quarta-feira, 14 de outubro de 2009

GÉNESIS

GÉNESIS

Ao primeiro livro da Bíblia e, portanto, do Pentateuco damos hoje o nome de Génesis. É termo grego e significa “origem”, “nascimento”. Os livros da Bíblia Hebraica não tinham qualquer título. Eram chamados, simplesmente, pela primeira ou primeiras palavras. Este chamava-se berechit. Os autores da tradução da Bíblia Hebraica para o grego (Bíblia dos Setenta) acharam por bem dar aos livros um título de acordo com o seu conteúdo. Como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe Génesis, isto é, Livro das Origens.

Conteúdo e estrutura Todos os povos se perguntaram alguma vez: Donde viemos? Qual foi a nossa origem? Quem foi o fundador do nosso povo? Qual o nosso destino? Umas vezes, essas perguntas eram formuladas a partir de situações de desgraça colectiva: Que sentido tem o nosso fracasso e o nosso sofrimento? Que sentido tem a morte irremediável? Há um Alguém que possa responder a todas as interrogações do homem? Outras vezes, tinham um fundo político, pretendendo legitimar situações de privilégio presente ou reclamar direitos fundados num passado mais ou menos remoto.O povo de Israel, na sua reflexão interna ou no confronto com outros povos, religiões e culturas, colocou a si próprio estas e outras questões semelhantes e deixou-nos as suas respostas neste livro. O Génesis é, pois, o livro das grandes interrogações e das grandes respostas, não só do povo de Deus, mas de toda a humanidade. Por isso se diz que este livro é uma espécie de grande pórtico da catedral da Bíblia, pois de algum modo a resume na totalidade da sua beleza e conteúdo.O Génesis engloba, também, grande parte da História do povo de Israel: desde “as origens” até à estadia de Jacob no Egipto e a consequente formação das doze tribos. Pretendendo dar-nos uma concepção histórica, horizontal e dinâmica da História da Salvação, este livro faz a ligação entre “as origens” da humanidade (1,1) e a História concreta do povo de Israel. Por isso apresenta-nos, sobretudo nos 11 primeiros capítulos, teologia e catequese em forma de História, ou melhor, de histórias e não de factos históricos no sentido científico.Poderíamos resumir assim o seu conteúdo:

I. História das Origens (1,1-11,32)1,1-2,4a: Criação do universo e dos seus habitantes (segundo a tradição Sacerdotal: P).2,4b-3,24: Formação do homem e da mulher. Origem do pecado (tradição Javista: J).4,1-24: “História de dois irmãos”, Caim e Abel. Descendência do primeiro.4,25-5,32: Set e a sua descendência.6,1-9,17: Corrupção da humanidade e Dilúvio (anti-Criação).9,18-10,32: Re-criação, a partir de Noé, o homem novo. Lista de povos.11,1-9: Torre de Babel: a humanidade constrói uma sociedade sem Deus.11,10-32: Descendência de Sem até Abraão, promessa de um povo novo.II. História dos Patriarcas(12,1-50,26)Ciclo de Abraão (12,1-23,20): vocação, emigração para Canaã e Egipto. Nascimento de Isaac e Ismael. Morte de Abraão.Ciclo de Isaac (24,1-27,46).Ciclo de Jacob (28,1-36,43): já a partir de 25,19, Jacob começa a tornar-se a personagem principal, tanto em relação ao pai (Isaac), como em relação a seu irmão Esaú.Ciclo de José (37,1-50,26): o penúltimo dos filhos de Jacob, vendido como escravo para o Egipto, faz a ligação histórica e teológica com o livro seguinte, o Êxodo. É um ciclo muito especial, também chamado História de José.Este esquema histórico-literário apresenta-se como uma obra prima, não só a nível teológico, mas também na sua estrutura literária. De facto, a “História das Origens” (cap. 1-11) aparece como Prólogo histórico-teológico da História de Israel e da humanidade. E pretende ser o elo de ligação entre a Criação do mundo e Abraão, o pai do povo hebreu (cap. 12). O Egipto, como lugar de escravidão do Povo, é lugar de peregrinação para Abraão, Jacob e José. Estes e outros elementos fazem a ligação deste livro com o Êxodo e com os outros livros seguintes.

Fontes e géneros literários Donde vem todo este material?O povo hebreu vivia numa região onde se cruzavam muitos povos e civilizações. Este facto originou um inegável intercâmbio cultural entre eles. Os impérios que dominaram a Mesopotâmia e o Egipto, assim como as civilizações da Fenícia e de Canaã, são a fonte literária e histórica do Génesis e do AT em geral.É inegável que nos 11 primeiros capítulos se encontram abundantes elementos dessas culturas, incluindo alusões a certos mitos da Suméria, da Babilónia e de Ugarit, especialmente aos poemas da Criação, Enuma-Elish e Atrahasis. O poema de Gilgamesh está também presente no relato do Dilúvio. Muitas vezes, os autores do Génesis colocam-se em polémica aberta contra os mitos pagãos, como no caso de 1,1-2,4a.

A História Patriarcal (cap. 12-50) acolheu lendas antigas e referências a El, que faziam parte do espólio cultural dos santuários cananeus. Encontramos, igualmente, pequenos factos alusivos ao convívio com povos vizinhos. No que se refere à origem dos Patriarcas, há relatos sobre os antepassados tribais, heróis antigos, genealogias ou listas de patriarcas (cap. 5) e de povos (cap. 10), e outras histórias que pretendiam explicar a origem dos povos em geral e de Israel em particular. Por isso, este livro tem géneros literários variados: A lenda: é o mais comum e consiste em produzir um relato a partir de um facto real, nome de pessoa ou de lugar. Há lendas etiológicas, que pretendem explicar, no passado, a “causa” de qualquer fenómeno ou acontecimento do presente. Um belo exemplo de lenda etiológica é o relato da destruição de Sodoma e Gomorra. Há ainda lendas etiológicas para explicar a origem de nomes de pessoas (para Isaac, que significa “rir”, ver 18,9-15; 21,2-7).A genealogia: é uma lista de nomes que recua o mais longe possível até ao passado, a partir do presente. Pretende justificar no aspecto jurídico certos acontecimentos, privilégios de uma classe social ou de um povo (5,1-32; 10; 11,10-32). É sua intenção preencher o imenso espaço entre a Criação e a História do povo hebreu.As sagas ou histórias antigas de todo o género: luta pelos poços, guerras tribais, histórias de famílias...

Também encontramos aqui a linguagem mítica. Sabemos que os autores do Génesis combateram os mitos. Mas, para falar dos grandes problemas da humanidade, não deixaram de utilizar a linguagem e certos elementos mitológicos que estavam em voga, como a criação do homem a partir do barro (2,7), a árvore da Vida e a árvore da ciência (2,9-10; 3,1-6), o mito da serpente (cap. 3).Todo este material foi coleccionado muito lentamente. Primeiro surgiram pequenos conjuntos à volta de um santuário, de um acontecimento ou de uma personagem; podemos chamar-lhes tradições, e foram transmitidas oralmente, ao longo de muitos séculos. Quando aparece a escrita, essas tradições são fixadas em documentos. Com a queda do Reino do Norte (Samaria), em 722, essas tradições são trazidas para o Sul (Jerusalém). Finalmente, no período do Exílio (587-538), os redactores da escola Sacerdotal reúnem todas as grandes tradições e documentos existentes, imprimindo-lhes o seu próprio estilo e teologia. Podemos dizer que o Génesis contém material recolhido entre os séculos XIII-V a. C.

Teologia e leitura cristã Apesar de conter muitos elementos históricos, o Génesis é uma obra essencialmente teológica que procurava responder aos problemas angustiantes colocados pelo acontecimento do Exílio (séc. VI): no meio das trevas, Deus é a luz do seu povo; no desespero do cativeiro, Deus há-de renovar a Aliança feita depois da saída do Egipto.Por detrás das “histórias” contadas pelos seus autores, o Génesis contém os grandes temas teológicos, não somente do Pentateuco mas da Bíblia em geral: a Aliança de Deus com a humanidade, o pecado do homem, a nova promessa de Aliança, a promessa da Terra Prometida, a bênção de Deus garantindo a perenidade do Povo, o monoteísmo javista.O Génesis não foi redigido para escrever História, mas para dizer que Deus domina a História. Por isso, é essencialmente um livro de catequese e de teologia, mesmo nos 11 primeiros capítulos, em que não há preocupação histórica ou científica, no sentido actual. Por isso, a Pontifícia Comissão Bíblica, já em 16 de Janeiro de 1948, dizia, a este respeito: “Estas formas literárias não correspondem a nenhuma das nossas categorias clássicas e não podem ser julgadas à luz dos géneros literários greco-latinos e modernos.”Todos os grandes temas teológicos do Génesis foram relidos pelos cristãos à luz do autor da nova criação, Jesus Cristo (Jo 1,1-3). As grandes personagens do Génesis Adão, Eva, Noé, Abraão e os outros Patriarcas aparecem frequentemente ao longo do Novo Testamento para lembrar aos crentes que há uma só História da Salvação. Por isso, o Apocalipse o último livro da Bíblia não se compreende sem o primeiro.

I. HISTÓRIA DAS ORIGENS (1-11)
1 Criação do mundo (2,4b-25; Jb 38-39; Sl 8; 104; Jo 1,1-3) - 1No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, 2a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas. 3Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita. 4Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. 5Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. 6Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. 7Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam sob o firmamento das que estavam por cima do firmamento. 8Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. 9Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. 10Deus chamou terra à parte sólida, e mar, ao conjunto das águas. E Deus viu que isto era bom. 11Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. 12A terra produziu verdura, erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isto era bom. 13Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. 14Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; 15servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. 16Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. 17Deus colocou-os no firmamento dos céus para iluminarem a Terra, 18para presidirem ao dia e à noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. 19Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. 20Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» 21Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. 22Deus abençoou-os, dizendo: «Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e multipliquem-se as aves sobre a terra.» 23Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia. 24Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. 25Deus fez os animais ferozes, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom.

O ser humano - 26Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. 28Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.» 29Deus disse: «Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que existem e se movem sobre a terra, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra produzir.» E assim aconteceu. 31Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia.

2 1Foram assim terminados os céus e a Terra e todo o seu conjunto. 2Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. 3Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. 4Esta é a origem da criação dos céus e da Terra.
O homem (1,26-29; Jb 38,1-39,30; Sl 8; 104) -Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus, 5e ainda não havia arbusto algum pelos campos, nem sequer uma planta germinara ainda, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e não havia homem para a cultivar, 6e da terra brotava uma nascente que regava toda a superfície, 7então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. 9O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer; a árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal. 10Um rio nascia no Éden para regar o jardim, dividindo-se, a seguir, em quatro braços. 11O nome do primeiro é Pichon, rio que rodeia toda a região de Havilá, onde se encontra ouro, 12ouro puro, sem misturas, e também se encontra lá bdélio e ónix. 13O nome do segundo rio é Guion, o qual rodeia toda a terra de Cuche. 14O nome do terceiro é Tigre, e corre ao oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates. 15O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e, também, para o guardar. 16E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: «Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; 17mas não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás.»

A mulher - 18O Senhor Deus disse: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele.» 19Então, o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem, a fim de verificar como ele os chamaria, para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse. 20O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo, não encontrou auxiliar semelhante a ele. 21Então, o Senhor Deus fez cair sobre o homem um sono profundo; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas, cujo lugar preencheu de carne. 22Da costela que retirara do homem, o Senhor Deus fez a mulher e conduziu-a até ao homem. 23Então, o homem exclamou:«Esta é, realmente,osso dos meus ossose carne da minha carne.Chamar-se-á mulher,visto ter sido tirada do homem!» 24Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne.
Transgressão - 25Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha.

3 1A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus fizera; e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?» 2A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; 3mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis.’ 4A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; 5porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal’.» 6Vendo a mulher que o fruto da árvore devia ser bom para comer, pois era de atraente aspecto e precioso para esclarecer a inteligência, agarrou do fruto, comeu, deu dele também a seu marido, que estava junto dela, e ele também comeu. 7Então, abriram-se os olhos aos dois e, reconhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira umas às outras e colocaram-nas, como se fossem cinturas, à volta dos rins. 8Ouviram, então, a voz do Senhor Deus, que percorria o jardim pela brisa da tarde, e o homem e a sua mulher logo se esconderam do Senhor Deus, por entre o arvoredo do jardim. 9Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: «Onde estás?» 10Ele respondeu: «Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu.» 11O Senhor Deus perguntou: «Quem te disse que estás nu? Comeste, porventura, da árvore da qual te proibi comer?» 12O homem respondeu: «Foi a mulher que trouxeste para junto de mim que me ofereceu da árvore e eu comi.» 13O Senhor Deus perguntou à mulher: «Por que fizeste isso?» A mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi.»

Castigo e esperança - 14Então, o Senhor Deus disse à serpente:«Por teres feito isto, serás malditaentre todos os animais domésticose entre os animais selvagens.Rastejarás sobre o teu ventre,alimentar-te-ás de terra todos os dias da tua vida. 15Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher,entre a tua descendência e a dela.Esta esmagar-te-á a cabeçae tu tentarás mordê-la no calcanhar.» 16Depois, disse à mulher:«Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez,entre dores darás à luz os filhos.Procurarás apaixonadamente o teu marido,mas ele te dominará.» 17A seguir, disse ao homem:«Porque atendeste à voz da tua mulhere comeste o fruto da árvore,a respeito da qual Eu te tinha ordenado: ‘Não comas dela’,maldita seja a terra por tua causa.E dela só arrancarás alimentoà custa de penoso trabalho,todos os dias da tua vida. 18Produzir-te-á espinhos e abrolhos,e comerás a erva dos campos. 19Comerás o pão com o suor do teu rosto,até que voltes à terra de onde foste tirado;porque tu és pó e ao pó voltarás.» 20Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela seria mãe de todos os viventes. 21O Senhor Deus fez a Adão e à sua mulher túnicas de peles e vestiu-os. 22O Senhor Deus disse: «Eis que o homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre.» 23O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra, da qual fora tirado. 24Depois de ter expulsado o homem, colocou, a oriente do jardim do Éden, os querubins com a espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da Vida.

4 Caim e Abel - 1Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: «Gerei um homem com o auxílio do Senhor.» 2Depois, deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor, e Caim, lavrador. 3Ao fim de algum tempo, Caim apresentou ao Senhor uma oferta de frutos da terra. 4Por seu lado, Abel ofereceu primogénitos do seu rebanho e as suas gorduras. O Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, 5mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta. Caim ficou muito irritado e andava de rosto abatido. 6O Senhor disse a Caim: «Porque estás zangado e de rosto abatido? 7Se procederes bem, certamente voltarás a erguer o rosto; se procederes mal, o pecado deitar-se-á à tua porta e andará a espreitar-te. Cuidado, pois ele tem muita inclinação para ti, mas deves dominá-lo.» 8Entretanto, Caim disse a Abel, seu irmão: «Vamos ao campo.» Porém, logo que chegaram ao campo, Caim lançou-se sobre o irmão e matou-o. 9O Senhor disse a Caim: «Onde está o teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» 10O Senhor replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim. 11De futuro, serás amaldiçoado pela terra, que, por causa de ti, abriu a boca para beber o sangue do teu irmão. 12Quando a cultivares, não voltará a dar-te os seus frutos. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» 13Caim disse ao Senhor: «A minha culpa é excessivamente grande para ser suportada. 14Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo pela terra, e o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» 15O Senhor respondeu: «Não! Se alguém matar Caim, será castigado sete vezes mais.» E o Senhor marcou-o com um sinal, a fim de nunca ser morto por quem o viesse a encontrar. 16Caim afastou-se da presença do Senhor e foi residir na região de Nod, ao oriente do Éden.

Descendência de Caim - 17Caim conheceu a sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Henoc. E começou, depois, a edificar uma cidade, à qual deu o nome de seu filho Henoc. 18De Henoc, nasceu Irad, que gerou Meujael; Meujael gerou Metusael; Metusael gerou Lamec. 19Lamec teve duas mulheres: uma chamava-se Ada, e o nome da outra era Cila. 20Ada deu à luz Jabal, que foi o pai de quantos habitavam em tendas e conduziam rebanhos. 21O nome do seu irmão era Jubal, que foi pai de quantos tocam cítara e flauta. 22Por seu lado, Cila deu à luz Tubal-Caim, pai daqueles que fabricavam todos os instrumentos de cobre e ferro. A irmã de Tubal-Caim era Naamá. 23Lamec disse às suas mulheres: «Ada e Cila, escutai a minha voz; mulheres de Lamec, ouvi a minha palavra: Matei um homem porque me feriu, e um rapaz porque me pisou. 24Se Caim foi vingado sete vezes, Lamec sê-lo-á setenta vezes sete.»
Set e os seus descendentes - 25Adão conheceu de novo a sua mulher, que teve um filho, e deu-lhe o nome de Set, dizendo: «Porque Deus concedeu-me outro no lugar de Abel, morto por Caim.» 26Set também teve um filho, ao qual chamou Enós. Foi então que se começou a invocar o nome do Senhor.

