sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CARTA AOS FILIPENSES

Filipos era uma cidade situada ao norte da Grécia, que Filipe II da Macedónia, pai de Alexandre Magno, agregou ao seu reino, dando-lhe o seu próprio nome. Antes, chamava-se Krénides (ver Act 16,12). Paulo chegou a Filipos nos anos 49 ou 50, com Timóteo, Silvano e Lucas. O mesmo Lucas, nos Actos (Act 16,1-40), faz a narração do facto na primeira pessoa do plural, como um dos intervenientes nele.

COMUNIDADE Foi em Filipos que começou a evangelização da Europa. Os judeus, sendo poucos, não possuíam aí uma sinagoga, mas apenas um lugar de oração. Lídia, que Paulo baptizou, fazia parte deste grupo. Formou-se aí uma pequena comunidade, sobretudo de origem pagã (Act 16,11-40; 1 Ts 2,2).Esta comunidade sentia-se particularmente unida a Paulo; dela recebera o Apóstolo dons (4,15; 2 Cor 11,8-9), não obstante insistir no trabalho gratuito (1 Cor 4,12; 9,15; 2 Cor 11,7-9; 1 Ts 2,9; 2 Ts 3,7-9). Quando soube que ele fora preso, em Éfeso ou em Roma, organizou uma colecta e enviou-lhe Epafrodito para a entregar a Paulo. Epafrodito, porém, caiu doente, o que causou preocupações em Filipos. Paulo, logo que a doença o permitiu, reenviou-o a Filipos, com esta Carta (2,25-30).

DATA E LOCAL Esta é, pois, com Cl e Flm, uma das Cartas do Cativeiro. Parece ter sido escrita em Roma (Act 28,16.30-31); no entanto, poderá ter sido escrita num outro qualquer cativeiro (2 Cor 11,23; ver 1 Cor 15,32; 2 Cor 1,8). «O pretório», de 1,13, não prova que Paulo tenha escrito a Carta em Roma, pois esse termo designava também a residência dos governadores romanos (Mt 27,27 nota; Mc 15,16; Jo 18,28-31 nota). O mesmo se diga da «casa de César» (4,22). O cativeiro pode, pois, ter sido em Éfeso, onde passou dois anos (Act 19,8-10). Se foi escrita nesta cidade, a Carta seria dos anos 56-57; se foi escrita na prisão de Roma, teria sido nos primeiros meses de 63.

DIVISÃO E CONTEÚDO O conteúdo da Carta é o seguinte:Introdução: 1,1-11;I.Prisão de Paulo: 1,12-26;II.Deveres da comunidade: 1,27-2,18;III.Solicitude pela comunidade: 2,19-3,1;IV.O Apóstolo, modelo da comunidade: 3,2-4,1;Conclusão: 4,2-23.

TEOLOGIA Esta Carta não tem um pensamento teológico organizado. No entanto, sobressaem algumas doutrinas: a comunhão fraterna entre a comunidade e o Apóstolo. Apesar de estar preso, Paulo vê nestes acontecimentos dramáticos uma fonte de esperança para o anúncio do Evangelho.Por seu lado, os Filipenses deverão ser fiéis a Cristo perante os falsos mestres, imitando Paulo (3,2-11). Para exortar os cristãos, o Apóstolo cita-lhes um hino a Cristo, servo sofredor (Is 53), mas que Deus fez Senhor de toda a Criação (2,6-11). Uma característica fundamental desta Carta é o tom afectuoso, que perpassa todo o texto.

INTRODUÇÃO (1,1-11)
1 Apresentação e saudação - 1Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com seus bispos e diáconos: 2a vós a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!
Acção de graças pelos Filipenses - 3Todas as vezes que me lembro de vós, dou graças ao meu Deus, 4sempre, em toda a minha oração por todos vós. É uma oração que faço com alegria, 5por causa da vossa participação no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6E é exactamente nisto que ponho a minha confiança: aquele que em vós deu início a uma boa obra há-de levá-la ao fim, até ao dia de Cristo Jesus. 7É justo que eu tenha tais sentimentos por todos vós, pois tenho-vos no coração, a todos vós que, nas minhas prisões e na defesa e consolidação do Evangelho, participais na graça que me foi dada. 8Pois Deus é minha testemunha de quanto anseio por todos vós, com a afeição de Cristo Jesus. 9E é por isto que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, 10para vos poderdes decidir pelo que mais convém, e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, 11repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus.

I. PRISÃO DE PAULO (1,12-26)
Alegria pelo progresso do Evangelho - 12Quero comunicar-vos, irmãos, que o que se passa comigo acabou até por contribuir para o progresso do Evangelho. 13Assim, foi em Cristo que as minhas prisões se tornaram conhecidas em todo o pretório e de todos os restantes. 14E a maior parte dos irmãos no Senhor, é pela confiança ganha devido às minhas prisões, que têm ainda mais coragem para, sem medo anunciar a Palavra. 15É certo que alguns é por inveja e rivalidade, mas outros é mesmo com boa intenção que pregam a Cristo: 16os que o fazem por amor sabem que estou designado para a defesa do Evangelho; 17mas os que anunciam a Cristo por ambição, sem sinceridade, pensam que estão a agravar a tribulação que sofro nas minhas prisões. 18Mas que importa? Desde que, de qualquer modo, com segundas intenções ou com verdade, Cristo seja anunciado. É com isso que me alegro.

