sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CARTA AOS GÁLATAS

A Carta aos Gálatas é uma das mais lidas e comentadas em todo o mundo cristão. E dos escritos paulinos foi dos mais explorados por alguns grupos ou Igrejas, sobretudo em dois momentos: o da polémica de Santo Agostinho com o herético Pelágio (séc. IV) e o dos Reformadores, no debate católico-protestante.

DATA E DESTINATÁRIOS Quem são os Gálatas? No tempo do NT, a Galácia era uma província romana da Ásia Menor, que abrangia os seguintes territórios: a Galácia propriamente dita, a Frígia, a Pisídia e a Licaónia. Galácia, nos Actos (Act 16,6; 18,23), distingue-se da Frígia.As igrejas da Galácia devem ter sido fundadas por ocasião da 1.ª viagem missionária de Paulo (Act 13,1-14,26). O Apóstolo dos gentios escreve a Carta aos Gálatas entre 55 e 57, a partir de Éfeso ou de Corinto, depois de 1 Ts e antes de Rm, Fl e Flm.

CONTEXTO Na altura, nem sempre havia uma distinção clara entre judaísmo e cristianismo. Pregadores judeus, que seguiram os passos de Paulo, vieram anunciar a necessidade da circuncisão para a salvação. É que, no início da Igreja, o mais sério problema que se apresentou à consciência cristã foi o da relação da “nova doutrina” de Cristo com a Lei de Moisés, ou melhor, com o Antigo Testamento.O Antigo Testamento, cujos cinco primeiros livros, ou Pentateuco, constituem a Lei de Moisés, ainda hoje é venerado pelos cristãos como Palavra de Deus; mas as suas prescrições sobre o culto, os alimentos, as doenças, etc. ver o Levítico deixaram de vigorar. Hoje, é claro que não estamos obrigados a tais prescrições; para os primeiros cristãos, porém, o assunto não era tão claro. Tratava-se de judeus convertidos, que continuavam a observar a Lei e a circuncidar-se. A Igreja nasceu no seio do Antigo Testamento.Esta Carta pode considerar-se uma espécie de circular, apaixonada e polémica (5,12), dirigida às pequenas comunidades dispersas pelo imenso território da Galácia, que estavam em situação de crise de identidade cristã. Tratava-se da fidelidade ou infidelidade ao Evangelho, num momento em que o cristianismo corria perigo de se converter numa simples seita judaica.

DIVISÃO E CONTEÚDO O conteúdo desta Carta pode resumir-se no seguinte:Introdução: 1,1-10;I.Origem divina do Evangelho: 1,11-2,21;II.O Evangelho faz-nos filhos de Deus: 3,1-4,7;III.O Evangelho faz-nos livres: 4,8-5,12;IV.Vida cristã, caminho de liberdade: 5,13-6,10;Conclusão: 6,11-18.

TEOLOGIA A discussão acerca do anúncio do Evangelho também aos pagãos, considerados imundos pela Lei (Act 10-11; 15), foi o primeiro problema que surgiu após a Ressurreição de Cristo e do Pentecostes. Depois, levantou-se o problema de se os cristãos, vindos do paganismo, estavam também sujeitos à Lei mosaica. Divergiam as opiniões. Paulo, apesar de ser judeu da seita dos fariseus (os mais zelosos da Lei), tornou-se o campeão da liberdade cristã ou da não sujeição à Lei, interpretada à maneira dos fariseus. Isso mereceu-lhe a hostilidade, não só dos judeus, mas também dos cristãos de origem judaica. O chamado concílio de Jerusalém (Act 15) não conseguira acalmar completamente os ânimos. Cristãos de origem judaica os judaizantes puseram em causa a validade e legitimidade do anúncio evangélico feito por Paulo, negando-lhe a dignidade apostólica e acusando-o de pregar um Evangelho mutilado e de anunciar um cristianismo diferente do dos outros Apóstolos de Jerusalém. Por isso, tentavam submeter os recém-convertidos ao jugo da Lei.Foi o que aconteceu nas igrejas paulinas da Galácia. Nas pegadas do Apóstolo, os judaizantes atraíram os gálatas para a sua causa. Paulo escreveu-lhes, então, esta Carta polémica, em defesa da sua dignidade apostólica e da ortodoxia da sua doutrina, reconhecida, sobretudo, pelas colunas da Igreja-mãe de Jerusalém; expõe aqui o seu pensamento sobre as relações entre a Lei de Moisés e Cristo. Este último ponto será amplamente tratado na Carta aos Romanos, cronologicamente posterior à Carta aos Gálatas.Para o Apóstolo, a Lei de Moisés foi sobretudo «um pedagogo», cuja missão era conduzir a Cristo (3, 24). Se os cristãos continuassem a observar a Lei como necessária para a salvação, então a obra de Cristo teria sido inútil: a salvação não nos viria por Ele, mas pela Lei. Por isso, o que nos justifica não são as obras da Lei, mas a fé em Cristo.Partindo deste princípio, Paulo vai ainda mais longe. Esforça-se por provar aos seus adversários que a Lei nunca justificou ninguém. O próprio Abraão não foi justificado pela observância da Lei, mas pela fé e pela Promessa.A Lei não fez mais do que manifestar o pecado, ao indicar um caminho, sem dar forças para o seguir. Só a Boa-Nova de Cristo, que é poder de Deus para todo o que crê, justifica, porque, indicando o caminho, dá também a força sobrenatural para o seguir.O grupo dos judaizantes quase desapareceu com a queda de Jerusalém, por volta do ano 70.

