei Agripa - 13Alguns dias mais tarde, o rei Agripa e Berenice chegaram a Cesareia e foram apresentar cumprimentos a Festo. 14Como se demorassem vários dias, Festo expôs ao rei o caso de Paulo, dizendo: «Está aqui um homem que Félix deixou preso, 15e contra o qual, estando eu em Jerusalém, os sumos sacerdotes e os anciãos dos judeus apresentaram queixa, pedindo a sua condenação. 16Respondi-lhes que não era costume dos romanos conceder a entrega de homem algum, antes de o acusado ter os acusadores na sua frente e dispor da possibilidade de se defender da acusação. 17Vieram, pois, comigo e, sem mais demoras, sentei-me, no dia seguinte, no tribunal e mandei comparecer o homem. 18Postos em frente dele, os acusadores não alegaram nenhum dos crimes que eu pudesse suspeitar; 19só tinham com ele discussões acerca da sua religião e de um certo Jesus, que morreu e Paulo afirma estar vivo. 20Quanto a mim, embaraçado perante um debate deste género, perguntei-lhe se queria ir a Jerusalém, a fim de lá ser julgado sobre o assunto. 21Mas Paulo apelou para que a sua causa fosse reservada à decisão de Augusto e eu ordenei que o mantivessem preso até o enviar a César.» 22Agripa, então, disse a Festo: «Eu também gostaria de ouvir este homem.» Respondeu ele: «Ouvi-lo-ás, amanhã». 23No dia seguinte, Agripa e Berenice chegaram com grande pompa e entraram na sala da audiência, rodeados pelos tribunos e homens mais notáveis da cidade. A uma ordem de Festo, Paulo foi levado para dentro. 24Festo disse então:«Rei Agripa e vós todos os que estais presentes: aqui está este homem, contra o qual os judeus, em massa, me vieram falar, tanto em Jerusalém como aqui, gritando que ele não devia continuar a viver. 25Quanto a mim, reconheci que não tinha praticado coisa alguma digna de morte. Contudo, visto ter apelado para o Imperador, resolvi enviar-lho. 26Nada tenho de positivo a escrever ao Imperador a seu respeito. Por isso, mandei-o trazer à vossa presença, sobretudo à tua presença, rei Agripa, a fim de que, feito o interrogatório, eu tenha alguma coisa que escrever. 27De facto, parece-me absurdo mandar um prisioneiro sem mencionar as acusações que pesam sobre ele.»

26 Discurso de Paulo perante Agripa - 1Agripa disse a Paulo: «Estás autorizado a falar em tua defesa.» Então, estendendo a mão, Paulo começou a sua defesa: 2«Sinto-me feliz, ó rei Agripa, por ter de me defender hoje diante de ti, das acusações apresentadas pelos judeus contra mim, 3tanto mais que estás ao corrente de todos os costumes e controvérsias dos judeus. Rogo-te, por isso, que me oiças com paciência. 4A minha vida, a partir da mocidade, tal como decorreu desde os primeiros tempos, no meu povo e em Jerusalém, conhecem-na todos os judeus. 5Eles conhecem-me de longa data e, se quiserem, podem atestar que eu vivi, como fariseu, segundo o partido mais severo da nossa religião. 6E, agora, encontro-me aqui a ser julgado por causa da minha esperança na promessa feita por Deus a nossos pais, 7promessa que as nossas doze tribos esperam ver realizada, servindo a Deus, noite e dia, continuamente. É a respeito dessa esperança, ó rei, que os judeus me acusam. 8Porque é que, entre vós, se afigura incrível que Deus ressuscite os mortos? 9Quanto a mim, julguei dever levantar grande oposição ao nome de Jesus de Nazaré. 10E foi precisamente o que fiz em Jerusalém: com o pleno assentimento dos sumos sacerdotes, meti na prisão grande número de santos e, quando eram mortos, eu dava o meu assentimento. 11Muitas vezes ia de sinagoga em sinagoga e obrigava-os a blasfemar, à força de torturas. Num excesso de fúria contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras. 12Foi assim que, indo para Damasco com poder e delegação dos sumos sacerdotes, 13vi no caminho, ó rei, uma luz vinda do céu, mais brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me acompanhavam. 14Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ 15Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem tu persegues. 16Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. 17Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, 18para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim.’ 19Desde então, ó rei Agripa, não resisti à visão celeste. 20Pelo contrário, aos habitantes de Damasco, em primeiro lugar, depois aos de Jerusalém e de toda a província da Judeia, em seguida, aos pagãos, preguei que se arrependessem e voltassem para Deus, fazendo obras dignas de tal arrependimento. 21Eis o motivo por que os judeus se apoderaram de mim no templo e tentaram matar-me. 22Amparado pela protecção de Deus, continuei a dar o meu testemunho, diante de pequenos e grandes, sem nada dizer além do que os Profetas e Moisés predisseram que havia de acontecer: 23que o Messias tinha de sofrer e que, sendo o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, anunciaria a luz ao povo e aos pagãos.»