5 Patriarcas anteriores ao Dilúvio (1 Cr 1,1-27) - 1Este é o livro da descendência de Adão. Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. 2Criou-os homem e mulher e abençoou-os. Chamou-lhes ser humano, no dia em que os criou. 3Com cento e trinta anos, Adão gerou um filho à sua imagem e semelhança, e pôs-lhe o nome de Set. 4Após o nascimento de Set, Adão viveu oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. 5Ao todo, a vida de Adão foi de novecentos e trinta anos; depois morreu. 6Set, com cento e cinco anos, gerou Enós. 7Depois do nascimento de Enós, Set viveu ainda oitocentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. 8Ao todo, a vida de Set foi de novecentos e doze anos; depois, morreu. 9Enós, com noventa anos, gerou Quenan. 10Após o nascimento de Quenan, Enós ainda viveu oitocentos e quinze anos, e gerou filhos e filhas. 11Ao todo, a vida de Enós foi de novecentos e cinco anos; depois morreu. 12Quenan, com setenta anos, gerou Maalaleel. 13Após o nascimento de Maalaleel, Quenan viveu ainda oitocentos e quarenta anos, e gerou filhos e filhas. 14Ao todo, a vida de Quenan foi de novecentos e dez anos; depois, morreu. 15Maalaleel, com sessenta e cinco anos, gerou Jéred. 16Após o nascimento de Jéred, Maalaleel viveu ainda oitocentos e trinta anos, e gerou filhos e filhas. 17Ao todo, a vida de Maalaleel foi de oitocentos e noventa e cinco anos; depois morreu. 18Jéred, com cento e sessenta e dois anos, gerou Henoc. 19Depois do nascimento de Henoc, Jéred viveu ainda oitocentos anos, e gerou filhos e filhas. 20Ao todo, a vida de Jéred foi de novecentos e sessenta e dois anos; depois morreu. 21Henoc, com sessenta e cinco anos, gerou Matusalém. 22Após o nascimento de Matusalém, Henoc andou na presença de Deus durante trezentos anos, e gerou filhos e filhas. 23Ao todo, a vida de Henoc foi de trezentos e sessenta e cinco anos. 24Henoc andou na presença de Deus, e desapareceu, pois Deus arrebatou-o. 25Matusalém, com cento e oitenta e sete anos, gerou Lamec. 26Após o nascimento de Lamec, Matusalém viveu ainda setecentos e oitenta e dois anos, e gerou filhos e filhas. 27Ao todo, a vida de Matusalém foi de novecentos e sessenta e nove anos; depois morreu. 28Lamec, com cento e oitenta e dois anos, gerou um filho, 29ao qual deu o nome de Noé, dizendo: «Este aliviar-nos-á dos nossos sofrimentos e do trabalho doloroso das nossas mãos, com os proventos auferidos da terra que o Senhor amaldiçoou.» 30Depois do nascimento de Noé, Lamec ainda viveu quinhentos e noventa e cinco anos, e gerou filhos e filhas. 31Ao todo, a vida de Lamec foi de setecentos e setenta e sete anos; depois morreu. 32Com a idade de quinhentos anos, Noé gerou Sem, Cam e Jafet.

6 O Dilúvio - 1Aconteceu que os homens começaram a multiplicar-se sobre a Terra, e deles nasceram filhas. 2Os filhos de Deus, vendo que as filhas dos homens eram belas, escolheram entre elas as que bem quiseram, para mulheres. 3Então, o Senhor disse: «O meu espírito não permanecerá indefinidamente no homem, pois o homem é carne, e os seus dias não ultrapassarão os cento e vinte anos.» 4Naquele tempo, havia gigantes na Terra - e também depois - quando os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens e delas tiveram filhos. Eram esses os famosos heróis dos tempos remotos.

Corrupção da humanidade - 5O Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. 6O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem sobre a Terra, e o seu coração sofreu amargamente. 7E o Senhor disse: «Eliminarei da face da Terra o homem que Eu criei, e, juntamente com o homem, os animais domésticos, os répteis e as aves dos céus, pois estou arrependido de os ter feito.» 8Noé, porém, era agradável aos olhos do Senhor.
Noé e a arca - 9Esta é a descendência de Noé. Noé era um homem justo e perfeito, entre os homens do seu tempo, e andava sempre com Deus. 10Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafet. 11A Terra estava corrompida diante de Deus e cheia de violência. 12Deus olhou para a Terra e viu que ela estava corrompida, pois toda a humanidade seguia, na Terra, os caminhos da corrupção. 13Então Deus disse a Noé: «O fim de toda a humanidade chegou diante de mim, pois ela encheu a Terra de violência. Vou exterminá-la juntamente com a Terra. 14Constrói uma arca de madeiras resinosas. Dividi-la-ás em compartimentos e calafetá-la-ás com betume, por fora e por dentro. 15Hás-de fazê-la desta maneira: o comprimento será de trezentos côvados, a largura de cinquenta côvados, e a altura de trinta côvados. 16Ao alto, farás nela uma janela, à qual darás a dimensão de um côvado. Colocarás a porta da arca a um lado, construirás nela um andar inferior, um segundo e um terceiro andar. 17É que Eu vou lançar um dilúvio que, inundando tudo, eliminará debaixo do céu todos os seres vivos. Tudo quanto existe na Terra perecerá. 18Contigo, porém, farei a minha aliança: entrarás na arca com os teus filhos, a tua mulher e as mulheres dos teus filhos. 19De tudo o que tem vida, de todos os animais, levarás para a arca dois de cada espécie, para os conservares vivos junto de ti: um macho e uma fêmea. 20De cada espécie de aves, de cada espécie de quadrúpedes e de cada espécie de animais que rastejam pela terra, um casal virá ter contigo para que lhe conserves a vida. 21E tu, recolhe tudo quanto há de comestíveis, armazena-os, a fim de te servirem de alimento, assim como a eles.» 22Noé começou a trabalhar; e executou tudo o que lhe fora ordenado por Deus.

7 1O Senhor disse, depois, a Noé: «Entra na arca, tu e toda a tua família, porque só a ti reconheci como justo nesta geração. 2De todos os animais puros levarás contigo sete pares, o macho e a fêmea; dos animais que não são puros levarás um par, o macho e a sua fêmea; 3das aves do céu, também sete pares, macho e fêmea, a fim de conservares a sua raça viva sobre a Terra. 4Porque dentro de sete dias, vou mandar chuva sobre a Terra, durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei na superfície de toda a Terra todos os seres que Eu criei.» 5E Noé cumpriu tudo quanto o Senhor lhe ordenara. 6Noé tinha seiscentos anos, quando o dilúvio caiu sobre a Terra. 7Para fugir à inundação do dilúvio, entrou na arca com os filhos, a mulher e as mulheres de seus filhos. 8Dos animais puros e daqueles que não são puros, das aves e de todos os seres que rastejam sobre a Terra, 9entraram com Noé na arca, dois a dois, um macho e uma fêmea, como Deus tinha ordenado a Noé. 10Ao cabo de sete dias, as águas do dilúvio submergiram a Terra. 11Tendo Noé seiscentos anos de vida, no dia dezassete do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e abriram-se as cataratas do céu. 12A chuva caiu sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. 13Naquele mesmo dia, Noé entrou na arca com seus filhos Sem, Cam e Jafet, e com eles sua mulher e as três mulheres dos seus filhos. 14Juntamente com eles, entraram os animais selvagens, segundo as suas espécies, os animais domésticos, segundo as suas espécies, os répteis que rastejam pela terra, segundo as suas espécies, e todos os animais voláteis, todas as aves, tudo quanto possui asas, segundo as suas espécies. 15Entraram com Noé na arca, dois a dois, todas as espécies de seres que têm vida. 16De todos os seres vivos e de cada espécie entrou o macho e a fêmea, como Deus tinha ordenado a Noé. Depois, o Senhor fechou a porta atrás dele.

Inundação - 17Choveu torrencialmente durante quarenta dias sobre a terra. As águas cresceram e levantaram a arca, que foi elevada acima da terra. 18As águas iam sempre crescendo e subiram muito acima da terra; e a arca flutuava à superfície das águas. 19A enchente aumentava cada vez mais, e tanto que cobriu todos os altos montes existentes debaixo dos céus; 20as águas ultrapassaram quinze côvados por cima das montanhas. 21Todas as criaturas que se moviam na terra pereceram: aves, animais domésticos, animais selvagens, tudo o que rastejava pela terra e todos os homens. 22Todos os seres que tinham sopro de vida e viviam na terra firme morreram. 23Foram assim exterminados todos os seres que se encontravam à superfície da terra, desde os homens até aos quadrúpedes, aos répteis e aves dos céus. Desapareceram da face da terra, excepto Noé e os que se encontravam com ele na arca. 24As águas cobriram a terra, durante cento e cinquenta dias.

8 1Deus recordou-se de Noé e de todos os animais, tanto domésticos como selvagens, que estavam com ele na arca. Por isso, Deus mandou um vento sobre a terra e as águas começaram a descer. 2As fontes do abismo e as cataratas dos céus foram encerradas, e a chuva parou de cair do céu. 3As águas retiraram-se gradualmente da terra e começaram a diminuir ao fim de cento e cinquenta dias. 4No dia dezassete do sétimo mês, a arca poisou sobre os montes de Ararat. 5As águas foram diminuindo até ao décimo mês. No primeiro dia do décimo mês, emergiram os cumes das montanhas. 6Decorridos quarenta dias, Noé abriu a janela que havia feito na arca 7e soltou o corvo, que saiu repetidas vezes, enquanto iam secando as águas sobre a terra. 8Depois, soltou a pomba, a fim de verificar se as águas tinham diminuído à superfície da terra. 9Mas, não tendo encontrado sítio para poisar, a pomba regressou à arca, para junto dele, pois as águas cobriam ainda a superfície da terra. Estendeu a mão, agarrou a pomba e meteu-a na arca. 10Aguardou mais sete dias; depois soltou novamente a pomba, 11que voltou para junto dele, à tarde, trazendo no bico uma folha verde de oliveira. Noé soube, então, que as águas sobre a terra tinham baixado. 12Aguardou ainda outros sete dias; depois tornou a soltar a pomba, mas, desta vez, ela não regressou mais para junto dele.

A arca em terra - 13No ano seiscentos e um, no primeiro dia do primeiro mês, as águas começaram a secar sobre a terra. Noé abriu o tecto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. 14No vigésimo sétimo dia do segundo mês, a terra estava seca. 15Deus, então, disse a Noé: 16«Sai da arca com a tua mulher, os teus filhos e as mulheres dos teus filhos. 17Retira também da arca os animais de toda a espécie que estão contigo, as aves, os quadrúpedes, os répteis todos que rastejam pela terra, a fim de se espalharem pela terra; que sejam fecundos e se multipliquem sobre a terra.» 18Noé saiu com os seus filhos, a sua mulher e as mulheres dos seus filhos. 19Todos os animais selvagens, todos os répteis, todas as aves, todos os seres que se movem sobre a terra, segundo as suas espécies, também saíram da arca. 20Noé construiu um altar ao Senhor e, de todos os animais puros e de todas as aves puras, ofereceu holocaustos no altar. 21O Senhor sentiu o agradável odor e disse no seu coração:«De futuro, não amaldiçoarei mais a terra por causa do homem,pois as tendências do coração humano são más, desde a juventude,e não voltarei a castigar os seres vivos, como fiz. 22Enquanto subsistir a terra,haverá sempre a sementeirae a colheita,o frio e o calor,o Verão e o Inverno,o dia e a noite.»

9 Bênção renovada e Aliança - 1Deus abençoou Noé e os seus filhos, e disse-lhes: «Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. 2Sereis temidos e respeitados por todos os animais da terra, por todas as aves do céu, por tudo quanto rasteja sobre a terra e por todos os peixes do mar; ponho-os à vossa disposição. 3Tudo o que se move e tem vida servir-vos-á de alimento; dou-vos tudo isso como já vos tinha dado as plantas verdes. 4Porém, não comereis a carne com a sua vida, o sangue. 5Ficai também a saber que pedirei contas do vosso sangue a todos os animais, por causa das vossas vidas; e ao homem, igualmente, pedirei contas da vida do homem, seu irmão. 6A quem derramar o sangue do homem,pela mão do homem será derramado o seu,porque Deus fez o homem à sua imagem. 7Quanto a vós, sede fecundos e multiplicai-vos;espalhai-vos pela Terrae multiplicai-vos sobre ela.» 8A seguir, Deus disse a Noé e a seus filhos: 9«Vou estabelecer a minha aliança convosco, com a vossa descendência futura 10e com os demais seres vivos que vos rodeiam: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, todos aqueles que saíram da arca. 11Estabeleço convosco esta aliança: não mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio e não haverá jamais outro dilúvio para destruir a Terra.» 12E Deus acrescentou: «Este é o sinal da aliança que faço convosco, com todos os seres vivos que vos rodeiam e com as demais gerações futuras: 13coloquei o meu arco nas nuvens, para que seja o sinal da aliança entre mim e a Terra. 14Quando cobrir a Terra de nuvens e aparecer o arco nas nuvens, 15recordar-me-ei da aliança que firmei convosco e com todos os seres vivos da Terra, e as águas do dilúvio não voltarão mais a destruir todas as criaturas. 16Estando o arco nas nuvens, Eu, ao vê-lo, recordar-me-ei da aliança perpétua concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na Terra.» 17Dirigindo-se a Noé, Deus disse: «Esse é o sinal da aliança que estabeleci entre mim e todas as criaturas existentes na Terra.»

Noé e seus filhos - 18Os filhos de Noé, que saíram da arca, eram: Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaã. 19São estes os três filhos de Noé, e por eles foi povoada a Terra inteira. 20Noé, que era agricultor, foi o primeiro a plantar a vinha. 21Tendo bebido vinho, embriagou-se e despiu-se dentro da sua tenda. 22Cam, o pai de Canaã, ao ver a nudez do pai, saiu a contar o sucedido aos seus dois irmãos. 23Então Sem e Jafet agarraram uma capa, colocaram-na sobre os ombros e, andando de costas, cobriram a nudez do pai, sem a terem visto, porque não voltaram o rosto para trás. 24Quando despertou da sua embriaguez, Noé soube o que tinha feito o seu filho mais novo 25e disse:«Maldito seja Canaã!Que ele seja o último dos servos dos seus irmãos.» 26E acrescentou:«Bendito seja o Senhor, Deus de Sem,e que Canaã seja seu servo. 27Que Deus aumente as posses de Jafete que Ele resida nas tendas de Sem,e que Canaã seja o seu servo.» 28Noé viveu trezentos e cinquenta anos, depois do dilúvio. 29Ao todo, a vida de Noé foi de novecentos e cinquenta anos; depois morreu.

10 Lista de povos (1Cr 1,4-24) - 1Esta é a descendência dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafet. Nasceram-lhes filhos após o dilúvio. 2Filhos de Jafet: Gomer, Magog, Madai, Javan, Tubal, Méchec e Tirás. 3Filhos de Gomer: Asquenaz, Rifat e Togarma. 4Filhos de Javan: Elicha, Társis, Kitim e Rodanim. 5Deles nasceram os povos que se dispersaram por países e línguas, por famílias e nações. 6Filhos de Cam: Cuche, Misraim, Put e Canaã. 7Filhos de Cuche: Seba, Havilá, Sabta, Rama e Sabteca. Filhos de Rama: Sabá e Dedan. 8Cuche gerou também Nimerod, o primeiro homem poderoso na terra. 9Foi um valente caçador diante do Senhor, e daí a expressão: «Como Nimerod, valente caçador diante do Senhor.» 10O ponto de partida do seu império foi Babel, Érec, Acad e Calné, na terra de Chinear. 11Desta terra foi para Assur, e edificou Nínive, Reobot-Ir, Calá, 12e Réssen, entre Nínive e Calá. Esta foi a grande cidade. 13Misraim gerou os de Lud, os de Aném, os de Leab, os de Naftú, 14os de Patros, os de Caslú, dos quais provieram os filisteus, e os de Caftor. 15Canaã gerou Sídon, o seu primogénito, e Het, 16assim como o jebuseu, o amorreu, o guirgaseu, 17o heveu, o araqueu, o sineu, 18o arvadeu, o cemareu e o hamateu.Seguidamente, as famílias cananeias dispersaram-se, 19e o território dos cananeus estendeu-se desde Sídon, na direcção de Guerar, até Gaza, e, na direcção de Sodoma, Gomorra, Adma e Seboim, até Lecha. 20São estes os filhos de Cam, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, países e nações. 21De Sem, irmão mais velho de Jafet, nasceram também todos os filhos de Éber. 22Filhos de Sem: Elam, Assur, Arfaxad, Lud e Aram. 23Filhos de Aram: Uce, Hul, Guéter e Más. 24Arfaxad gerou Chela, e Chela gerou Éber. 25Éber teve dois filhos. O nome de um era Péleg, porque no seu tempo foi dividida a terra, e o nome do seu irmão era Joctan. 26Joctan gerou Almodad, Chélef, Haçarmávet, Jara, 27Hadoram, Uzal, Dicla, 28Obal, Abimael, Sabá, 29Ofir, Havilá e Jobab. São estes os filhos de Joctan. 30A terra em que eles habitavam estendia-se desde Mecha até ao monte Sefar, situado ao oriente. 31Foram esses os filhos de Sem, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, países e nações. 32São estas as famílias dos filhos de Noé segundo as suas genealogias e as respectivas nações. Delas descendem os povos que se espalharam, após o dilúvio, sobre a Terra.