INTRODUÇÃO (1,1-10)
1 Apresentação e saudação - 1Paulo, apóstolo - não da parte dos homens, nem por meio de homem algum, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos - 2e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: 3Graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, 4que a si mesmo se entregou pelos nossos pecados, para nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai. 5A Ele a glória pelos séculos dos séculos! Ámen.

Repreensão aos gálatas - 6Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. 7Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. 8Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. 9Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema. 10Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.

I. ORIGEM DIVINA DO EVANGELHO (1,11-2,21)
Revelação divina do Evangelho (Act 9,1-22; 22,6-16; 26,12-23; 1 Cor 9,1; 15,9-10) - 11Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; 12pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo. 13Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a Igreja de Deus e procurava devastá-la; 14e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais. 15Mas, quando aprouve a Deus - que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça - 16revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma, 17nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco. 18A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. 19Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir. 21Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22Mas não era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo que estão na Judeia. 23Apenas tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como Evangelho, a fé que então devastava.» 24E, por causa de mim, glorificavam a Deus.

2 Reconhecimento do Evangelho em Jerusalém - 1A seguir, catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando comigo também Tito. 2Mas subi devido a uma revelação. E pus à apreciação deles - e, em privado, à dos mais considerados - o Evangelho que prego entre os gentios, não esteja eu a correr ou tenha corrido em vão. 3Contudo, nem sequer Tito, que estava comigo, sendo grego, foi forçado a circuncidar-se. 4Ora, por causa de uns intrusos, falsos irmãos, esses que furtivamente se intrometeram a espiar a nossa liberdade, aquela que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzirem à escravidão… 5A esses nem sequer uma hora cedemos nem nos sujeitámos, para que a verdade do Evangelho se mantivesse para vós. 6Mas, quanto àqueles que eram considerados como autoridades - o que eles eram outrora de nada me interessa, já que Deus não faz acepção de pessoas - a mim, com efeito, nada mais me impuseram. 7Antes pelo contrário: tendo visto que me tinha sido confiada a evangelização dos incircuncisos, como a Pedro a dos circuncisos - 8pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios - 9e tendo reconhecido a graça que me havia sido dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas, deram-nos a mão direita, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para irmos, nós aos gentios e eles aos circuncisos. 10Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres - o que procurei fazer com o maior empenho.
Conflito com Pedro em Antioquia - 11Mas, quando Cefas veio para Antioquia, opus-me frontalmente a ele, porque estava a comportar-se de modo condenável. 12Com efeito, antes de terem chegado umas pessoas da parte de Tiago, ele comia juntamente com os gentios. Mas, quando elas chegaram, Pedro retirava-se e separava-se, com medo dos partidários da circuncisão. 13E com ele também os outros judeus agiram hipocritamente, de tal modo que até Barnabé foi arrastado pela hipocrisia deles. 14Mas, quando vi que não procediam correctamente, de acordo com a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: «Se tu, sendo judeu, vives segundo os costumes gentios e não judaicos, como te atreves a forçar os gentios a viver como judeus?»