Agripa reconhece a inocência de Paulo - 24Neste ponto da sua defesa, Festo exclamou em voz alta: «Estás doido, Paulo! A tua grande sabedoria faz-te perder o juízo.» 25Disse Paulo: «Eu não estou doido, excelentíssimo Festo! Pelo contrário, estou a falar a linguagem da verdade e do bom senso. 26O rei está inteirado destas coisas e, por isso, lhe falo francamente, pois não creio que ele ignore nada disto, tanto mais que não foi a um canto que tudo se passou! 27Acreditas nos Profetas, rei Agripa? Eu sei que acreditas.» 28Agripa respondeu a Paulo: «Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!» 29Disse Paulo: «Prouvera a Deus que, por pouco ou por muito, não só tu, mas todos quantos hoje estão a ouvir-me se fizessem tais como eu sou, à excepção destas cadeias!» 30O rei levantou-se, assim como o governador, Berenice e os que estavam sentados com eles. 31Ao retirarem-se, diziam entre eles: «Este homem nada fez que mereça a morte ou os grilhões.» 32Agripa disse a Festo: «Este homem poderia ser posto em liberdade, se não tivesse apelado para César.»

27 Viagem do Cativeiro (27,1-28,29) - 1Quando o nosso embarque para Itália foi decidido, entregaram Paulo e mais alguns presos a um centurião da coorte Augusta, chamado Júlio. 2Embarcámos num navio de Adramítio que ia para as costas da Ásia, e fizemo-nos ao mar. Aristarco, macedónio de Tessalónica, ia connosco. 3No dia seguinte, fizemos escala em Sídon, e Júlio, que tratava Paulo com humanidade, permitiu-lhe que fosse ter com os amigos e deles recebesse os seus cuidados. 4Levantámos ferro e passámos a sotavento de Chipre, porque os ventos eram contrários. 5Atravessámos, depois, os mares da Cilícia e da Panfília e chegámos, ao fim de quinze dias, a Mira, na Lícia. 6O centurião encontrou lá um barco de Alexandria que ia de viagem para a Itália, e mandou-nos subir para bordo. 7Durante vários dias navegámos lentamente, até que chegámos, a custo, às imediações de Cnido, onde o vento não nos permitiu arribar. Contornámos, então, a sotavento de Creta, por alturas de Salmona; 8e, depois de a termos penosamente costeado, chegámos a um lugar denominado Bons Portos, a curta distância da cidade de Laseia. 9O tempo ia passando e a navegação tornou-se perigosa, por já ter mesmo passado o jejum. Paulo fez-lhes a seguinte advertência: 10«Meus amigos, eu vejo que a travessia não pode ser levada a cabo sem risco e graves prejuízos, tanto para a carga e para o barco, como também para as nossas vidas.» 11Mas o centurião deu mais crédito ao que o piloto e o capitão diziam do que à observação de Paulo. 12Como o porto não era adequado para passar o Inverno, a maior parte foi de parecer que largassem dali, para ver se podiam alcançar Fenice e lá passar o Inverno, por ser um porto de Creta voltado para sudoeste e noroeste. 13Começou então a soprar um ligeiro vento sul e julgaram-se capazes de levar avante o seu projecto, pelo que levantaram ferro e começaram a costear Creta junto à costa.