11 A torre de Babel - 1Em toda a Terra, havia somente uma língua, e empregavam-se as mesmas palavras. 2Emigrando do oriente, os homens encontraram uma planície na terra de Chinear e nela se fixaram. 3Disseram uns para os outros: «Vamos fazer tijolos, e cozamo-los ao fogo.» Utilizaram o tijolo em vez da pedra, e o betume serviu-lhes de argamassa. 4Depois disseram: «Vamos construir uma cidade e uma torre, cujo cimo atinja os céus. Assim, havemos de tornar-nos famosos para evitar que nos dispersemos por toda a superfície da Terra.» 5O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. 6E o Senhor disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. 7Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.» 8E o Senhor dispersou-os dali por toda a superfície da Terra, e suspenderam a construção da cidade. 9Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o Senhor confundiu a linguagem de todos os habitantes da Terra, e foi também dali que o Senhor os dispersou por toda a Terra.

De Sem a Abraão (1 Cr 1,24-27; Lc 3,34-36) - 10Esta é a descendência de Sem: aos cem anos de idade, Sem gerou Arfaxad, dois anos depois do dilúvio. 11Sem, após o nascimento de Arfaxad, viveu ainda quinhentos anos e gerou filhos e filhas. 12Arfaxad, de trinta e cinco anos, gerou Chela. 13Depois do nascimento de Chela, Arfaxad viveu ainda quatrocentos e três anos, e gerou filhos e filhas. 14Chela, de trinta anos, gerou Éber. 15Depois do nascimento de Éber, Chela viveu ainda quatrocentos e três anos e gerou filhos e filhas. 16Éber, de trinta e quatro anos, gerou Péleg. 17Depois do nascimento de Péleg, Éber viveu ainda quatrocentos e trinta anos e gerou filhos e filhas. 18Péleg, de trinta anos, gerou Reú. 19Depois do nascimento de Reú, Péleg viveu ainda duzentos e nove anos e gerou filhos e filhas. 20Reú, de trinta e dois anos, gerou Serug. 21Depois do nascimento de Serug, Reú viveu ainda duzentos e sete anos, e gerou filhos e filhas. 22Serug, de trinta anos, gerou Naor. 23Depois do nascimento de Naor, Serug viveu ainda duzentos anos, e gerou filhos e filhas. 24Naor, de vinte e nove anos, gerou Tera. 25Depois do nascimento de Tera, Naor viveu ainda cento e dezanove anos e gerou filhos e filhas. 26Tera, de setenta anos, gerou Abrão, Naor e Haran. 27Esta é a descendência de Tera: Tera gerou Abrão, Naor e Haran. 28Haran gerou Lot. E Haran morreu, vivendo ainda Tera, seu pai, na terra da sua naturalidade, em Ur, na Caldeia. 29Abrão e Naor casaram-se. O nome da mulher de Abrão era Sarai, e a de Naor era Milca, filha de Haran, pai de Milca e de Jiscá. 30Sarai era estéril, não tinha filhos. 31Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Lot, filho de Haran, e sua nora Sarai, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur, na Caldeia, e dirigiram-se para a terra de Canaã. Chegados a Haran, aí se fixaram. 32Tera viveu duzentos e cinco anos, e morreu em Haran.

II. HISTÓRIA DOS PATRIARCAS (12,1-50,26)

A - Ciclo de Abraão (12,1-23,20)
12 Vocação de Abraão - 1O Senhor disse a Abrão:«Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. 2Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. 3Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» 4Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera, levando consigo Lot. Quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos. 5Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho do seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Haran, e partiram todos para a terra de Canaã, e chegaram à terra de Canaã. 6Abrão percorreu-a até ao lugar de Siquém, até aos carvalhos de Moré. Os cananeus viviam, então, naquela terra. 7O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» E Abrão construiu ali um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido. 8Deixando esta região, prosseguiu até ao monte situado ao oriente de Betel, e montou ali as suas tendas, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente. Construiu também um altar ao Senhor e invocou o seu nome. 9Abrão continuou a sua viagem, acampando aqui e ali, em direcção ao Négueb.

Abraão e Sarai no Egipto (46,1-7; Mt 2,13-15) - 10Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abrão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo. 11Quando já estavam quase a entrar no Egipto, Abrão disse a Sarai, sua mulher: «Ouve, sei queés uma mulher de belo aspecto. 12Quando os egípcios te virem, dirão: ‘É a mulher dele.’ E matar-me-ão, e a ti conservarão a vida. 13Diz, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida, graças a ti.» 14Quando Abrão chegou ao Egipto, os egípcios notaram que a sua mulher era muito bonita. 15Os grandes da corte, que a viram, referiram-se elogiosamente a ela, na presença do Faraó, e a mulher foi conduzida ao palácio. 16Por causa dela, Abrão foi muito bem tratado, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. 17Mas o Senhor infligiu tremendos castigos ao Faraó e à sua casa, devido a Sarai, mulher de Abrão. 18O Faraó mandou chamar Abrão para lhe dizer: «Que é que te levou a fazer-me semelhante coisa? Porque não disseste que ela era tua mulher? 19Porque disseste que era tua irmã, dando lugar a que eu a tomasse por mulher? Agora, aqui tens a tua mulher, toma-a e vai-te embora.» 20O Faraó ordenou, então, aos seus homens que mandassem embora Abrão, sua mulher e tudo quanto lhe pertencia.

13 Lot separa-se de Abraão - 1Abrão saiu do Egipto, em direcção ao Négueb, com a sua mulher e tudo o que lhe pertencia. Lot acompanhava-o. 2Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. 3Regressou, depois, do Négueb a Betel, até ao lugar do seu primeiro acampamento, entre Betel e Ai, 4no sítio em que erigira um altar pela primeira vez e onde invocara o nome do Senhor. 5Lot, que acompanhava Abrão, possuía, igualmente, ovelhas, bois e tendas; 6a terra não era bastante grande para nela se estabelecerem os dois, porque os bens de ambos eram avultados. 7Houve questões entre os pastores dos rebanhos de Abrão e os pastores dos rebanhos de Lot.Os cananeus e os perizeus habitavam, então, aquela terra. 8Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. 9Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.» 10Lot ergueu os olhos e viu todo o vale do Jordão, que era inteiramente regado. Antes de o Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, estendendo-se até Soar, o vale era um maravilhoso jardim, como a terra do Egipto. 11Lot escolheu para si todo o vale do Jordão e dirigiu-se para o oriente, separando-se um do outro. 12Abrão fixou-se na terra de Canaã, e Lot nas cidades do vale, no qual ergueu as suas tendas até Sodoma. 13Ora, os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes pecadores diante do Senhor. 14Depois de Lot o ter deixado, Deus disse a Abrão: «Ergue os teus olhos e, do sítio em que estás, contempla o norte, o sul, o oriente e o ocidente. 15Toda a terra que estás a ver, dar-ta-ei, a ti e aos teus descendentes, para sempre. 16Farei que a tua descendência seja numerosa como o pó da terra, de modo que só se alguém puder contar o pó da terra é que a tua posteridade poderá ser contada. 17Levanta-te, percorre esta terra em todas as direcções, porque Eu ta darei.» 18Abrão desmontou as suas tendas e foi residir junto aos carvalhos de Mambré, próximo de Hebron; e ali construiu um altar ao Senhor.
14 Abraão e Lot - 1No tempo de Amerafel, rei de Chinear, de Arioc, rei de Elassar, de Cadorlaomer, rei de Elam e de Tidal, rei de Goim, 2aliaram-se todos estes reis e declararam guerra a Bera, rei de Sodoma; a Birchá, rei de Gomorra; a Chinab, rei de Adma; a Cheméber, rei de Seboim, e ao rei de Bela, que é Soar. 3Concentraram-se todos no vale de Sidim, que é o Mar do Sal. 4Durante doze anos estiveram submetidos a Cadorlaomer, mas, no décimo terceiro, revoltaram-se. 5No décimo quarto ano, Cadorlaomer e os reis seus aliados puseram-se a caminho e derrotaram os refaítas, em Astarot-Carnaim, os zuzitas, em Ham, os emitas, na planície de Quiriataim, 6e os horritas, no monte de Seir até El-Paran, situado no deserto. 7Depois, retrocedendo, chegaram a En-Mispat, que é Cadés, e devastaram todas as terras amalecitas e as dos amorreus residentes em Haceçon-Tamar. 8O rei de Sodoma, o rei de Gomorra, o rei de Adma, o rei de Seboim e o rei de Bela, que é Soar, saíram e alinharam-se para a batalha contra eles no vale de Sidim, 9contra Cadorlaomer, rei de Elam, Tidal, rei de Goim, Amerafel, rei de Chinear, e Arioc, rei de Elassar: quatro reis contra cinco. 10Havia no vale de Sidim numerosos poços de betume. O rei de Sodoma e de Gomorra, ao tentarem fugir, caíram neles; os sobreviventes refugiaram-se na montanha. 11Os vencedores apoderaram-se de todos os bens de Sodoma e Gomorra, de todos os víveres e retiraram-se. 12Apoderaram-se também de Lot, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e de todos os seus bens. 13Mas um dos fugitivos correu a anunciá-lo a Abrão, o hebreu. Este habitava junto aos carvalhos de Mambré, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, aliados de Abrão. 14Ao saber que o seu parente ficara prisioneiro, Abrão armou trezentos e dezoito dos seus servos mais valentes, nascidos na sua casa, e perseguiu os inimigos até Dan. 15Dividindo a sua tropa, ele e os seus servos atacaram-nos de noite e destroçaram-nos, perseguindo-os até Hoba, situada ao norte de Damasco. 16Retomou todos os bens saqueados, libertou também Lot, seu sobrinho, e todas as suas riquezas, assim como as mulheres e outros prisioneiros.

Abraão e Melquisedec - 17Quando Abrão regressava vencedor de Cadorlaomer e dos reis seus aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de Chavé, que é o vale do Rei. 18Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como era sacerdote do Deus Altíssimo, 19abençoou Abrão, dizendo:«Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimoque criou os céus e a Terra! 20Bendito seja o Deus Altíssimo,que entregou os teus inimigos nas tuas mãos!»E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.

Abraão e o rei de Sodoma - 21O rei de Sodoma disse a Abrão: «Dá-me as pessoas e fica tu com os bens.» 22Abrão respondeu: «Ergo a minha mão para o Senhor, o Deus Altíssimo que criou os céus e a Terra. 23De tudo quanto possuis, não quero nada, nem um fio, nem sequer uma correia de sandália, para que não digas: ‘Eu enriqueci Abrão.’ 24Nada quero para mim, salvo o que os meus servos comeram; quanto à parte dos meus aliados, Aner, Escol e Mambré, estes hão-de receber a parte que lhes compete.»

15 Promessa e aliança - 1Após estes acontecimentos, o Senhor disse a Abrão numa visão: «Nada temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, a tua recompensa será muito grande.» 2Abrão respondeu: «Que me dareis, Senhor Deus? Vou-me sem filhos e o herdeiro da minha casa é Eliézer, de Damasco.» 3Acrescentou: «Não me concedeste descendência, e é um escravo, nascido na minha casa, que será o meu herdeiro.» 4Então a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nos seguintes termos: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das tuas entranhas.» 5E, conduzindo-o para fora, disse-lhe: «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» E acrescentou: «Pois bem, será assim a tua descendência.» 6Abrão confiou no Senhor, e Ele considerou-lhe isso como mérito. 7O Senhor disse-lhe depois: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur, na Caldeia, para te dar esta terra.» 8Perguntou-lhe Abrão: «Senhor Deus, como saberei que tomarei posse dela?» 9Disse-lhe o Senhor: «Toma uma novilha de três anos, uma cabra de três anos, um carneiro de três anos, uma rola e um pombo ainda novo.» 10Abrão foi procurar todos estes animais, cortou-os ao meio e dispôs cada metade em frente uma da outra; não cortou, porém, as aves. 11As aves de rapina desciam sobre as carnes mortas, mas Abrão afugentava-as. 12Ao pôr do sol, apoderou-se dele um sono profundo; ao mesmo tempo, sentiu-se apavorado e foi envolvido por densa treva. 13O Senhor disse-lhe: «Fica desde já a saber que os teus descendentes habitarão como estrangeiros numa terra que não é deles, que serão reduzidos à escravidão e hão-de oprimi-los durante quatrocentos anos. 14Mas Eu próprio julgarei também a nação que os escravizar, e sairão, depois, com grandes riquezas dessa terra. 15Tu, porém, irás em paz reunir-te aos teus pais e serás sepultado após uma ditosa velhice. 16Apenas à quarta geração eles voltarão para aqui, pois a iniquidade dos amorreus não chegou ainda ao seu termo.» 17Quando o Sol desapareceu, e sendo completa a escuridão, surgiu um braseiro fumegante e uma chama ardente, que passou entre as metades dos animais. 18Naquele dia, o Senhor concluiu uma aliança com Abrão, dizendo-lhe: «Dou esta terra à tua descendência, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates, 19a terra dos quineus, dos quenizeus, dos cadmoneus, 20dos hititas, dos refaítas, dos perizeus, 21dos amorreus, dos cananeus, dos guirgaseus e dos jebuseus.»

16 Agar e o nascimento de Ismael - 1Sarai, mulher de Abrão, que não lhe dera filhos, tinha uma escrava egípcia, chamada Agar. 2Sarai disse a Abrão: «Visto que o Senhor me tornou uma estéril, peço-te que vás ter com a minha escrava. Talvez, por ela, eu consiga ter filhos.»Abrão aceitou a proposta de Sarai. 3Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. 4Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. E, reconhecendo-se grávida, começou a olhar desdenhosamente para a sua senhora. 5Sarai disse a Abrão: «Recaia sobre ti a vergonha que sofro por tua causa. Fui eu que entreguei a minha escrava nos teus braços e, agora que sabe ter concebido, despreza-me. Que o Senhor julgue aos dois, a ti e a mim!» 6Abrão respondeu-lhe: «A tua escrava está sob o teu domínio; faz dela o que te aprouver.» Então, Sarai tratou-a mal e humilhou-a, e Agar fugiu da sua presença. 7O mensageiro do Senhor encontrou-a junto de uma fonte no deserto, a caminho de Chur. 8Ele disse-lhe: «Agar, escrava de Sarai, de onde vens tu? E para onde vais?» Ela respondeu-lhe: «Fujo de Sarai, a minha senhora.» 9O mensageiro do Senhor disse-lhe: «Volta para a casa dela e humilha-te diante da tua senhora.» 10O mensageiro do Senhor acrescentou: «Multiplicarei a tua descendência, e será tão numerosa que ninguém a poderá contar.» 11O mensageiro do Senhor disse-lhe ainda:«Estás grávida e vais ter um filho,e dar-lhe-ás o nome de Ismael,porque o Senhor escutou a voz da tua angústia. 12Ele será como um cavaloselvagem entre os homens;a sua mão erguer-se-á contra todos,a mão de todos erguer-se-á contra ele,e colocará a sua tenda em frente de todos os seus irmãos.» 13Agar deu ao Senhor, que lhe falara, o nome de Attá-El-Roí, porque ela disse: «Não vi eu também aqui o mesmo Deus que me vê?» 14Por isso, chamaram àquele poço, situado entre Cadés e Bered, o poço de Lahai-Roí. 15Agar teve um filho de Abrão; este pôs o nome de Ismael ao seu filho dado à luz por Agar. 16Abrão tinha oitenta e seis anos quando Agar lhe deu Ismael.

17 A aliança - 1Abrão tinha noventa e nove anos, quando o Senhor lhe apareceu e lhe disse: «Eu sou o Deus supremo. Anda na minha presença e sê perfeito. 2Quero fazer uma aliança contigo e multiplicarei a tua descendência até ao infinito.» 3Abrão prostrou-se com o rosto por terra e Deus disse-lhe: 4«A aliança que faço contigo é esta: serás pai de inúmeros povos. 5Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos. 6Tornar-te-ei extremamente fecundo, farei que de ti nasçam povos e terás reis por descendentes. 7Estabeleço a minha aliança contigo e com a tua posteridade, de geração em geração; será uma aliança perpétua, em virtude da qual Eu serei o teu Deus e da tua descendência. 8Dar-te-ei, a ti e à tua descendência depois de ti, o país em que resides como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei Deus para eles.»