A salvação pela fé - 15Nós, por nascimento, somos judeus, e não pecadores de entre os gentios. 16Sabemos, porém, que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada. 17Mas se, ao procurarmos ser justificados pela fé em Cristo, fomos também nós achados como pecadores, não será Cristo um servidor do pecado? De maneira nenhuma! 18Se, com efeito, aquilo que eu tinha destruído, o volto a construir, sou eu que a mim próprio me apresento como transgressor. 19É que eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. 20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim. 21Não rejeito a graça de Deus; porque, se a justiça viesse pela Lei, então teria sido inútil a morte de Cristo.

II. O EVANGELHO FAZ-NOS FILHOS DE DEUS (3,1-4,7)
3 Recebemos o Espírito - 1Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? 3Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição? 4Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas? Se é que foi mesmo em vão! 5Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, será, pois, que o faz pelas obras da Lei ou pela pregação da fé?

Como Abraão, salvos pela fé - 6Assim foi com Abraão: teve fé em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. 7Ficai, por isso, a saber: os que dependem da fé é que são filhos de Abraão. 8E como a Escritura previu que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão abençoados em ti todos os povos. 9Assim, os que dependem da fé são abençoados com o crente Abraão. 10É que todos os que estão dependentes das obras da Lei estão sob maldição, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que não persevera em tudo o que está escrito no livro da Lei, em ordem a cumpri-lo. 11E que, pela Lei, ninguém é justificado diante de Deus, é coisa evidente, pois aquele que é justo pela fé é que viverá. 12E a Lei não está dependente da fé; pelo contrário: Quem cumprir as suas prescrições viverá por elas. 13Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, ao fazer-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro. 14Isto, para que a bênção de Abraão chegasse até aos gentios, em Cristo Jesus, para recebermos a promessa do Espírito, por meio da fé.

A Lei de Moisés não anula as promessas a Abraão - 15Irmãos, vou falar-vos à maneira humana: Mesmo vindo de um homem, um testamento que tenha entrado em vigor ninguém o pode anular ou aumentar. 16Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não se diz: «e às descendências», como se de muitas se tratasse; trata-se, sim, de uma só: E à tua descendência, que é Cristo. 17Ora, é exactamente isto que quero dizer: um testamento que antes tinha sido posto em vigor por Deus, não é a Lei, aparecida quatrocentos e trinta anos depois, que o vai invalidar e assim anular a promessa. 18É que, se é da Lei que vem a herança, então não é da promessa. Mas foi pela promessa que Deus concedeu a sua graça a Abraão.

A Lei, pedagogo até Cristo chegar - 19Porquê, então, a Lei? Por causa das transgressões é que ela foi acrescentada, até chegar a descendência a quem a promessa foi feita; foi estabelecida através de anjos pela mão de um mediador. 20Ora, o mediador não o é de um só, ao passo que Deus é único. 21Estará então a Lei contra as promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que fosse capaz de dar a vida, a justiça viria realmente pela Lei. 22Só que a Escritura tudo fechou sob o pecado, para que a promessa fosse dada aos crentes pela fé em Jesus Cristo. 23Antes, porém, de chegar a fé, estávamos prisioneiros da Lei, estávamos fechados, até à fé que havia de revelar-se. 24Deste modo, a Lei tornou-se nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. 25Uma vez, porém, chegado o tempo da fé, já não estamos sob o domínio do pedagogo. 26É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé; 27pois todos os que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo mediante a fé. 28Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. 29E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.

4 Em Cristo, somos filhos de Deus - 1Mas eu digo-vos: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, em nada difere de um escravo, apesar de ser senhor de tudo. 2Pelo contrário, está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado pelo seu pai. 3Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos. 4Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, 5para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. 6E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!" 7Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus.

III. O EVANGELHO FAZ-NOS LIVRES (4,8-5,12)
Não voltar à escravidão - 8Mas outrora, quando não conhecíeis a Deus, servistes os deuses que, na realidade, o não são. 9Agora, porém, tendo conhecido a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível que vos convertais outra vez aos elementos fracos e pobres, querendo novamente ser escravos deles? 10Observais os dias e os meses, as estações e os anos! 11Temo, a vosso respeito, que afinal tenha sido em vão o trabalho que suportei por vós.