Alegria por estar em Cristo -Mais ainda: continuarei a alegrar-me; 19pois sei que isto irá resultar para mim em salvação, graças às vossas orações e ao apoio do Espírito de Jesus Cristo, 20de acordo com a ansiedade e a esperança que tenho de que em nada serei envergonhado. Pelo contrário: com todo o desassombro, agora como sempre, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte. 21É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. 22Se, entretanto, eu viver corporalmente, isso permitirá que dê fruto a obra que realizo. Que escolher então? Não sei. 23Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor; 24mas continuar a viver é mais necessário por causa de vós. 25E é confiado nisto que eu sei que ficarei e continuarei junto de todos vós, para o progresso e a alegria da vossa fé, 26a fim de que a glória, que tendes em Cristo Jesus por meio de mim, aumente com a minha presença de novo junto de vós.

II. DEVERES DA COMUNIDADE (1,27-2,18)
Viver de acordo com o Evangelho - 27Só isto é necessário: comportai-vos em comunidade de um modo digno do Evangelho de Cristo, para que - quer eu vá ter convosco, quer esteja ausente - ouça dizer isto de vós: que permaneceis firmes num só espírito, lutando juntos, numa só alma, pela fé no Evangelho 28e não vos deixando intimidar em nada pelos adversários - o que para eles é sinal de perdição, porém, é sinal da vossa salvação; e isto vem de Deus. 29Porque, a vós foi dada a graça de assim actuardes por Cristo: não só a de nele acreditar, mas também a de sofrer por Ele, 30assumindo o mesmo combate que vistes em mim e de que agora ouvis falar a respeito de mim.

2 Ter os mesmos sentimentos em Cristo Jesus - 1Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afectuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afecto e compaixão, 2então fazei com que seja completa a minha alegria: procurai ter os mesmos sentimentos, assumindo o mesmo amor, unidos numa só alma, tendo um só sentimento; 3nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, 4não tendo cada um em mira os próprios interesses, mas todos e cada um exactamente os interesses dos outros. 5Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus: 6Ele, que é de condição divina,não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; 7no entanto, esvaziou-se a si mesmo,tomando a condição de servo.Tornando-se semelhante aos homense sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, 8rebaixou-se a si mesmo,tornando-se obediente até à mortee morte de cruz. 9Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudoe lhe concedeu o nomeque está acima de todo o nome, 10para que, ao nome de Jesus,se dobrem todos os joelhos,os dos seres que estão no céu,na terra e debaixo da terra; 11 e toda a língua proclame:"Jesus Cristo é o Senhor!",para glória de Deus Pai.

Prisioneiro de Cristo - 12Por isso, meus caríssimos, na mesma medida em que sempre fostes obedientes - não só como aconteceu na minha presença, mas agora com muito mais razão na minha ausência - trabalhai com temor e tremor pela vossa salvação. 13Pois é Deus quem, segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir. 14Fazei tudo sem murmurações nem discussões, 15para serdes irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo. 16Conservai a palavra da vida. Para mim será um motivo de glória para o dia de Cristo, por não ter corrido em vão nem me ter esforçado em vão. 17Mas alegro-me até mesmo se o meu sangue tiver de ser derramado em sacrifício e oferta pela vossa fé; sim, com todos vós me alegro. 18Do mesmo modo, alegrai-vos também vós; sim, alegrai-vos comigo.

III. SOLICITUDE PELA COMUNIDADE (2,19-3,1)
Desejo de enviar Timóteo - 19Espero, no Senhor Jesus, enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu fique bem disposto, ao saber da vossa vida. 20É que não tenho ninguém com igual disposição, que tão sinceramente se preocupe pela vossa vida. 21De facto, todos os demais procuram os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo. 22Mas as provas dadas por ele, vós as conheceis: como um filho para com o pai, entregou-se comigo a servir o Evangelho. 23É a ele, pois, que espero enviar-vos, logo que veja com clareza a minha situação. 24Mas estou confiante no Senhor de que também eu próprio irei em breve.

Envio e recomendação de Epafrodito - 25Entretanto, acho necessário enviar-vos Epafrodito, meu irmão, colaborador e companheiro de luta e vosso enviado para me servir nas minhas necessidades. 26É que ele tem sentido saudades de todos vós e tem-se preocupado, por terdes ouvido dizer que esteve doente. 27E é verdade: esteve doente, à beira da morte. Mas Deus compadeceu-se dele; não dele apenas, mas também de mim, para que não tenha tristeza sobre tristeza. 28Por isso, mais depressa o envio, para que, ao vê-lo, de novo vos alegreis e eu fique menos triste. 29Recebei-o, portanto, no Senhor, com toda a estima e estimai homens como ele; 30pois foi por causa da obra de Cristo que esteve perto da morte, arriscando a vida, para vos substituir nos serviços que vos era impossível prestar-me.
3 1De resto, meus irmãos, alegrai-vos no Senhor. Escrever-vos as mesmas coisas, a mim não me custa, e a vós torna-vos firmes.