A circuncisão - 9Deus disse a Abraão: «Da tua parte, cumprirás a minha aliança, tu e a tua descendência, nas futuras gerações. 10Eis a aliança estabelecida entre mim e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será circuncidado. 11Circuncidareis a pele do vosso prepúcio, e este será o sinal de aliança entre mim e vós. 12Oito dias depois de nascer, toda a criança do sexo masculino, das vossas gerações futuras, será circuncidada por vós; os servos, nascidos em casa ou estrangeiros adquiridos a dinheiro, serão também circuncidados, ainda que não pertençam à tua raça. 13Tanto o indivíduo do sexo masculino nascido em casa, como o que for adquirido a dinheiro, deverão ser circuncidados; e, desta forma, será marcado na vossa carne o sinal da minha aliança perpétua. 14O indivíduo do sexo masculino incircunciso, aquele que não tiver sido circuncidado na sua carne, será afastado do meio do seu povo, por ter quebrado a minha aliança.»

Promessa de um filho - 15Deus disse a Abraão:«Não chamarás mais à tua mulher, Sarai,mas o seu nome será Sara. 16Abençoá-la-ei e dar-te-ei um filho, por meio dela.Será por mim abençoada,e será mãe de nações,e dela sairão reis.» 17Abraão prostrou-se com o rosto por terra, e sorriu, dizendo para consigo: «Pode uma criança nascer de um homem de cem anos? E Sara, mulher de noventa anos, vai agora ter filhos?» 18Depois, disse a Deus: «Possa Ismael viver diante de ti!» 19Mas Deus respondeu-lhe: «Não! Sara, tua mulher, dar-te-á um filho, a quem hás-de chamar Isaac. Farei a minha aliança com ele, aliança que será perpétua para a sua descendência depois dele. 20Quanto a Ismael, também te escutei. Abençoá-lo-ei, torná-lo-ei fecundo e multiplicarei extremamente a sua descendência. Será pai de doze príncipes, e farei sair dele um grande povo. 21Porém, é com Isaac que Eu estabelecerei a minha aliança, Isaac que Sara te há-de dar, por esta mesma época do próximo ano.» 22E, tendo acabado de falar com ele, Deus desapareceu de junto de Abraão. 23Abraão tomou Ismael, seu filho, todos quantos haviam nascido na sua casa e todos aqueles que adquirira a dinheiro, todos os indivíduos do sexo masculino da sua casa, e circuncidou-os nesse mesmo dia, como Deus lhe tinha ordenado. 24Abraão tinha já noventa e nove anos, quando foi circuncidado. 25Ismael, seu filho, tinha treze anos, quando foi circuncidado. 26Abraão e Ismael foram circuncidados no mesmo dia; 27e todos os varões da sua casa, os nascidos na sua casa ou adquiridos por dinheiro a estranhos, foram circuncidados com ele.

18 Três visitantes misteriosos - 1O Senhor apareceu a Abraão junto dos carvalhos de Mambré, quando ele estava sentado à porta da sua tenda, durante as horas quentes do dia. 2Abraão ergueu os olhos e viu três homens de pé em frente dele. Imediatamente correu da entrada da tenda ao seu encontro, prostrou-se por terra 3e disse: «Meu Senhor, se mereci o teu favor, peço-te que não passes adiante, sem parar em casa do teu servo. 4Permite que se traga um pouco de água para vos lavar os pés; e descansai debaixo desta árvore. 5Vou buscar um bocado de pão e, quando as vossas forças estiverem restauradas, prosseguireis o vosso caminho, pois não deve ser em vão que passastes junto do vosso servo.» Eles responderam: «Faz como disseste.» 6Abraão foi, sem perda de tempo, à tenda onde se encontrava Sara e disse-lhe: «Depressa, amassa já três medidas de flor de farinha e coze uns pães no borralho.» 7Correu ao rebanho, escolheu um vitelo dos mais tenros e gordos e entregou-o ao servo, que imediatamente o preparou. 8Tomou manteiga, leite e o vitelo já pronto e colocou-o diante deles. E ficou de pé junto dos estranhos, debaixo da árvore, enquanto eles comiam. 9Então, disseram-lhe: «Onde está Sara, tua mulher?» Ele respondeu: «Está aqui na tenda.» 10Um deles disse: «Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano, nesta mesma época; e Sara, tua mulher, terá já um filho.» Ora, Sara estava a escutar à entrada da tenda, mesmo por trás dele. 11Abraão e Sara eram já velhos, de idade muito avançada, e Sara já não estava em idade de ter filhos. l 2Sara riu-se consigo mesma e pensou: «Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?» 13O Senhor disse a Abraão: «Porque está Sara a rir e a dizer: ‘Será verdade que eu hei-de ter um filho, velha como estou?’ l 4Haverá alguma coisa que seja impossível para o Senhor? Dentro de um ano, nesta mesma época, voltarei à tua casa, e Sara terá já um filho.» 15Cheia de medo, Sara negou, dizendo: «Não me ri.» Mas Ele disse-lhe: «Não! Tu riste-te mesmo.»

Oração de Abraão - 16Os homens levantaram-se e partiram em direcção de Sodoma, e Abraão acompanhou-os para deles se despedir. 17O Senhor disse, então: «Ocultarei a Abraão o que vou fazer? 18Ele deve tornar-se uma nação grande e poderosa e Eu abençoarei nele todos os povos da Terra. 19Escolhi-o, de facto, para que dê ordens a seus filhos e à sua casa depois dele, no sentido de seguirem os caminhos do Senhor, praticando a justiça e a rectidão, a fim de que o Senhor cumpra a favor de Abraão as promessas que lhe fez.» 20O Senhor acrescentou: «O clamor de Sodoma e Gomorra é imenso e o seu pecado agrava-se extremamente. 21Vou descer a fim de ver se, na realidade, a conduta deles corresponde ao brado que chegou até mim. E se não for assim, sabê-lo-ei.» 22Os homens partiram dali, e encaminharam-se para Sodoma. Abraão, porém, continuava ainda na presença do Senhor. 23Abraão aproximou-se e disse: «E será que vais exterminar, ao mesmo tempo, o justo com o culpado? 24Talvez haja cinquenta justos na cidade; matá-los-ás a todos? Não perdoarás à cidade, por causa dos cinquenta justos que nela podem existir? 25Longe de ti proceder assim e matar o justo com o culpado, tratando-os da mesma maneira! Longe de ti! O juiz de toda a Terra não fará justiça?» 26O Senhor disse: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos perdoarei a toda a cidade, por causa deles.» 27Abraão prosseguiu: «Pois que me atrevi a falar ao meu Senhor, eu que sou apenas cinza e pó, continuarei. 28Se, por acaso, para cinquenta justos faltarem cinco, destruirás toda a cidade, por causa desses cinco homens?» O Senhor respondeu: «Não a destruirei, se lá encontrar quarenta e cinco justos.» 29Abraão insistiu ainda e disse: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta.» O Senhor disse: «Não destruirei a cidade, em atenção a esses quarenta.» 30Abraão voltou a dizer: «Que o Senhor não se irrite, por eu continuar a insistir. Talvez lá se encontrem trinta justos.» O Senhor respondeu: «Se lá encontrar trinta justos, não o farei.» 31Abraão prosseguiu: «Perdoa, meu Senhor, a ousadia que tenho de te falar. Talvez não se encontrem lá mais de vinte justos.» O Senhor disse: «Em atenção a esses vinte justos, não a destruirei.» 32Abraão insistiu novamente: «Que o meu Senhor não se irrite; não falarei, porém, mais do que esta vez. Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.» 33Terminada esta conversa com Abraão, o Senhor afastou-se, e Abraão voltou para a sua morada.

19 Destruição de Sodoma - 1Os dois mensageiros chegaram a Sodoma já tarde, e Lot estava sentado à porta da cidade. Ao vê-los, ergueu-se, foi ao encontro deles e, prostrado com o rosto por terra, 2disse-lhes: «Peço-vos, meus senhores, que venhais para a casa do vosso servo passar a noite e lavar os pés. Levantar-vos-eis de manhã cedo e prosseguireis o vosso caminho.»Responderam-lhe: «Não; passaremos a noite na praça.» 3Mas Lot tanto insistiu que o acompanharam e entraram em casa dele. Preparou-lhes de jantar, mandou cozer pães ázimos, e eles comeram. 4Ainda não se tinham deitado, quando os homens da cidade, os homens de Sodoma, desde os mais novos até aos mais velhos sem excepção, rodearam a casa, 5chamaram Lot e disseram-lhe: «Onde estão os homens que entraram na tua casa, esta noite? Trá-los para fora, a fim de os conhecermos.» 6Lot veio à entrada da casa, e, fechando a porta atrás de si, 7disse-lhes: «Suplico-vos, meus irmãos, não cometais semelhante maldade. 8Eu tenho duas filhas ainda virgens. Eu vo-las trarei. Fazei delas o que vos aprouver, mas não façais mal a esses homens, porque vieram acolher-se à sombra do meu tecto.» 9Eles responderam: «Retira-te daí!» E acrescentaram: «Cá está um homem que chegou como estrangeiro e quer agora ser o nosso juiz! Pois bem, vamos fazer-te pior do que a eles.»E, empurrando Lot violentamente, avançaram para arrombar a porta. 10Mas os dois homens estenderam a mão, meteram Lot dentro de casa e fecharam a porta. 11Feriram de cegueira os homens que estavam em frente da casa, novos e velhos, de tal modo que eles inutilmente se esforçavam por encontrar a porta.
Lot escapa à tragédia - 12Os dois homens disseram a Lot: «Quantas pessoas ainda tens aqui? Manda sair desta região os teus genros, os teus filhos, as tuas filhas e todos os parentes que tiveres na cidade. 13Pois vamos destruir todas estas terras, porque o clamor que se eleva contra os seus habitantes é enorme diante do Senhor, e Ele enviou-nos para os aniquilar.» 14Lot saiu e falou aos genros, os que deveriam casar com as suas filhas, e disse-lhes: «Levantai-vos e saí daqui, pois o Senhor vai destruir a cidade.» Mas os seus genros cuidaram que ele estava a gracejar. 15Ao amanhecer, os mensageiros insistiram com Lot, dizendo-lhe: «Ergue-te, foge com a tua mulher e as tuas duas filhas que estão aqui, a fim de não morreres também tu no castigo da cidade.» 16E como ele se demorava, os homens agarraram-no pela mão, a ele, à mulher e às duas filhas, porque o Senhor queria poupá-los, e conduziram-nos para fora da cidade. 17Depois de os terem conduzido para fora, um dos mensageiros disse-lhe: «Escapa-te, se quiseres conservar a tua vida. Não olhes para trás nem te detenhas em parte alguma do vale. Foge para o monte, de contrário morrerás.» 18Lot disse-lhe: «Não, Senhor, peço-te! 19Este teu servo mereceu a tua benevolência, pois demonstraste a tua imensa generosidade para comigo, conservando-me a vida, mas não poderei fugir até ao monte, pois a destruição atingir-me-ia antes e eu morreria. 20Há aqui perto uma cidade, na qual obterei refúgio. É muito pequena; permiti que eu vá para lá. É tão pequena! E salvarei a minha vida.» 21Ele disse-lhe: «Concedo-te ainda o favor de não destruir a cidade a que te referes. 22Apressa-te, porém, a refugiar-te nela, pois nada posso fazer antes de lá chegares.» Por isso, deram àquela cidade o nome de Soar. 23Erguia-se o sol sobre a terra, quando Lot entrou em Soar. 24Então, o Senhor fez cair do céu, sobre Sodoma e Gomorra, uma chuva de enxofre e de fogo, enviada pelo Senhor. 25Destruiu estas cidades, todo o vale e todos os habitantes das cidades e até a vegetação da terra. 26A mulher de Lot olhou para trás e ficou transformada numa estátua de sal. 27Abraão levantou-se de manhã cedo e foi ao lugar onde tinha estado na presença do Senhor. 28Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e para a extensão do vale, viu elevar-se da terra um fumo semelhante ao fumo de uma fornalha. 29Ao destruir as cidades do vale, porém, Deus recordou-se de Abraão e salvou Lot do cataclismo com que arrasou as cidades onde habitava Lot. 30Lot deixou Soar e fixou-se no monte com as suas duas filhas, porque temia continuar em Soar. Habitava numa caverna com as duas filhas. 31A mais velha disse à mais nova: «O nosso pai está velho, e não há homens nesta região, com quem nos possamos casar, como é de uso em toda a parte. 32Vamos embriagar o nosso pai e deitarmo-nos com ele, a fim de não deixar extinguir a raça do nosso pai. 33Naquela mesma noite, pois, deram a beber vinho ao pai, e a mais velha deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. 34No dia seguinte, a mais velha disse à mais nova: «Deitei-me ontem com o nosso pai; embriaguemo-lo também esta noite, e vai deitar-te com ele, a fim de não se extinguir a raça do nosso pai.» 35Também naquela noite deram a beber vinho ao pai, e a mais nova deitou-se com ele, que de nada se apercebeu, nem quando ela se deitou nem quando se levantou. 36E, assim, as duas filhas de Lot conceberam do próprio pai. 37A mais velha deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Moab, pai dos moabitas, que vivem ainda hoje. 38A mais nova teve igualmente um filho, ao qual deu o nome de Ben-Ami, pai dos amonitas, que vivem ainda hoje.

20 Abraão e Sara em Guerar (26,1-11) - 1Abraão partiu dali para a região de Négueb, fixou-se entre Cadés e Chur, permanecendo durante algum tempo em Guerar. 2Referindo-se a Sara, ele dizia que era sua irmã. Abimélec, rei de Guerar, mandou raptar Sara. 3Deus, porém, apareceu em sonhos a Abimélec, durante a noite, e disse-lhe: «Vais morrer por causa da mulher que raptaste, visto ela ser casada.» 4Abimélec, que não se tinha aproximado dela, respondeu: «Senhor, dareis a morte mesmo a inocentes? 5Não me disse ele que era sua irmã? Ela própria me disse: ‘É meu irmão.’ Procedi com pureza de coração e mãos inocentes.» 6Deus disse-lhe em sonhos: «Eu bem sei que agiste com pureza de coração; por isso, evitei que pecasses contra mim e não permiti que lhe tocasses. 7Manda novamente a mulher para esse homem, que é um profeta, e ele rezará por ti, e conservarás a vida. Se não a mandares entregar, fica sabendo que morrerás com certeza, tu e todos os teus.» 8Ao erguer-se de manhã, Abimélec convocou os seus servos e narrou-lhes todas estas coisas, e foram dominados por grande terror. 9Depois, Abimélec chamou Abraão e disse-lhe: «Que nos fizeste? Em que te ofendi eu, para nos expores, a mim e ao meu reino, ao castigo de um tão grande pecado? Não devias ter procedido comigo da forma como procedeste.» 10Acrescentou: «Qual a tua intenção, ao fazeres isto?» 11Abraão respondeu: «Julgava que poderia não haver temor de Deus neste país, e que iriam matar-me por causa da minha mulher. 12De resto, é verdade que ela é minha irmã, filha do meu pai, mas não de minha mãe; e tornou-se minha mulher. 13Quando Deus me levou para longe da casa do meu pai, eu disse-lhe: ‘Vais fazer-me a mercê de dizer em todos os lugares, onde formos, que sou teu irmão.’» 14Então, Abimélec tomou ovelhas, bois, servos e servas e deu-os de presente a Abraão, ao entregar-lhe Sara, sua mulher. 15Abimélec disse: «O meu país está à tua disposição; podes fixar-te onde melhor te parecer.» 16Disse também a Sara: «Dei ao teu irmão mil moedas de prata. Isto será para ti como um véu perante os que vivem contigo. De tudo ficas, assim, compensada.» 17Abraão intercedeu junto de Deus e Deus curou Abimélec, sua mulher e as suas servas, e tiveram novamente filhos, 18porque o Senhor tinha ferido de esterilidade todas as mulheres da casa de Abimélec, por causa de Sara, mulher de Abraão.

21 Nascimento de Isaac - 1O Senhor visitou Sara, como lhe tinha dito, e realizou nela o que prometera. 2Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho. 3Ao filho que lhe nascera de Sara, deu Abraão o nome de Isaac. 4Abraão circuncidou seu filho Isaac oito dias após o nascimento, como Deus lhe ordenara. 5Abraão tinha cem anos quando nasceu Isaac, seu filho. 6Sara disse: «Deus concedeu-me uma alegria, e todos quantos o souberem, alegrar-se-ão comigo.» 7Ela acrescentou: «Quem poderia dizer a Abraão que Sara amamentaria filhos? No entanto, dei um filho à sua velhice.»