O Apóstolo na origem da comunidade - 12Isto vos peço, irmãos: sede como eu, pois também eu me tornei como vós. Em nada me ofendestes. 13Mas sabeis que foi por causa de uma doença corporal que vos anunciei o Evangelho pela primeira vez. 14Embora o meu corpo fosse para vós uma provação, não reagistes com desprezo nem nojo. Pelo contrário: recebestes-me como um anjo de Deus, como a Cristo Jesus. 15Onde estava, pois, a vossa felicidade? Sim, disto eu sou testemunha a vosso favor: se tivesse sido possível, teríeis arrancado os vossos olhos para mos dar. 16Tornei-me então vosso inimigo, ao dizer-vos a verdade? 17Não é por bem que eles andam a interessar-se por vós. Pelo contrário: o que querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. 18Bom é, sim, que vos interesseis sempre pelo bem, e não apenas quando estou convosco. 19Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós! 20Sim, como desejaria estar agora convosco e mudar o tom da minha voz! É que eu estou perplexo a vosso respeito.

Sara e Agar - 21Dizei-me, vós que quereis estar sob o domínio da Lei: afinal não dais ouvidos à Lei? 22Com efeito, está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro da mulher livre. 23Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. 24Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. 25Ora, Agar é o nome dado, na Arábia, ao monte Sinai, e corresponde à Jerusalém actual, já que se encontra sob a escravidão, juntamente com os seus filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, 27pois está escrito:Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz;rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto;pois são muitos os filhos da abandonada,mais do que os daquela que tem marido! 28E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa. 29Só que, como então o que foi geradosegundo a carne perseguia o que o foi segundo o Espírito, assim também agora. 30Mas que diz a Escritura?Expulsa a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. 31Por isso, irmãos,não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.

5 A liberdade cristã - 1Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão. 2Reparai, sou eu, Paulo, que vo-lo digo: se vos circuncidardes, Cristo de nada vos servirá. 3Uma vez mais o atesto a todo o homem que se circuncida: fica obrigado a cumprir toda a Lei. 4Tornastes-vos uns estranhos para Cristo, vós os que pretendeis ser justificados pela Lei; abandonastes a graça. 5Porque nós, é em virtude da fé, pelo Espírito, que aguardamos a justiça que esperamos. 6Pois, em Cristo, nem a circuncisão vale alguma coisa, nem a incircuncisão, mas sim a fé que actua pelo amor. 7Corríeis bem. Quem foi que vos deteve, impedindo-vos de obedecer à verdade? 8Uma persuasão assim não vem daquele que vos chama. 9Um pouco de fermento faz fermentar toda a massa. 10Eu, a respeito de vós, tenho confiança no Senhor, de que de maneira nenhuma ireis pensar de outro modo. Mas quem vos perturba sofrerá a condenação, seja ele quem for. 11Quanto a mim, irmãos, se eu ainda prego a circuncisão, porque sou ainda perseguido? 12Acabou-se, portanto, o escândalo da cruz. Aqueles que vos inquietam, o que eles deviam era castrar-se.

IV. VIDA CRISTÃ, CAMINHO DA LIBERDADE (5,13-6,10)
Livres no amor - 13Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados. Só que não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais. Pelo contrário: pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. 14É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra:Ama o teu próximo como a ti mesmo. 15Mas, se vos mordeis e devorais uns aos outros, cuidado, não sejais consumidos uns pelos outros.

Viver segundo o Espírito - 16Mas eu digo-vos: caminhai no Espírito, e não realizareis os apetites carnais. 17Porque a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito, o que é contrário à carne; são, de facto, realidades que estão em conflito uma com a outra, de tal modo que aquilo que quereis, não o fazeis. 18Ora, se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei. 19Mas as obras da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza, devassidão, 20idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que praticarem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. 22Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei. 24Mas os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito. 26Não nos tornemos vaidosos, a provocar-nos uns aos outros, a ser invejosos uns dos outros.

6 Caridade fraterna - 1Irmãos, se porventura um homem for apanhado nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão; e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado. 2Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo. 3É que, se alguém julga ser alguma coisa, nada sendo, engana-se a si mesmo. 4Mas examine cada um a sua própria acção, e então o motivo de glória que encontrar, tê-lo-á em relação a si próprio e não em relação ao outro. 5Pois cada um terá de carregar o próprio fardo. 6Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens. 7Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Pois o que um homem semear, também o há-de colher: 8quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. 9E não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. 10Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé.

CONCLUSÃO (6,11-18)
11Vede com que grandes letras vos escrevo pela minha mão! 12Todos quantos querem fazer boa figura, são esses que vos forçam a circuncidar-vos, só para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13Pois nem mesmo aqueles que se circuncidam observam a Lei; mas o que querem é que vos circuncideis, para se poderem gloriar na vossa carne. 14Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação. 16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus. 17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus. 18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!Ámen.

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