Tempestade e naufrágio - 14Em breve, porém, vindo da ilha, desencadeou-se, um vento ciclónico, chamado Euro-aquilão. 15Sem poder resistir ao vento, o barco foi arrastado e deixámo-nos ir à deriva. 16Passando velozmente ao abrigo de uma ilhota chamada Cauda, conseguimos, com grande dificuldade, lançar a mão à canoa. 17Depois de içada, empregaram-se os recursos de emergência: amarraram o barco com cabos e, com receio de encalharem no golfo de Sirte, soltaram a âncora flutuante e, assim, se deixaram ir. 18No dia seguinte, como éramos violentamente açoitados pela tempestade, começaram a alijar a carga 19e, ao terceiro dia, lançaram, com as próprias mãos, os aparelhos do barco. 20Durante vários dias, nem o Sol nem as estrelas foram visíveis, e a tempestade continuava a açoitar-nos furiosamente. Desde então, foi-se desvanecendo toda a esperança de salvação. 21Havia já muito tempo que ninguém comia. Então Paulo colocou-se no meio deles e disse: «Meus amigos, devíeis ter-me escutado e não largar de Creta. Isso ter-nos-ia poupado estes riscos e estes prejuízos. 22Seja como for, convido-vos a ter coragem, pois ninguém perderá a vida aqui, apenas o barco se vai perder. 23Esta noite, apareceu-me um Anjo de Deus, a quem pertenço e a quem sirvo, e disse-me: 24‘Nada receies, Paulo. É necessário que compareças diante de César e, por isso, Deus concedeu-te a vida de todos quantos navegam contigo.’ 25Portanto, coragem, meus amigos, pois tenho confiança em Deus que tudo sucederá como me foi dito. 26Contudo, temos de encalhar numa ilha.» 27Quando chegou a décima quarta noite, andando nós à deriva no Adriático, os marinheiros suspeitaram, pelo meio da noite, que estava próxima uma terra. 28Lançaram a sonda e encontraram vinte braças; um pouco mais adiante, lançaram-na outra vez e encontraram quinze. 29Receando que fôssemos bater em qualquer ponto contra os recifes, lançaram da popa quatro âncoras e ficaram, impacientemente, à espera, do dia. 30Os marinheiros, todavia, procuravam fugir do barco e, sob pretexto de irem largar as âncoras da proa, deitaram o escaler ao mar. 31Paulo, apercebendo-se de tudo, disse ao centurião e aos soldados: «Se esses homens não ficarem no barco, não podereis salvar-vos.» 32Então, os soldados cortaram as amarras do escaler e deixaram-no cair. 33Enquanto esperavam pelo dia, Paulo foi aconselhando a todos que tomassem alimento. «Hoje - dizia ele - é o décimo quarto dia que vos conservais na expectativa, em jejum, sem tomar nada. 34Aconselho-vos, portanto, a tomar algum alimento, pois é a vossa própria salvação que está em jogo. Nenhum de vós perderá um só cabelo da cabeça.» 35Dito isto, tomou um pão, deu graças a Deus diante de todos, partiu-o e começou a comer. 36Então, cobraram ânimo e também eles se alimentaram. 37Éramos ao todo duzentas e setenta e seis pessoas no barco. 38Uma vez saciados, aliviaram o barco, lançando o trigo ao mar. 39Quando o dia surgiu, não reconheceram a terra. Divisavam, porém, uma enseada com a sua praia e pretenderam impelir para lá o barco. 40Soltaram as âncoras, abandonando-as ao mar e, ao mesmo tempo, afrouxaram as cordas dos lemes. Depois içaram ao vento a vela da frente e seguiram rumo à praia. 41Mas, tendo batido num baixio, que tinha mar de ambos os lados, fizeram encalhar o navio. A proa, bem fincada, manteve-se firme, mas a popa foi-se desconjuntando com a força das vagas. 42Os soldados resolveram, então, matar os prisioneiros, para que nenhum deles fugisse a nado. 43Mas o centurião, querendo salvar Paulo, impediu-os de executar os seus planos e ordenou primeiro aos que sabiam nadar que alcançassem a terra, atirando-se à água. 44Quanto aos outros, foram para terra, quer sobre pranchas, quer sobre os destroços do barco. E, assim, chegaram todos a terra, sãos e salvos.