Expulsão de Ismael e de Agar - 8O filho cresceu até à idade em que deixou de mamar, e nesse dia Abraão ofereceu um grande banquete. 9Sara viu que o filho que a egípcia Agar dera a Abraão estava a brincar. 10E ela disse a Abraão: «Expulsa esta escrava e o filho, porque o filho desta escrava não herdará com o meu filho Isaac.» 11Esta frase desgostou profundamente Abraão, por causa de Ismael, seu filho. 12Mas Deus disse-lhe: «Não te preocupes com a criança e com a tua escrava. Faz tudo quanto Sara te pedir, pois de Isaac há-de nascer a descendência que usará o teu nome. 13Contudo, farei sair também uma nação do filho da escrava, porque também ele é teu filho.» 14No dia seguinte de manhã, Abraão tomou pão e um odre de água, deu-o a Agar e pô-lo sobre os ombros dela; depois, mandou-a embora com o seu filho. Ela partiu e, embrenhando-se no deserto de Bercheba, por lá andou ao acaso. 15Tendo-se acabado a água do odre, deixou o filho debaixo de um arbusto 16e foi sentar-se do lado oposto, à distância de um tiro de arco, porque dizia: «Não quero ver o meu filho morrer.» Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar. 17Deus escutou a voz do menino, e o mensageiro de Deus chamou do céu Agar e disse-lhe:«Que tens tu, Agar? Nada temas, porque Deus ouviu a voz do menino, do lugar em que está. 18Ergue-te, vai buscar outra vez o teu filho, toma-o pela mão, pois farei nascer dele um grande povo.» 19Deus abriu-lhe os olhos e ela viu um poço onde foi encher o odre e deu de beber ao filho. 20Deus protegeu o menino. Ele cresceu, residiu no deserto e tornou-se um hábil arqueiro. 21Permaneceu no deserto de Paran e a mãe escolheu para ele uma mulher oriunda do Egipto.

Abraão e Abimélec em Bercheba - 22Por aquele tempo, Abimélec, acompanhado por Picol, chefe do seu exército, disse a Abraão: «Deus está contigo em tudo quanto fazes. 23Jura-me, então, por Deus, que nunca me atraiçoarás nem aos meus filhos, nem aos meus netos e que usarás comigo e para com a terra onde tens vivido da mesma benevolência que tive para contigo.» 24Abraão respondeu: «Juro.» 25Todavia, Abraão apresentou reclamações a Abimélec a respeito de um poço, de que os servos de Abimélec se haviam apoderado. 26Abimélec respondeu: «Ignoro quem fez isso, tu nunca me disseste coisa alguma sobre o assunto, e só hoje ouvi falar dele.» 27Então, Abraão tomou ovelhas e bois e ofereceu-as a Abimélec, e estabeleceram uma aliança entre os dois. 28Abraão separou sete cordeiros do rebanho. 29Perguntou-lhe Abimélec: «Que significam estes sete cordeiros, que puseste de parte?» 30Abraão respondeu: «Aceitarás da minha mão estes sete cordeiros, como testemunhas de ter sido eu quem abriu este poço.» 31Por isso, chamaram Bercheba àquele lugar. Com efeito, os dois prestaram ali juramento um ao outro, 32estabelecendo, assim, aliança em Bercheba. Depois, Abimélec e Picol, chefe do seu exército, voltaram para a terra dos filisteus. 33Abraão plantou uma tamareira em Bercheba e lá invocou o Senhor, Deus eterno. 34Abraão viveu durante muito tempo na terra dos filisteus.
22 Sacrifício de Isaac (Jz 11,29-40) - 1Após estas ocorrências, Deus pôs Abraão à prova e chamou-o: «Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 2Deus disse: «Pega no teu filho, no teu único filho, a quem tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá, onde o oferecerás em holocausto, num dos montes que Eu te indicar.» 3No dia seguinte de manhã, Abraão aparelhou o jumento, tomou consigo dois servos e o seu filho Isaac, partiu lenha para o holocausto e pôs-se a caminho para o lugar que Deus lhe tinha indicado. 4Ao terceiro dia, erguendo os olhos, viu à distância aquele lugar. 5Disse então aos servos: «Ficai aqui com o jumento; eu e o menino vamos até além, para adorarmos; depois, voltaremos para junto de vós.» 6Abraão apanhou a lenha destinada ao holocausto, entregou-a ao seu filho Isaac e, levando na mão o fogo e o cutelo, seguiram os dois juntos. 7Isaac disse a Abraão, seu pai: «Meu pai!» E ele respondeu: «Que queres, meu filho?» Isaac prosseguiu: «Levamos fogo e lenha, mas onde está a vítima para o holocausto?» 8Abraão respondeu: «Deus proverá quanto à vítima para o holocausto, meu filho.» E os dois prosseguiram juntos. 9Chegados ao sítio que Deus indicara, Abraão construiu um altar, dispôs a lenha, atou Isaac, seu filho, e colocou-o sobre o altar, por cima da lenha. 10Depois, estendendo a mão, agarrou no cutelo, para degolar o filho. 11Mas o mensageiro do Senhor gritou-lhe do céu: «Abraão! Abraão!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 12O mensageiro disse: «Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho.» 13Erguendo Abraão os olhos, viu então um carneiro preso pelos chifres a um silvado. Foi buscá-lo e ofereceu-o em holocausto, em substituição do seu filho. l 14Abraão chamou a este lugar: «O Senhor providenciará»; e dele ainda hoje se diz: «Na montanha, o Senhor providenciará.» 15O mensageiro do Senhor chamou Abraão do céu, pela segunda vez, 16e disse-lhe:«Juro por mim mesmo, declara o Senhor,que, por teres procedido dessa formae por não me teres recusado o teu filho, o teu único filho, 17abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendênciacomo as estrelas do céu e como a areia das praias do mar.Os teus descendentes apoderar-se-ão das cidades dos seus inimigos. 18E todas as nações da Terra se sentirão abençoadas na tua descendência,porque obedeceste à minha voz.» 19Abraão voltou para junto dos servos, e regressaram juntos a Bercheba, onde Abraão fixou residência.

Nascimento de Rebeca - 20Decorridos estes factos, foram dizer a Abraão: «Milca também deu filhos a Naor, teu irmão. 21Uce é o primogénito, Buz, seu irmão, Quemuel, pai de Aram, 22Quéssed, Hazô, Pildás, Jidlaf e Betuel. 23Betuel foi o pai de Rebeca. São esses os oito filhos que Milca deu a Naor, irmão de Abraão. 24A sua concubina, chamada Reúma, também deu à luz Teba, Gaam, Taás e Maacá.

23 Compra de uma gruta sepulcral (47,27-31; 50,7-14) - 1Sara viveu cento e vinte e sete anos. Foi esta a duração da sua vida. 2Morreu em Quiriat-Arbá, a actual Hebron, na terra de Canaã. Abraão foi lá para fazer o funeral de Sara e para a chorar. 3Retirando-se da presença da sua morta, Abraão falou assim aos hititas: 4«Sou estrangeiro e hóspede entre vós; permiti que eu adquira, como propriedade minha, um sepulcro na vossa terra, para que eu possa tirar a minha morta de diante de mim e sepultá-la.» 5Os hititas responderam a Abraão: 6«Escuta-nos, senhor: tu és um príncipe divino entre nós. Sepulta a tua morta no melhor dos nossos sepulcros. Nenhum de nós poderá recusar-te o seu sepulcro, para nele depositares a tua morta.» 7Abraão avançou e, prostrando-se perante o povo daquela terra, os hititas, 8disse-lhes: «Se achais bem que tire de diante de mim a minha morta e lhe dê sepultura, escutai-me e intercedei por mim junto de Efron, filho de Soar, 9para que ele me ceda, por seu justo preço, a caverna de Macpela, que lhe pertence e está situada no extremo da sua propriedade, de modo que eu seja o dono do sepulcro.» 10Ora Efron estava sentado entre os hititas. E Efron, o hitita, respondeu a Abraão, na presença dos hititas e de todos aqueles que entravam pela porta da sua cidade: 11«Não, meu senhor! Ouve-me. Dou-te a terra e a caverna que nela existe. Ofereço-tas, em presença dos filhos do meu povo; enterra a tua morta.» 12Abraão prostrou-se diante do povo do país 13e, dirigindo-se a Efron, de modo a ser por todos ouvido, disse-lhe: «Rogo-te que me escutes. Dar-te-ei o preço do terreno, aceita-o e, então, sepultarei a minha morta.» 14Efron respondeu a Abraão: 15«Meu senhor, ouve-me. Que representa para mim e para ti um terreno cujo valor é de quatrocentos siclos de prata? Enterra a tua morta.» 16Abraão aceitou as condições de Efron, e pesou-lhe diante dos hititas a prata por ele mencionada, quer dizer, quatrocentos siclos de prata em moeda corrente. 17O terreno de Efron, situado em Macpela, em frente de Mambré, o terreno e a caverna nele existente e todas as árvores que cresciam em redor, dentro dos limites deste terreno, 18tornaram-se, assim, propriedade de Abraão, diante dos hititas e de toda a gente que entrava pela porta da cidade. 19Depois, Abraão enterrou Sara, sua mulher, na caverna de Macpela, em frente de Mambré, isto é, em Hebron, na terra de Canaã. 20O terreno e a caverna nele situada passaram dos hititas para a posse de Abraão, como propriedade tumular.

B - Ciclo de Isaac (24-27)

24 Casamento de Isaac (28,1-10; 29,1-20) - 1Abraão estava velho, tinha uma idade já avançada, e o Senhor abençoara-o em tudo. 2Abraão disse ao mais antigo servo da casa, aquele que administrava todos os seus bens: «Coloca a tua mão sob a minha coxa. 3Quero que jures pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que não escolherás para o meu filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, no meio dos quais resido; 4mas irás à minha terra, à minha família, e nela escolherás mulher para o meu filho Isaac.» 5O servo respondeu: «E se a mulher não quiser vir comigo para esta terra, levarei então o teu filho para a terra de onde ela é natural?» 6Abraão disse-lhe: «Livra-te de levar para lá o meu filho! 7O Senhor, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e da minha pátria, falou-me e jurou-me que daria esta terra à minha descendência; Ele enviará o seu mensageiro diante de ti, e trarás de lá uma mulher para o meu filho. 8Se ela não quiser seguir-te, ficarás desligado do juramento que te impus, mas de modo algum voltarás com meu filho, outra vez, para lá.» 9O servo colocou a mão sob a coxa de Abraão, seu amo, e jurou o que este lhe ordenara. 10O servo preparou dez camelos do seu amo e partiu, levando consigo inúmeros e valiosos presentes, da parte de Abraão. Tomou o caminho da Mesopotâmia e foi para a cidade de Naor. 11Fez ajoelhar os camelos para descansarem, fora da cidade, junto de um poço, já de tarde, quando as mulheres saíam para buscar água. 12E ele disse: «Senhor, Deus de Abraão, meu amo, fazei que eu encontre hoje o que pretendo, e manifestai a vossa bondade para com o meu amo Abraão. 13Vou colocar-me junto da fonte, pois as jovens da cidade vão sair para vir buscar água. 14Aquela jovem a quem eu disser: ‘Inclina, por favor, o teu cântaro, para eu beber’, e me responder: ‘Bebe e darei também de beber aos teus camelos’ - essa seja a que destinaste ao teu servo Isaac. E assim ficarei a saber que manifestas a tua bondade ao meu senhor.»

Rebeca na fonte - 15Não acabara ainda de falar, quando Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, apareceu com o cântaro ao ombro. 16A jovem era muito bela e virgem, pois homem algum a tinha conhecido. Ela desceu à fonte, encheu o cântaro e subiu. 17O servo correu ao encontro dela e disse-lhe: «Deixa-me, por favor, beber um pouco de água do teu cântaro.» Ela respondeu: 18«Bebe, meu senhor.» E logo inclinou o cântaro sobre a mão e deu-lhe de beber. 19Depois de ter bebido, ela disse: «Vou também buscar água para os teus camelos, até que tenham bebido o que quiserem.» 20Imediatamente despejou o cântaro no bebedoiro e correu de novo à fonte a buscar água para todos os camelos. 21O homem observava-a em silêncio, para saber se o Senhor teria ou não conduzido a bom termo a sua viagem. 22Quando os camelos acabaram de beber, o homem tirou um anel de ouro com meio siclo de peso e duas pulseiras que pesavam dez siclos 23e disse à jovem: «De quem és filha? Peço-te que mo digas. Haverá lugar para nós passarmos a noite em casa do teu pai?» 24Ela respondeu: «Sou filha de Betuel, o filho que Milca deu a Naor.» 25E acrescentou: «Em nossa casa há palha e muito feno, para alimentação do gado, e também lugar para pernoitar.» 26Então o homem inclinou-se e, prostrando-se diante do Senhor, 27exclamou: «Bendito seja o Senhor, Deus de Abraão, meu amo, que não deixou de ser bondoso e fiel para com o meu amo e me conduziu a mim directamente à casa dos parentes do meu senhor.» 28A jovem correu e foi contar, em casa de sua mãe, o que se acabava de passar. 29Rebeca tinha um irmão chamado Labão, que se apressou a ir ao poço, em busca do homem. 30Ele tinha visto o anel e as pulseiras nas mãos da irmã e ouvira Rebeca a dizer: «Assim me falou o homem.»Foi ter, pois, com o estrangeiro e encontrou-o junto dos camelos, na fonte. 31E disse-lhe: «Vem, bendito do Senhor; porque estás aqui fora? Eu já preparei a casa e um lugar para os camelos.»

Missão cumprida - 32O homem entrou em casa. Labão mandou descarregar os camelos, deu palha e feno aos animais, e água para lavar os pés do homem e daqueles que o acompanhavam. 33Depois, serviram-lhe de comer. Ele, porém, disse: «Não comerei nada antes de dizer o que tenho a dizer.» Labão disse: «Fala.» 34Ele disse: «Sou servo de Abraão. 35O Senhor cumulou o meu amo de bênçãos e tornou-o poderoso. Deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos e servas, camelos e jumentos. 36Sara, mulher do meu amo, apesar da sua velhice, deu-lhe um filho, ao qual ele deu todos os seus bens. 37Então, o meu senhor fez-me jurar que eu não escolheria para o filho uma mulher entre as filhas dos cananeus, em cujo país reside, 38mas sim, que iria a casa do pai e, na sua família, escolheria mulher para o filho. 39Eu disse-lhe: ‘E se a mulher não quiser vir comigo?’ 40Ele respondeu-me: ‘O Senhor, na presença de quem tenho sempre caminhado, enviará o seu mensageiro contigo, para que a tua viagem alcance o fim desejado. Escolherás para o meu filho uma mulher da minha família, da casa de meu pai. 41Só ficarás desligado do juramento que me fizeste se, depois de chegares junto dos meus parentes, eles se opuserem a conceder-ta.’ 42Mas, ao chegar hoje à fonte, eu disse: ‘Senhor, Deus do meu amo Abraão, se te dignares permitir que a viagem por mim empreendida seja coroada de êxito, 43vou colocar-me junto da fonte, e a jovem que sair para vir buscar água e a quem eu disser: ‘Por favor, deixa-me beber um pouco da água do teu cântaro’, 44e me responder: ‘Bebe, e vou também buscar água para os camelos’, essa é a mulher que o Senhor destinou ao filho do meu amo.’ 45Não tinha acabado de dizer isto comigo mesmo, quando Rebeca saiu com o cântaro ao ombro e desceu à fonte para buscar água. Disse-lhe: ‘Dá-me de beber, por favor.’ 46Ela inclinou o cântaro no ombro e disse-me: ‘Bebe, e também darei de beber aos camelos.’ Eu bebi, e ela deu de beber aos camelos. 47Depois, perguntei-lhe de quem era filha. Ela respondeu-me: ‘Sou filha de Betuel, o filho de Naor, e de Milca.’ Então, coloquei-lhe o anel no nariz e as pulseiras nos braços. 48Depois, ajoelhei-me, prostrei-me diante do Senhor; e louvei o Senhor, o Deus do meu amo Abraão, que me conduziu directamente ao lugar onde podia encontrar a filha do irmão do meu amo, para mulher do seu filho. 49Agora, se desejais mostrar ao meu amo a vossa afeição e fidelidade, dizei-mo; se, porém, decidis o contrário, dizei-mo também, para que eu saiba que caminho devo tomar.» 50Labão e Betuel responderam, dizendo: «É do Senhor que tudo isto vem. Nós não podemos dizer-te nem bem nem mal. 51Aqui está Rebeca; toma-a e parte, e que ela seja a mulher do filho do teu amo, como o Senhor disse.» 52Ao ouvir tais palavras, o servo de Abraão prostrou-se por terra diante do Senhor. 53Tirando, seguidamente, os objectos de prata, os objectos de ouro e vestuário, ofereceu-os a Rebeca. Ofereceu também ricos presentes ao seu irmão e à sua mãe. 54Depois, comeram e beberam, ele e os seus companheiros, e pernoitaram.No dia seguinte, quando se ergueram, o servo disse: «Permiti que regresse à casa do meu amo.» 55O irmão e a mãe de Rebeca responderam: «Que a jovem fique connosco ainda alguns dias, uns dez, e depois partirá.» 56Ele replicou: «Não me façais demorar e, como o Senhor coroou de sucesso a minha viagem, deixai-me partir e voltar para a casa do meu amo.» 57Eles disseram: «Chamemos a jovem e perguntemos-lhe o que pensa ela.» 58Chamaram Rebeca e perguntaram-lhe: «Queres partir com este homem?» Ela respondeu: «Sim.» 59Deixaram então partir Rebeca, sua irmã, e a sua ama, com o servo de Abraão e os seus homens. 60E abençoaram-na dizendo:«Tu és nossa irmã!Possas tu vir a ser mãe de milhares de milhares!Que a tua descendência se apodere das cidades dos seus inimigos!» 61Rebeca e as suas servas levantaram-se, subiram para os camelos e seguiram o homem. E o servo que conduzia Rebeca pôs-se a caminho.