IV. O APÓSTOLO MODELO DA COMUNIDADE (3,2-4,1)
Os falsos mestres e o Apóstolo - 2Cuidado com esses cães, cuidado com esses maus trabalhadores, cuidado com os falsos circuncisos! 3Porque nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne - 4ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso muito mais: 5circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; 6no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça - a que se procura na lei - irrepreensível. 7Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. 8Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo 9e nele ser achado, não com a minha própria justiça, a que vem da Lei, mas com a que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e que se apoia na fé. 10Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, 11para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos. 12Não que já o tenha alcançado ou já seja perfeito; mas corro, para ver se o alcanço, já que fui alcançado por Cristo Jesus. 13Irmãos, não me julgo como se já o tivesse alcançado. Mas uma coisa faço: esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, 14corro em direcção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus. 15Todos nós, os perfeitos, tenhamos, pois, estes sentimentos! E, se porventura tiverdes sentimentos diferentes, Deus vos há-de esclarecer sobre este assunto. 16De qualquer modo, aquilo a que chegámos, é por isso que nos devemos orientar. 17Sede todos meus imitadores, irmãos, e olhai atentamente para aqueles que procedem conforme o modelo que tendes em nós. 18É que muitos - de quem várias vezes vos falei e agora até falo a chorar - são, no seu procedimento, inimigos da cruz de Cristo: 19o seu fim é a perdição, o seu Deus é o ventre, e gloriam-se da sua vergonha - esses que estão presos às coisas da terra. 20É que, para nós, a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. 21Ele transfigurará o nosso pobre corpo, conformando-o ao seu corpo glorioso, com aquela energia que o torna capaz de a si mesmo sujeitar todas as coisas.
4 1Portanto, meus caríssimos e saudosos irmãos, minha coroa e alegria, permanecei assim firmes no Senhor, caríssimos.

CONCLUSÃO (4,2-23)
Viver na alegria do Senhor - 2Exorto Evódia e exorto Síntique a terem o mesmo pensamento no Senhor. 3Sim, e a ti, fiel Sízigo, peço-te que as acolhas; são pessoas que, em conjunto, lutaram comigo pelo Evangelho, juntamente com Clemente e os meus restantes colaboradores, cujos nomes estão no livro da Vida. 4Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos! 5Que a vossa bondade seja conhecida por todos. O Senhor está próximo. 6Por nada vos deixeis inquietar; pelo contrário: em tudo, pela oração e pela prece, apresentai os vossos pedidos a Deus em acções de graças. 7Então, a paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. 8De resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é respeitável, tudo o que possa ser virtude e mereça louvor, tende isso em mente. 9E o que aprendestes e recebestes, ouvistes de mim e vistes em mim, ponde isso em prática. Então, o Deus da paz estará convosco.

Agradecimento aos Filipenses - 10É grande a alegria que sinto no Senhor por, finalmente, terdes feito com que desabrochasse o vosso amor por mim. É que tínheis o interesse, mas faltava a oportunidade. 11Não falo assim por me sentir carecido. Pois, no meu caso, aprendi a ser autónomo nas situações em que me encontre. 12Sei passar por privações, sei viver na abundância. Em toda e qualquer situação, estou preparado para me saciar e passar fome, para viver na abundância e sofrer carências. 13De tudo sou capaz naquele que me dá força. 14Entretanto, fizestes bem em tomar parte na minha tribulação. 15Vós bem o sabeis, filipenses: no início da pregação do Evangelho, quando saí da Macedónia, nenhuma outra igreja esteve em comunhão comigo na permuta de dar e receber, a não ser apenas vós: 16em Tessalónica e por duas vezes me enviastes socorro para as minhas necessidades. 17Não é que eu esteja à procura de donativos; o que procuro, sim, é que aumente o produto, que está registado na vossa conta. 18Sim, tudo recebi em abundância. Estou plenamente fornecido, depois de receber de Epafrodito o que veio da vossa parte: um odor perfumado, um sacrifício que Deus aceita e lhe é agradável. 19E o meu Deushá-de compensar-vos plenamente em todas as necessidades, segundo a sua riqueza, na glória que se tem em Cristo Jesus. 20A Deus nosso Pai, a glória pelos séculos dos séculos! Ámen!

Saudação final - 21Saudai cada um dos santos em Cristo Jesus. Saúdam-vos os irmãos que estão comigo. 22Saúdam-vos todos os santos, mas em especial os da casa de César. 23A graça do Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito!

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