28 Paulo em Malta - 1Depois de salvos, é que soubemos que a ilha se chamava Malta. 2Os nativos trataram-nos com invulgar humanidade, pois acenderam uma grande fogueira, junto à qual nos recolheram a todos, por causa da chuva que estava a cair e por causa do frio. 3Paulo juntou um braçado de lenha seca e, ao lançá-la à fogueira, o calor fez saltar uma víbora que se lhe enroscou na mão. 4Quando os nativos viram a serpente pendurada na mão dele, disseram uns aos outros: «Com certeza, esse homem é assassino, pois conseguiu salvar-se do mar, mas a justiça divina não o deixa viver.» 5Mas ele, sacudindo o réptil para o fogo, não sofreu dano algum, 6enquanto eles esperavam que viesse a inchar ou a cair repentinamente morto. Depois de terem aguardado muito tempo e verem que nada de anormal lhe acontecia, mudaram de opinião e começaram a dizer que ele era um deus. 7Nas proximidades daquele sítio, havia umas terras pertencentes ao Primeiro da ilha, que se chamava Públio, o qual nos recebeu e, durante três dias, nos hospedou da forma mais cordial. 8Ora, o pai de Públio estava retido no leito com febre e disenteria. Paulo foi vê-lo e, depois de orar, impôs-lhe as mãos e curou-o. 9Em consequência disso, os outros enfermos da ilha vieram também procurá-lo e foram curados. 10Eles, por sua vez, cumularam-nos de honras e, na altura da partida, proveram-nos do que era necessário.
De Malta a Roma - 11Volvidos três meses, tomámos um barco de Alexandria com o emblema dos Dióscoros, que tinha passado o Inverno na ilha. 12Aportámos a Siracusa, onde ficámos três dias 13e, de lá, contornando a costa, chegámos a Régio. No dia imediato, levantou-se o vento sul e, em dois dias, alcançámos Putéolos, 14onde encontrámos irmãos, que nos convidaram a passar sete dias com eles. E assim é que fomos para Roma. 15Os irmãos desta cidade, prevenidos da nossa chegada, vieram ao nosso encontro até Foro de Ápio e Três Tabernas. Paulo, ao vê-los, deu graças a Deus e cobrou ânimo.

Paulo e os judeus de Roma - 16Quando entrámos em Roma, Paulo foi autorizado a ficar em alojamento próprio com o soldado que o guardava. 17Três dias depois, convocou os principais dos judeus e, quando estavam todos reunidos, disse-lhes:«Irmãos, embora nada tenha feito contra o povo ou contra os costumes paternos, fui preso em Jerusalém e entregue às mãos dos romanos. 18Estes, depois de me terem interrogado, queriam libertar-me, por não haver em mim crime algum digno de morte. 19Mas, como os judeus se opuseram, fui constrangido a apelar para César, sem querer, de modo algum, acusar o meu povo. 20Foi por este motivo que pedi para vos ver e falar, pois é por causa da esperança de Israel que trago estas cadeias.» 21Eles responderam-lhe: «Nós não recebemos da Judeia carta alguma a teu respeito, e não chegou aqui nenhum irmão que contasse ou dissesse mal de ti. 22Desejamos, porém, ouvir da tua boca o que pensas, pois, quanto à seita a que pertences, sabemos todos que, por toda a parte, encontra oposição.» 23Marcaram, então, o dia e vieram ter com ele, em maior número, ao seu alojamento. Desde a manhã até à tarde, Paulo não cessou de lhes dar testemunho do Reino de Deus e procurou convencê-los do que diz respeito a Jesus, invocando a lei de Moisés e os Profetas. 24Alguns deixaram-se persuadir com as suas palavras; outros, porém, mantiveram-se incrédulos. 25Estando em desacordo uns com os outros, começaram a separar-se. Paulo apenas disse estas palavras: «Com razão falou o Espírito Santo a vossos pais, pela boca do profeta Isaías, dizendo: 26Vai ter com esse povo e diz-lhe:Ouvireis com os vossos ouvidos,mas não compreendereis;vereis com os vossos olhos,mas não percebereis. 27Sim, o coração deste povo tornou-se endurecido.Taparam os ouvidose fecharam os olhos,não fossem ver com os olhos,e ouvir com os ouvidos,entender com o coração,converterem-se, e Eu curá-los! 28Ficai, agora, sabendo: esta salvação de Deus foi enviada aos pagãos que a hão-de escutar.» 29Depois de ele
ter dito estas palavras, os judeus retiraram-se, travando entre eles animada discussão.

Epílogo - 30Paulo permaneceu dois anos inteiros no alojamento que alugara, onde recebia todos os que iam procurá-lo, 31anunciando o Reino de Deus e ensinando o que diz respeito ao Senhor Jesus Cristo, com o maior desassombro e sem impedimento.