Encontro com Isaac - 62Ao cair da tarde, Isaac regressara do poço de Lahai-Roí; ele residia então no Négueb. 63Nessa tarde, em que saíra a dar uma volta pelos campos, ergueu os olhos e viu camelos a aproximarem-se. 64Também Rebeca, erguendo os olhos, o viu e desceu do camelo. 65Ela disse ao servo: «Quem é o homem que vem ao nosso encontro, pelo campo?» O servo respondeu: «É o meu amo.»Imediatamente Rebeca cobriu-se com o véu. 66O servo narrou a Isaac tudo quanto fizera. 67Depois, Isaac conduziu Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe, recebeu-a por esposa, e amou-a. Assim, ficou Isaac reconfortado da morte de sua mãe.
25 Os filhos de Quetura ( 1Cr 1,32-33) - 1Abraão voltou a tomar uma mulher de nome Quetura, 2que lhe deu à luz Zimeran, Jocsan, Medan, Madian, Jisbac e Chua. 3Jocsan gerou Sabá e Dedan. Os filhos de Dedan foram os achuritas, os letuchitas e os leumitas. 4Os filhos de Madian foram Efá, Éfer, Henoc, Abidá e Eldaá. Foram esses os filhos de Quetura. 5Abraão deu todos os seus bens a Isaac. 6Quanto aos filhos das suas concubinas, deu-lhes apenas presentes e enviou-os, ainda em vida, para longe de Isaac, seu filho, para as terras do oriente.
Morte de Abraão - 7Esta é a duração da vida de Abraão: ele viveu cento e setenta e cinco anos. 8Abraão foi-se extinguindo e morreu numa ditosa velhice; de idade avançada e repleto de dias, foi reunir-se aos seus. 9Isaac e Ismael, seus filhos, sepultaram-no na caverna de Macpela, situada na terra de Efron, filho de Soar, o hitita, em frente de Mambré, 10a terra que Abraão adquirira aos hititas. Ali foi sepultado com Sara, sua mulher. 11Após a sua morte, Deus abençoou Isaac, seu filho, que residia junto do poço de Lahai-Roí.

Descendência de Ismael (1 Cr 1,28-31) - 12Esta é a descendência de Ismael, o filho de Agar, a escrava egípcia que Sara dera a Abraão. 13Eis os nomes dos filhos de Ismael, por ordem de nascimento: Nebaiot, primogénito de Ismael; a seguir, Quedar, Adbiel, Mibsam, 14Michemá, Dumá, Massá, 15Hadad, Tema, Jetur, Nafis e Quedma. 16São estes os filhos de Ismael. São estes os nomes segundo as suas aldeias e respectivos acampamentos, e foram os doze chefes das suas tribos. 17A duração da vida de Ismael foi de cento e trinta e sete anos. Depois, expirando, morreu, indo reunir-se aos seus. 18Os seus filhos habitaram desde Havilá até Chur, que está na fronteira do Egipto, em direcção de Achur. Instalou-se, assim, diante de todos os seus irmãos.
Esaú e Jacob - 19Esta é a descendência de Isaac, filho de Abraão. 20Abraão gerou Isaac. Isaac tinha quarenta anos, quando casou com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padan-Aram, e irmã de Labão, o arameu. 21Isaac pediu a protecção do Senhor para a sua mulher, que era estéril.O Senhor ouviu-o e Rebeca, sua mulher, concebeu. 22As crianças lutavam no seu seio, e ela disse: «Se isto devia suceder, para que havia eu de conceber?» E foi consultar o Senhor, 23que lhe respondeu:«Duas nações estão no teu seio:dois povos sairão das tuas entranhas.Um prevalecerá sobre o outro,e o mais velho servirá o mais novo.» 24Quando chegou o tempo em que devia dar à luz, saíram dois gémeos do seu seio. 25O primeiro que nasceu era ruivo, todo coberto de pêlos como se fosse um manto, e por isso lhe deram o nome de Esaú. 26Depois, saiu o irmão, segurando com a mão o calcanhar de Esaú. E por isso lhe deram o nome de Jacob. Quando eles vieram ao mundo, Isaac tinha sessenta anos. 27As crianças cresceram. Esaú fez-se hábil caçador, um homem dos campos, ao passo que Jacob era um homem tranquilo, que habitava em tendas. 28Isaac preferia Esaú, porque gostava de caça, mas a ternura de Rebeca ia para Jacob.
O prato de lentilhas - 29Certo dia, estando Jacob a preparar um guisado, Esaú regressou do campo muito cansado. 30E disse a Jacob: «Deixa-me comer desse guisado vermelho, pois estou muito cansado.» Por isso, puseram a Esaú o nome de Edom. 31Jacob disse-lhe: «Vende-me o direito de primogenitura.» 32Esaú retorquiu: «Que me importa a mim o direito de primogenitura, se estou a morrer de fome?» 33Jacob disse-lhe: «Jura imediatamente.» Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacob. 34Então Jacob deu-lhe pão e um prato de lentilhas. Esaú comeu e bebeu; depois ergueu-se e partiu. Foi assim que Esaú renunciou ao seu direito de primogenitura.

26 Episódios sobre Isaac (22,15-18; 27,1-29) - 1Sobreveio uma grande fome naquela terra, além da primeira fome no tempo de Abraão. Isaac foi para Guerar, na intenção de falar a Abimélec, rei dos filisteus. 2O Senhor apareceu-lhe e disse:«Não desças ao Egipto,fica na terra que Eu te indicar. 3Vive aí durante algum tempo;Eu estou contigo e abençoar-te-ei,pois é a ti e à tua descendência que Eu darei toda esta terrae cumprirei o juramento que fiz a Abraão, teu pai. 4Multiplicarei a tua posteridade como as estrelas do céu,dar-te-ei todas estas regiões,e nela serão abençoadas todas as nações da Terra, 5porque Abraão obedeceu à minha voze cumpriu os meus preceitos,os meus mandamentose as minhas leis.» 6Isaac habitou, portanto, em Guerar. 7Quando os homens daquele lugar lhe faziam perguntas acerca de sua mulher, ele respondia: «É minha irmã», pois eles poderiam matá-lo, se dissesse: «É minha mulher», visto Rebeca ser realmente bela. 8Ao fim de muito tempo, aconteceu que, um dia, Abimélec, rei dos filisteus, olhando através da janela, viu Isaac a acariciar Rebeca, sua mulher. 9Abimélec chamou Isaac e disse-lhe: «Com certeza ela é tua mulher! E porque te atreveste a dizer: ‘É minha irmã’?» Isaac respondeu: «Disse tudo isso, porque temia ser morto por causa dela.» 10Abimélec retorquiu: «Que é que nos fizeste? Pouco faltou para que qualquer homem do nosso povo se tivesse deitado com a tua mulher, e terias, assim, atraído sobre nós um pecado.» 11Então, Abimélec mandou proclamar esta ordenação a todo o povo: «Quem tocar neste homem ou na sua mulher será morto.» 12Isaac fez as suas sementeiras naquelas terras e, no mesmo ano, recolheu cem vezes mais, pois o Senhor abençoara-o. 13E este homem tornou-se rico, e foi aumentando cada vez mais a sua fortuna, até chegar a ser extraordinariamente poderoso. 14Possuía rebanhos de toda a espécie, de gado miúdo e graúdo, e numerosos servos. Por isso, os filisteus tiveram inveja de Isaac.

Poços e pastores - 15Todos os poços que tinham sido abertos pelos servos do seu pai Abraão, quando ele ainda vivia, foram obstruídos pelos filisteus, enchendo-os de terra. 16E Abimélec disse a Isaac: «Vai-te embora daqui, pois agora és muito mais poderoso do que nós.» 17Isaac partiu e, erguendo as suas tendas na torrente de Guerar, ali resolveu permanecer. 18Isaac abriu novamente os poços que tinham sido abertos no tempo de Abraão, seu pai, e que os filisteus entulharam após a morte de Abraão, dando-lhes o mesmo nome que o pai lhes tinha dado. 19Os servos de Isaac, prosseguindo as suas escavações no vale, descobriram uma nascente de águas vivas, 20mas os pastores de Guerar entraram em conflito com os pastores de Isaac e disseram: «Esta água pertence-nos.» Então, Isaac a esse poço chamou «Poço de Discussão», por lhe terem impugnado falsamente a sua propriedade. 21Abriram um outro poço e logo surgiu nova discussão; por isso, chamou-o «Poço de Reclamação.» 22Partiu imediatamente dali e, mais adiante, abriram um poço, a respeito do qual não houve discussões, e deu-lhe o nome de «Poço de Largueza», porque ele disse: «O Senhor agora deu-nos largueza, e havemos de prosperar nesta terra.» 23Depois, Isaac subiu dali para Bercheba. 24O Senhor apareceu-lhe naquela noite e disse-lhe:«Eu sou o Deus de Abraão, teu pai.Nada temas, pois estou contigo.Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência,por causa de Abraão, meu servo.» 25Isaac construiu um altar naquele sítio e invocou o nome do Senhor; depois, levantou ali também a sua tenda, e os seus servos abriram ali um poço.
Aliança com Abimélec - 26Abimélec partiu de Guerar em companhia de Auzat, seu amigo, e de Picol, chefe do seu exército, e foi ter com Isaac. 27Isaac disse-lhes: «Qual a razão que vos traz até junto de mim, vós que me odiais e me expulsastes da vossa terra?» 28Eles responderam: «Porque é evidente que o Senhor está contigo, e dissemos: É indispensável um juramento entre nós e ti. Queremos, portanto, fazer uma aliança contigo. 29Jura que não nos farás mal algum, assim como nós nunca te maltrataremos e só te fizemos bem, deixando-te partir em paz. Tu, agora, és o abençoado do Senhor.» 30Isaac ofereceu-lhes um banquete, e eles comeram e beberam. 31No dia seguinte, de manhã, ficaram unidos, por juramento, um ao outro; depois, Isaac despediu-os, e eles afastaram-se em paz, da sua presença. 32Nesse mesmo dia, os servos de Isaac foram dar-lhe notícias acerca do poço que estavam a abrir e disseram-lhe: «Encontrámos água.» 33Ele deu a esse poço o nome de Cheba. Por isso, é que a cidade se chama Bercheba, até ao dia de hoje.

Casamento de Esaú - 34Aos quarenta anos de idade, Esaú tomou por mulheres Judite, filha de Beeri, o hitita, e Basemat, filha de Elon, o hitita. 35Elas causaram muita amargura ao coração de Isaac e ao coração de Rebeca.
27 Isaac abençoa Jacob (22,15-18; 26,2-5) - 1Isaac estava velho e os seus olhos enfraqueceram-se tanto que já não via. Chamou Esaú, seu primogénito, e disse-lhe: «Meu filho!» Ele respondeu: «Aqui estou.» 2Isaac disse: «Como vês, estou velho e desconheço qual será o dia da minha morte. 3Peço-te que tomes as tuas armas, a aljava e o arco, vás para o campo e, quando tiveres caçado alguma coisa, 4faz-me um guisado suculento como eu gosto e traz-mo para eu comer, a fim de te abençoar antes de morrer.» 5Ora, Rebeca estava à escuta e ouviu o que Isaac dizia a Esaú, seu filho. E Esaú foi para o campo caçar alguma coisa, para depois trazer ao pai. 6Rebeca disse a Jacob, seu filho: «Acabo de ouvir teu pai a dizer ao teu irmão Esaú o seguinte: 7‘Vai caçar alguma coisa para mim e faz-me um guisado suculento, para eu comer. Depois, quero abençoar-te diante do Senhor, antes de morrer.’ 8Agora, meu filho, escuta bem o que te vou dizer: 9Vai buscar ao rebanho dois cabritos gordos e traz-mos. Eu farei com eles um prato suculento para o teu pai, como ele gosta. 10Levá-lo-ás para o teu pai comer e, assim, te abençoar antes de morrer.» 11Jacob respondeu à sua mãe Rebeca: «Mas Esaú, meu irmão, é um homem peludo, e eu não tenho pêlo algum. 12Se acontecer que meu pai me toque, passarei a seus olhos por mentiroso e atrairei sobre mim uma maldição em vez de uma bênção.» 13A mãe replicou: «Que essa maldição recaia sobre mim, meu filho. Ouve o que te digo; e vai buscar o que te disse.» 14Jacob foi e trouxe os dois cabritos à sua mãe, que fez um prato suculento, como o pai gostava. 15E Rebeca escolheu as mais belas roupas de Esaú, seu filho mais velho, as mais belas que tinha em casa, e vestiu-as a Jacob, seu filho mais novo. 16Depois, cobriu-lhe as mãos e o pescoço, que não tinham pêlos, com a pele dos cabritos, 17e colocou nas mãos de Jacob, seu filho, o guisado suculento e o pão, que ela preparara. 18Jacob foi ter com o pai e disse-lhe: «Meu Pai.» Isaac respondeu: «Estou aqui.» «Mas quem és tu, meu filho?» 19Jacob respondeu a seu pai: «Sou Esaú, teu primogénito; fiz o que me pediste. Peço-te, pois, que te levantes, que te sentes e comas da minha caça, a fim de me abençoares.» 20Isaac disse: «Como pudeste encontrar caça tão depressa, meu filho?» E Jacob respondeu: «Porque o Senhor, teu Deus, trouxe-a para diante de mim.» 21Isaac disse a Jacob: «Anda, aproxima-te para eu te tocar, meu filho, e ver se és realmente o meu filho Esaú ou não.» 22Jacob aproximou-se de Isaac, seu pai, que o tocou e disse: «A voz é a voz de Jacob, mas as mãos são as de Esaú.» 23Ele não o reconheceu por estarem as suas mãos peludas como as do seu irmão Esaú. Dispôs-se a abençoá-lo, 24mas ainda voltou a perguntar-lhe: «És, na verdade, o meu filho Esaú?» Jacob respondeu: «Sim.» 25Isaac disse: «Serve-me a tua caça, para que eu coma e te abençoe.» Jacob serviu-o e ele comeu; levou-lhe também vinho e ele bebeu. 26Então, Isaac, seu pai, disse-lhe: «Aproxima-te, meu filho, e dá-me um beijo.» 27Jacob aproximou-se e beijou-o. E, ao sentir a fragrância das suas roupas, Isaac abençoou-o, dizendo:«Sim! O odor do meu filho é como odor de um campo abençoado pelo Senhor. 28Que Deus te concedao orvalho do céu e a fertilidade da terra,trigo e mosto em abundância! 29Que os povos te sirvame as nações se prostrem na tua presença!Sê o senhor dos teus irmãos;diante de ti se curvem os filhos da tua mãe!Maldito seja quem te amaldiçoar,e bendito seja quem te abençoar.»

Regresso de Esaú - 30Mal Isaac acabara de abençoar Jacob, e Jacob se tinha retirado da presença do pai, Esaú regressou da caça. 31Preparou também um guisado suculento e levou-o ao pai, dizendo-lhe: «Levanta-te, meu pai, e come a caça do teu filho, para me abençoares.» 32Isaac, seu pai, perguntou-lhe: «Quem és tu?» Ele respondeu: «Sou Esaú, teu filho primogénito.» 33Isaac, dominado por fortíssima emoção, disse: «Quem foi então que me trouxe a caça que eu comi antes de chegares? Abençoei-o e, portanto, ficará abençoado.» 34Ao ouvir tais palavras do pai, Esaú começou a gritar e a chorar amargamente e disse-lhe: «Abençoa-me também a mim, meu pai!» Isaac disse: 35«O teu irmão veio astuciosamente e recebeu a tua bênção.» 36Esaú disse-lhe: «É por se chamar Jacob que já me venceu duas vezes? Apoderou-se do meu direito de primogenitura e agora apodera-se da minha bênção!» E acrescentou: «Não tens nenhuma bênção para mim?» 37Isaac respondeu-lhe: «Fiz dele o teu senhor, dei-lhe todos os seus irmãos como servos e entreguei-lhe o trigo e o mosto. Que posso eu fazer agora por ti, meu filho?» 38Esaú disse ao pai: «Tens apenas uma bênção, meu pai? Abençoa-me também, meu pai.» E começou a chorar. 39Isaac, respondeu-lhe:«A tua casa será privadada fertilidade da terra e do orvalho que desce dos céus. 40Viverás da tua espadae servirás o teu irmão,mas, nas tuas andanças de vagabundo,afastarás o seu jugo do teu pescoço.» 41Esaú concebeu profunda aversão a Jacob, mercê da bênção que o pai lhe dera, e disse no seu coração: «Estão próximos os dias de luto por meu pai, e então matarei meu irmão Jacob.» 42Rebeca foi informada das palavras de Esaú, seu filho mais velho. Ela mandou chamar Jacob, seu filho mais novo, e disse-lhe: «O teu irmão Esaú quer vingar-se de ti, matando-te. 43Escuta-me, pois, meu filho, e foge depressa para junto de Labão, meu irmão, em Haran. 44Fica em casa dele durante algum tempo, o suficiente para acalmar o furor do teu irmão, 45até que a cólera do teu irmão se afaste para longe de ti. Quando ele estiver apaziguado e se tiver esquecido do que lhe fizeste, mandar-te-ei buscar. Porque haveria eu de ser privada dos meus dois filhos, num único dia?»
Jacob enviado à Mesopotâmia (24; 29,1-20) - 46Rebeca disse a Isaac: «Estou desgostosa da vida por causa das filhas dos hititas. Se Jacob casar com uma mulher como aquelas, entre as filhas dos hititas, de que me serve viver?»

C - Ciclo de Jacob (28,1-36,43)

28 1Isaac chamou Jacob, abençoou-o e deu-lhe esta ordem:«Não casarás com nenhuma filha de Canaã. 2Ergue-te e vai a Padan-Aram, à casa de Betuel, pai da tua mãe, e escolhe aí uma mulher entre as filhas de Labão, irmão da tua mãe. 3Que o Deus supremo te abençoe, te faça crescer e multiplicar, de modo a vires a ser uma imensidade de povos! 4Que Ele te conceda, e à tua descendência, a bênção de Abraão, a fim de possuíres a terra onde resides, que foi dada por Deus a Abraão.» 5Isaac despediu-se de Jacob, que se dirigiu a Padan-Aram, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacob e de Esaú. 6Esaú viu que Isaac tinha abençoado Jacob e que o enviara a Padan-Aram, a fim de ali casar e que, ao abençoá-lo, lhe havia proibido de arranjar mulher entre as filhas de Canaã; 7obedecendo a seu pai e a sua mãe, Jacob tinha ido para Padan-Aram. 8Esaú compreendeu que as filhas de Canaã desagradavam ao pai. 9Foi, então, ter com Ismael e tomou para mulher, além das que já tinha, Maalat, filha de Ismael, filho de Abraão e irmã de Nebaiot.

Sonho de Jacob em Betel - 10Jacob saiu de Bercheba e tomou o caminho de Haran. 11Chegou a determinado sítio e resolveu ali passar a noite, porque o sol já se tinha posto. Serviu-se de uma das pedras do lugar como travesseiro e deitou-se. 12Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. 13Por cima dela estava o Senhor, que lhe disse:«Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac.Esta terra, na qual te deitaste, dar-ta-ei, assim como à tua posteridade. 14A tua posteridade será tão numerosa como o pó da terra; estender-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul, e todas as famílias da Terra serão abençoadas em ti e na tua descendência. 15Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi.» 16Despertando do sono, Jacob exclamou: «O Senhor está realmente neste lugar e eu não o sabia!» 17Atemorizado, acrescentou: «Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu.» 18No dia seguinte de manhã, Jacob agarrou na pedra que lhe servira de travesseiro e, depois de a erguer como um monumento, derramou óleo sobre ela. 19Chamou a este sítio Betel, quando, originariamente, a cidade se chamava Luz. 20Jacob fez, então, o seguinte voto: «Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir, 21e se eu regressar em paz à casa do meu pai, o Senhor será o meu Deus. 22E esta pedra, que eu erigi à maneira de monumento, será para mim casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo quanto Ele me conceder.»
Jacob e Labão

29 Jacob em Haran - 1Jacob retomou o caminho para as terras do Oriente. 2Olhando em redor, viu no campo um poço, junto do qual estavam deitados três rebanhos de ovelhas. Este poço servia de bebedouro aos rebanhos. Como, porém, a pedra que tapava a boca do poço era grande, 3afastavam-na da abertura só quando se reuniam todos os rebanhos. Davam, então, de beber aos animais e depois tornavam a colocar a pedra no respectivo lugar. 4Jacob perguntou aos pastores: «De onde sois, meus irmãos?» Responderam: «Somos de Haran.» 5Ele disse-lhes: «Conheceis Labão, filho de Naor?» Responderam: «Conhecemos.» 6Disse-lhes ele: «E está de boa saúde?» Responderam: «Está de boa saúde, e ali vem Raquel, sua filha, com o rebanho.» 7Ele disse: «Ainda é dia claro, é cedo para recolher os rebanhos; dai de beber às ovelhas e voltai com elas a pastar.» 8Responderam: «Não podemos, enquanto todos os rebanhos não estiverem reunidos. Então, afasta-se a pedra da boca do poço e damos de beber ao gado.» 9Estava ainda a conversar com eles, quando apareceu Raquel com o rebanho do seu pai, pois ela era pastora. 10Logo que Jacob viu Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e o rebanho de seu tio Labão, aproximou-se, removeu a pedra que estava sobre a abertura do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, seu tio. 11Depois, beijou Raquel e começou a chorar. 12Jacob declarou a Raquel que era parente do seu pai e filho de Rebeca. Ela correu a participar tudo a seu pai. 13Quando Labão ouviu falar de Jacob, filho da sua irmã, foi imediatamente ao encontro dele, apertou-o nos braços, beijou-o e levou-o para a sua casa. Jacob contou a Labão tudo quanto se havia passado. 14E Labão disse-lhe: «Sim, tu és do meu sangue, pertences à minha própria família.» E Jacob morou com Labão um mês inteiro.

Lia e Raquel - 15Depois disso, Labão disse a Jacob: «Acaso estás a servir-me sem qualquer recompensa, apenas por seres meu parente? Diz que salário deverá ser o teu.» 16Ora, Labão tinha duas filhas. A mais velha chamava-se Lia e a mais nova, Raquel. 17Lia tinha o olhar terno; Raquel era esbelta e de belo rosto. 18Jacob amava Raquel e disse: «Servir-te-ei sete anos por Raquel, a tua filha mais nova.» 19Labão respondeu: «Melhor é dar-ta a ti do que a outro; fica em minha casa.» 20E Jacob serviu por Raquel sete anos, que lhe pareceram apenas alguns dias, tanto era o amor que por ela sentia. 21Então, Jacob disse a Labão: «Dá-me a minha mulher, porque o meu tempo findou, e quero casar com ela.» 22Labão reuniu todos os homens do lugar e ofereceu um banquete. 23Mas, já de noite, conduziu Lia a Jacob, que dela se aproximou. 24E para serva de Lia, sua filha, Labão deu-lhe sua escrava Zilpa. 25No dia seguinte de manhã, Jacob, vendo que era Lia, disse a Labão: «Porque me fizeste isso? Não foi por Raquel que eu te servi? Porque me enganaste?» 26Labão respondeu: «Aqui, não é costume dar a mais nova em casamento, antes da mais velha. 27Terminada a semana de núpcias, dar-te-ei também a outra, sua irmã, na condição de me servires ainda mais sete anos.» 28Assim fez Jacob; e, terminada a semana de núpcias de Lia, Labão deu-lhe Raquel, sua filha, por mulher. 29E Labão deu à sua filha Raquel a sua escrava Bila, para ficar ao serviço dela. 30Jacob uniu-se também a Raquel, que amava mais do que a Lia. E serviu ainda em casa de Labão durante outros sete anos.
Os Filhos de Jacob - 31Vendo o Senhor que Lia não era amada, tornou-a fecunda, enquanto Raquel permanecia estéril. 32Lia concebeu e deu à luz um filho, ao qual deu o nome de Rúben, porque disse: «O Senhor olhou para a minha humilhação; agora serei amada por meu marido.» 33Concebeu outra vez e deu à luz um filho; e disse: «O Senhor, sabendo que eu era desdenhada, deu-me também este.» E deu-lhe o nome de Si-meão. 34Tornou a conceber novamente e deu à luz um filho; e disse: «Agora meu marido prender-se-á a mim, porque já lhe dei três filhos.» Por isso, deu-lhe o nome de Levi. 35Concebeu ainda mais outra vez e deu à luz um filho; e disse: «Sim, agora louvarei o Senhor.» E deu-lhe, por isso, o nome de Judá. Depois não teve mais filhos.

30 1Vendo que não dava à luz filhos a Jacob, Raquel começou a ter inveja da irmã e disse a Jacob: «Dá-me filhos ou, então, morro!» 2E Jacob irritou-se com Raquel e disse-lhe: «Julgas-me capaz de substituir Deus, que te recusou a fecundidade?» 3Ela respondeu: «Aqui tens a minha serva Bila; vai ter com ela. Que ela dê à luz sobre os meus joelhos; assim, por ela, eu também terei filhos.» 4Deu-lhe, pois, a sua serva Bila por mulher, e Jacob aproximou-se dela. 5Bila concebeu e deu um filho a Jacob. 6Raquel disse, então: «Deus fez-me justiça, escutou a minha voz e deu-me um filho.» Por isso, deu-lhe o nome de Dan. 7Bila, a escrava de Raquel, concebeu outra vez e deu um segundo filho a Jacob. 8Raquel disse: «Lutei contra a minha irmã, junto de Deus, e venci-a!» Por isso, chamou-lhe Neftali. 9Ao ver extinta a sua fecundidade, Lia tomou a sua escrava Zilpa e deu-a por mulher a Jacob. 10Zilpa, a escrava de Lia, deu um filho a Jacob. 11Lia exclamou: «Que felicidade!» E deu-lhe o nome de Gad. 12Zilpa, a serva de Lia, deu um segundo filho a Jacob. 13Lia exclamou: «Como sou feliz! As donzelas chamar-me-ão bem-aventurada.» E deu-lhe o nome de Aser. 14Certo dia, na época da ceifa do trigo, saindo Rúben para o campo, encontrou mandrágoras e levou-as a Lia, sua mãe. Raquel disse a Lia: «Dá-me, por favor, parte das mandrágoras do teu filho.» 15Lia respondeu: «Não te parece bastante teres roubado o meu marido, e queres também roubar-me as mandrágoras do meu filho?» Raquel retorquiu: «Pois bem, em troca das mandrágoras do teu filho, que ele fique contigo esta noite.» 16Quando Jacob regressava do campo, à tarde, Lia saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: «Vem comigo, pois hoje paguei por ti o preço das mandrágoras do meu filho.» E ficou com ele nessa noite. 17Deus ouviu Lia, que concebeu e deu um quinto filho a Jacob. 18Lia exclamou: «Deus recompensou-me por ter dado a minha serva a meu marido.» E deu-lhe o nome de Issacar. 19Lia concebeu novamente e deu um sexto filho a Jacob. 20Lia exclamou: «Deus concedeu-me um belo presente. Agora, o meu marido habitará comigo, porque já lhe dei seis filhos.» E deu-lhe o nome de Zabulão. 21A seguir, deu à luz uma filha, a quem chamou Dina. 22Deus recordou-se de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda. 23Ela concebeu e deu à luz um filho. E disse: «Deus apagou a minha vergonha.» 24E chamou-lhe José, dizendo: «Que o Senhor me acrescente ainda outro filho!»

Conversações difíceis - 25Depois de Raquel ter dado à luz José, Jacob disse a Labão: «Deixa-me partir, a fim de voltar para a minha casa e para o meu país. 26Dá-me as minhas mulheres e os meus filhos, pelos quais te servi, antes de me ir embora; pois tu sabes com que zelo te servi.» 27Labão disse-lhe: «Possa eu merecer a tua benevolência! Reconheço que o Senhor me abençoou por tua causa. 28Fixa-me o teu salário, para que to dê.» 29Jacob respondeu: «Tu sabes como te servi e o que ganhaste comigo. 30Porque o que tinhas, antes da minha chegada, era pouco, e tudo aumentou muitíssimo: o Senhor abençoou-te por minha causa. Agora, quando trabalharei também para a minha família?» 31Disse-lhe Labão. «Que te hei-de dar?» Jacob respondeu: «Não me darás nada, mas, se acatares a minha proposta, tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho. 32Passarei hoje, através de todo o teu rebanho e separarei todo o animal malhado e com manchas; entre os cordeiros, todos os animais negros e, entre as cabras, as malhadas e com manchas; será essa a minha recompensa. 33A minha rectidão responderá por mim, no dia de amanhã, quando vieres verificar o meu salário. Tudo o que estiver comigo e não for malhado e com manchas, entre as cabras, e negro, entre os cordeiros, será animal roubado.» 34Labão respondeu: «Está bem, seja como dizes!» 35E, no mesmo dia, Labão pôs de parte os bodes listrados e com manchas, todos os cabritos malhados e com manchas, todos os cordeiros negros, e confiou-os aos seus filhos. 36Depois, pô-los à distância de três dias de jornada; e Jacob apascentava o resto do rebanho de Labão. 37Jacob tomou, então, varas verdes de choupo, de amendoeira e de plátano; tirou-lhes parte da casca, pondo a nu o branco das varas, 38e colocou-as diante dos olhos das ovelhas, nos regueiros e nos bebedouros, aonde iam beber. Ora as ovelhas entravam em excitação quando iam beber 39e, ao entrarem em excitação diante das varas, concebiam cordeiros listrados, malhados e com manchas. 40Jacob separava a um lado esses cordeiros; e o gado de Labão ia ficando malhado e negro. E assim juntou rebanhos para si, que não reuniu ao gado de Labão. 41Quando as ovelhas eram vigorosas e ficavam excitadas, Jacob punha-lhes as varas diante dos olhos, nos regueiros, para que concebessem perto das varas. 42Mas, quando as ovelhas eram fracas, não o fazia, de modo que os cordeiros enfezados eram para Labão e os vigorosos para Jacob! 43Este homem enriqueceu prodigiosamente e adquiriu numerosos rebanhos, escravos e escravas, camelos e jumentos.

31 Fuga de Jacob - 1E Jacob ouviu as palavras dos filhos de Labão, que diziam: «Jacob apoderou-se de tudo o que era do nosso pai, e foi com os bens do nosso pai que acumulou toda esta riqueza.» 2Jacob observou também, pela fisionomia de Labão, que este não tinha para com ele os mesmos sentimentos de antes. 3E o Senhor disse a Jacob: «Volta para o país dos teus pais, para a tua terra natal; Eu estarei contigo.» 4Então, Jacob mandou vir Raquel e Lia ao campo, junto do seu rebanho, 5e disse-lhes: «Vejo, pelo semblante de vosso pai, que ele não é para mim o mesmo que era dantes; mas o Deus de meu pai está comigo. 6Sabeis que servi o vosso pai com todas as minhas forças, 7ao passo que ele zombou de mim, mudando dez vezes o meu salário; mas Deus não permitiu que ele me prejudicasse. 8Se ele dizia: ‘Os animais malhados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais malhados. E se ele dizia: ‘Os animais listrados serão o teu salário’, todo o gado produzia animais listrados. 9Deus tomou o rebanho de vosso pai e deu-mo. 10No tempo em que os rebanhos andam excitados, ergui os olhos e vi em sonhos que os machos, que fecundavam o gado, eram listrados, malhados e com manchas. 11E um enviado do Senhor disse-me em sonho: ‘Jacob!’ ao que respondi: ‘Eis-me aqui.’ 12Ele continuou: ‘Levanta os olhos e vê; todos os animais que fecundam o gado são listrados, malhados e com manchas, porque Eu vi o que Labão te fez. 13Eu sou o Deus de Betel, onde ergueste e consagraste um monumento, onde pronunciaste um voto em minha honra. Agora levanta-te, sai deste país e regressa à terra em que nasceste.’» 14Raquel e Lia responderam, dizendo: «Existe para nós uma herança na casa do nosso pai? 15Não somos consideradas como estranhas para ele? Depois de nos ter vendido, devorou todos os nossos bens. 16Além disso, a fortuna que Deus retirou a nosso pai é nossa e dos nossos filhos. Faz, então, tudo o que Deus te disse.» 17Jacob preparou-se e mandou que as suas mulheres e os seus filhos montassem sobre os camelos; 18levou todo o seu gado e todos os bens que juntara, tudo o que lhe pertencia e que adquirira no território de Padan-Aram, e partiu para junto de seu pai Isaac, para o país de Canaã. 19E como Labão fora fazer a tosquia das suas ovelhas, Raquel roubou os deuses familiares de seu pai. 20Jacob enganou assim Labão, o arameu, e fugiu sem lhe dizer nada. 21Fugiu com tudo o que lhe pertencia; atravessou o rio e, depois, dirigiu-se para a montanha de Guilead. 22Três dias depois, disseram a Labão que Jacob tinha fugido; 23ele tomou consigo os seus parentes e perseguiu-o durante sete dias de marcha, alcançando-o na montanha de Guilead. 24Mas Deus visitou Labão, o arameu, num sonho nocturno, e disse-lhe: «Guarda-te de pedir explicações a Jacob, seja sobre o que for, a bem ou a mal.» 25Labão aproximou-se de Jacob, que tinha levantado a sua tenda sobre a montanha, enquanto Labão dispôs os seus irmãos sobre a mesma montanha de Guilead.

Duelo de palavras - 26Labão disse a Jacob: «Que fizeste? Enganaste-me e levaste-me as minhas filhas como prisioneiras de guerra! 27Porque fugiste furtivamente, enganando-me, em lugar de me avisar? Ter-te-ia despedido com alegria e cânticos, ao som de tambores e da cítara! 28Nem me deixaste abraçar os meus filhos e as minhas filhas! Na verdade, agiste como um insensato. 29A minha mão é suficientemente forte para fazer-vos mal; mas o Deus do vosso pai falou-me esta noite, dizendo: ‘Guarda-te de pedir explicações a Jacob, seja a bem ou a mal.’ 30Vais-te porque tinhas saudades da casa de teu pai. Mas porque roubaste os meus deuses?» 31Jacob respondeu a Labão: «Tive medo de te avisar, pois pensei que me tirarias as tuas filhas. 32Quanto àquele que estiver na posse dos teus deuses, esse não viverá! Examina, tu mesmo, tudo o que está comigo e recupera aquilo que te pertence.» Jacob não sabia que era Raquel que tinha roubado os deuses familiares. 33Labão entrou na tenda de Jacob, na de Lia, na das duas escravas, e não os encontrou. Saindo da tenda de Lia, entrou na de Raquel. 34Mas esta pegara nos deuses familiares, escondera-os na sela do camelo e sentara-se em cima. Labão procurou em toda a tenda e não os encontrou. 35E Raquel disse ao pai: «Que o meu senhor não se ofenda, se não posso levantar-me diante de ti, por causa do incómodo habitual das mulheres.» Ele continuou a procurar, mas não encontrou os deuses familiares. 36E Jacob ficou encolerizado e censurou Labão. Dirigindo-se a ele, disse: «Qual é o meu crime, qual é a minha falta, para que assim te irrites contra mim? 37Depois de revistar todas as minhas bagagens, encontraste alguma coisa que pertença à tua casa? Apresenta-o aqui, diante dos meus irmãos e dos teus, e que eles sejam juízes entre nós dois. 38Passei vinte anos contigo; nem as tuas ovelhas nem as tuas cabras abortaram e não comi os carneiros do teu rebanho. 39Não te entreguei nenhum animal despedaçado pelas feras: fui eu próprio que sofri esse prejuízo, pois tu fizeste-me pagar o que foi roubado de dia e o que foi roubado de noite. 40Durante o dia, eu era consumido pelo calor, durante a noite, pelo frio, e o sono fugia dos meus olhos. 41Passei assim vinte anos na tua casa! Servi-te catorze anos pelas tuas duas filhas, e seis anos pelo teu rebanho; mas tu trocaste dez vezes o meu salário. 42Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o que Isaac venera, não me ajudasse, com certeza ter-me-ias deixado partir de mãos vazias. Mas Deus viu a minha humilhação e o trabalho das minhas mãos e pronunciou a sentença ontem à noite.» 43Labão respondeu a Jacob: «Estas filhas são minhas filhas, estes filhos são meus filhos, este gado é o meu gado; tudo o que vês me pertence. Que farei eu agora pelas filhas e pelos filhos que elas tiveram? 44Façamos, então, uma aliança, que será um testemunho entre nós.» 45Jacob tomou uma pedra e levantou um monumento. 46E disse aos irmãos: «Juntai pedras.» Eles pegaram em pedras, puseram-nas em monte e comeram junto daquele monte de pedras. 47Labão chamou-lhe Jegar-Saduta, e Jacob chamou-lhe Galed. 48E Labão disse: «Este monte de pedras, a partir de hoje, é um testemunho entre nós os dois.» Por isso, lhe chamou Galed. 49E também Mispá, porque disse: «O Senhor estará vigilante entre nós dois, quando nos separarmos um do outro. 50Se maltratares as minhas filhas e tomares outras esposas além delas, embora ninguém esteja connosco, recorda-te de que Deus é testemunha entre mim e ti.» 51Labão disse ainda a Jacob: «Vês este monte de pedras e este monumento que pus entre nós os dois? 52Sirva este monte de pedras e este monumento, de testemunha de que nem eu os transporei para aí nem tu os transporás para aqui, para fazer algum mal. 53Que o Deus de Abraão, o Deus de Naor, o Deus de cada um deles seja juiz entre nós!»E Jacob jurou pelo Deus que venerava seu pai Isaac. 54Jacob sacrificou animais sobre a montanha e convidou os seus irmãos para o banquete. Tomaram parte nele e passaram a noite sobre a montanha.

32 Jacob regressa à sua terra - 1No dia seguinte, Labão levantou-se cedo, abraçou os filhos e as filhas e abençoou-os; depois, pôs-se a caminho e voltou para sua casa. 2Jacob prosseguiu o seu caminho e encontrou uns mensageiros de Deus. 3Ao vê-los, disse: «É o exército de Deus!» E deu àquele lugar o nome de Maanaim. 4Jacob mandou mensageiros adiante de si a seu irmão Esaú, ao país de Seir, na região de Edom, 5dando-lhes esta ordem: «Assim falareis ao meu senhor Esaú: Assim fala o teu servo Jacob: ‘Residi em casa de Labão e ali permaneci até ao presente. 6Adquiri bois e jumentos, gado miúdo, escravos e escravas; e agora envio uma mensagem ao meu senhor Esaú, para obter a sua benevolência.’» 7Os mensageiros voltaram para junto de Jacob, dizendo: «Fomos ter com teu irmão Esaú; ele vem ao teu encontro com quatrocentos homens.» 8Jacob ficou cheio de temor e de inquietação. Distribuiu os que estavam com ele em dois grupos, assim como o gado graúdo e miúdo e os camelos, 9dizendo: «Se Esaú atacar um dos nossos grupos e o destroçar, o outro poderá salvar-se.» 10Depois, Jacob disse:«Ó Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaac, ó Senhor que me disseste: ‘Regressa ao teu país e à tua terra natal e Eu hei-de proteger-te’; 11eu sou indigno de todos os teus favores e de toda a fidelidade que testemunhaste ao teu servo; passei este Jordão só com o meu bordão e agora possuo duas caravanas. 12Salva-me, por favor, da mão do meu irmão Esaú, pois temo que ele me ataque, ferindo-me juntamente com a mãe e os filhos. 13Mas Tu disseste: ‘Encher-te-ei de benefícios e farei que a tua posteridade seja como a areia do mar, cujo número é incalculável.’» 14Jacob passou ali a noite e escolheu, entre os seus bens, um presente para seu irmão Esaú: 15duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros, 16trinta camelas que amamentavam, com as suas crias; quarenta vacas e dez touros; vinte jumentas e dez jumentos. 17Entregou-os aos seus servos, cada rebanho à parte, dizendo-lhes: «Passai à frente e deixai um intervalo entre cada rebanho.» 18E deu ao primeiro esta ordem: «Quando meu irmão Esaú te encontrar e te perguntar: ‘Quem és tu? Aonde vais? E porque é que este gado vai adiante de ti?’ 19Responderás: É um presente que manda o teu servo Jacob ao meu senhor Esaú. Ele vem já aí atrás de nós.» 20Deu a mesma ordem ao segundo, ao terceiro e a todos os que conduziam os rebanhos, dizendo: «É assim que falareis a Esaú, quando o encontrardes. 21Dir-lhe-eis: ‘Também o teu servo Jacob vem atrás de nós.’»Com efeito, Jacob dizia: «Quero aplacar o seu rosto com este presente que me precede e, depois, comparecerei diante dele; talvez me faça bom acolhimento.» 22Estes presentes avançaram, então, adiante dele; e Jacob passou essa noite no acampamento. 23Levantou-se naquela mesma noite, tomou as suas duas mulheres, as duas escravas e os seus onze filhos, e passou o vau de Jaboc. 24Ajudou-os a atravessar a torrente, e passou tudo o que lhe pertencia.

A luta com Deus - 25Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. 26Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. 27E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.»Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» 28Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» 29E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» 30Jacob interrogou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» - respondeu ele. E então abençoou-o. 31Jacob chamou àquele lugar Penuel; «porque vi um ser divino, face a face, e conservei a vida» - disse ele. 32O sol principiara a levantar-se, quando Jacob deixou Penuel, coxeando por causa da sua coxa. 33É por isso que os filhos de Israel não comem, ainda hoje, o nervo ciático que está na cavidade da coxa - porque Jacob foi ferido no nervo ciático da coxa, que ficou paralisado.

33 Encontro com Esaú - 1Jacob, levantando os olhos, viu Esaú que avançava acompanhado por quatrocentos homens. Repartiu os filhos entre Lia e Raquel e entre as duas servas. 2Colocou à frente as servas com os seus filhos, depois Lia com seus filhos, e Raquel, com José, em último lugar. 3Passou adiante deles e prostrou-se por sete vezes, antes de se aproximar de seu irmão. 4Esaú correu ao seu encontro, abraçou-o, atirou-se-lhe ao pescoço e beijou-o; e ambos choraram. 5Levantando os olhos, Esaú viu as mulheres e as crianças e perguntou: «Que te são estes?» Jacob respondeu: «São os filhos que Deus concedeu ao teu servo.» 6As servas aproximaram-se também com os seus filhos e prostraram-se; 7Lia também se aproximou com os seus filhos e prostraram-se; depois, aproximou-se José com Raquel e prostraram-se. 8Esaú prosseguiu: «Que significa todo esse grupo, enviado por ti e que encontrei?» Jacob respondeu: «É para alcançar benevolência da parte do meu senhor.» 9E Esaú disse-lhe: «Possuo mais do que o suficiente, meu irmão; guarda o que é teu.» 10Jacob respondeu: «Oh! Não! Se alcancei a tua benevolência, aceitarás de minha mão este presente, pois olhei a tua face, como se olha para a face de Deus, e tu recebeste-me bem. 11Aceita, pois, o meu presente que te ofereceram por mim, porque Deus foi generoso comigo e possuo o suficiente.» E tanto insistiu que Esaú aceitou.
Separação - 12Então, Esaú disse: «Partamos, prossigamos juntos e seguirei os teus passos.» 13Jacob respondeu-lhe: «O meu senhor sabe que as crianças são delicadas e que o gado miúdo e graúdo, que ainda mama, exige os meus cuidados; se os apressarem, ainda que só por um dia, todo o gado novo perecerá. 14Que o meu senhor queira passar adiante do seu servo; eu caminharei devagar, ao passo da caravana que me precede e ao passo dos meninos, até juntar-me ao meu senhor, em Seir.» 15Esaú disse-lhe: «Vou, então, mandar-te escoltar por alguns dos meus homens.» Jacob respondeu: «Para quê? Eu queria apenas encontrar benevolência diante do meu senhor!» 16E nesse mesmo dia Esaú retomou o caminho de Seir. 17Mas Jacob dirigiu-se para Sucot; edificou ali uma casa e construiu cabanas para o gado. Foi por isso que chamaram àquele lugar Sucot. 18Quando Jacob regressou são e salvo de Padan-Aram, chegou à cidade de Siquém no país de Canaã; e fixou-se em frente dessa cidade. 19Adquiriu aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem moedas, uma parcela de terreno, onde acampou, 20e construiu ali um altar, que dedicou «a El, Deus de Israel.»

34 Dina é ultrajada - 1Dina, a filha que Lia dera a Jacob, saiu para travar conhecimento com as raparigas do país. 2Tendo-a visto Siquém, filho de Hamor, o heveu, governador do país, raptou-a e apoderou-se dela, violando-a. 3O seu coração prendeu-se, então, a Dina, filha de Jacob; amou a donzela e falou-lhe ao coração. 4E Siquém disse a Hamor, seu pai: «Dá-me esta jovem por mulher.» 5Jacob soube que Dina, sua filha, fora violada. Seus filhos estavam com o gado no campo e, por isso, Jacob calou-se até ao seu regresso.

Pacto matrimonial - 6E Hamor, pai de Siquém, foi ter com Jacob, para lhe falar. 7Mas os filhos de Jacob tinham voltado do campo e estavam consternados com o que sucedera. A sua indignação era muito grande, porque uma infâmia caíra sobre Israel: Siquém dormira com a filha de Jacob, o que não se devia fazer. 8Hamor falou-lhe nestes termos: «O coração de meu filho Siquém está preso à vossa filha; concedei-lha como esposa, peço-vos. 9Aparentai-vos connosco: dai-nos as vossas filhas e casai com as nossas. 10Habitai connosco e o país ficará à vossa disposição; ficai aqui, explorai o país, estabelecei-vos nele.» 11Siquém disse ao pai e aos irmãos da jovem: «Possa eu encontrar a vossa benevolência. O que me pedirdes, eu vo-lo darei. 12Darei o que pedirdes, por mais elevados que sejam o dote e os presentes; mas dai-me somente a jovem por mulher.» 13Os filhos de Jacob responderam astuciosamente a Siquém e a Hamor, seu pai, porque tinham ultrajado Dina, sua irmã. 14Disseram-lhe: «Não poderemos agir assim, dando a nossa irmã a um homem incircunciso; seria uma desonra para nós. 15Só estaremos de acordo convosco, se procederdes como nós, circuncidando todos os varões que estão entre vós. 16Então, dar-vos-emos as nossas filhas e aceitaremos as vossas; habitaremos convosco e formaremos um só povo. 17Mas, se não nos ouvirdes acerca da circuncisão, tomaremos a nossa filha e separar-nos-emos.» 18As suas palavras agradaram a Hamor e a Siquém, seu filho. 19O jovem não hesitou em fazer o que se lhe pedia, pois estava enamorado da filha de Jacob; além disso, era muito considerado entre todos os parentes de seu pai. 20Hamor foi com Siquém, seu filho, para a porta da sua cidade e falaram aos habitantes da cidade, nestes termos: 21«Estes homens procedem de boa fé para connosco; habitem eles no país e que o explorem, pois o país é suficientemente vasto para os receber. Tomaremos as suas filhas para esposas e dar-lhes-emos as nossas. 22Mas estes homens só com uma condição consentem habitar connosco, a fim de formarmos um só povo: todo o varão que vive entre nós deve ser circuncidado como eles o são. 23Não é verdade que todos os seus rebanhos, os seus bens e todo o seu gado será para nós? Concordemos com os seus desejos, e eles ficarão connosco.» 24Todos os que habitavam no recinto da cidade ouviram Hamor e Siquém, seu filho; e todo o varão foi circuncidado, entre os cidadãos da cidade.

Vingança traiçoeira - 25No terceiro dia, sofrendo eles dores violentas, dois dos filhos de Jacob, Simeão e Levi, irmãos de Dina, tomaram cada um a sua espada, marcharam resolutamente sobre a cidade e mataram todos os varões. 26Passaram a fio da espada Hamor e Siquém, seu filho, levaram Dina da casa de Siquém e retiraram-se. 27Os filhos de Jacob despojaram os cadáveres e saquearam a cidade, porque haviam ultrajado sua irmã. 28Apossaram-se do seu gado miúdo e graúdo, dos seus jumentos e do que estava na cidade e nos campos. 29Levaram todos os seus bens, os seus filhos e as suas mulheres e tudo o que estava nas casas. 30Então Jacob disse a Simeão e a Levi: «Tornastes-me desditoso, deixando-me mal visto entre os habitantes do país, os cananeus e os perizeus; reunir-se-ão contra mim e, como só tenho um punhado de homens, fustigar-me-ão e serei exterminado com a minha família.» 31Eles responderam: «Devíamos deixar tratar a nossa irmã como uma prostituta?»

35 Regresso a Betel (28,10-22) - 1O Senhor disse a Jacob: «Vai, sobe a Betel e permanece lá; constrói ali um altar ao Deus que te apareceu, quando fugias diante de Esaú, teu irmão.» 2Jacob disse à família e a todos os que estavam com ele: «Fazei desaparecer os deuses estrangeiros que estão no meio de vós; purificai-vos e mudai de vestes. 3Preparemo-nos para subir a Betel; construirei ali um altar ao Deus que me atendeu no dia da minha angústia e que esteve comigo nos caminhos por onde andei.» 4Entregaram então a Jacob todos os deuses estrangeiros que possuíam e as jóias que traziam nas orelhas. Jacob enterrou-as debaixo do terebinto que estava junto de Siquém. 5E partiram dominados por terror divino; as cidades em redor não perseguiram os filhos de Jacob. 6Jacob chegou, com todos os que o acompanhavam, a Luz, ou seja, Betel, que está no país de Canaã. 7Construiu ali um altar e chamou a esse lugar El-Betel, porque fora ali que o Senhor Deus lhe aparecera, quando fugia por causa de seu irmão. 8Entretanto, morreu Débora, ama de Rebeca, e foi enterrada abaixo de Betel, junto de um carvalho, que foi chamado Carvalho dos Prantos.

Deus aparece a Jacob - 9Deus apareceu novamente a Jacob, depois do seu regresso de Padan-Aram, e abençoou-o. 10Deus disse-lhe: «Chamas-te Jacob; mas de futuro já não te chamarás Jacob e o teu nome será Israel.» Deu-lhe, assim, o nome de Israel. 11E Deus disse-lhe:«Eu sou o Deus supremo; vais crescer e multiplicar-te; de ti sairá um povo, uma multidão de povos sairá de ti, e das tuas entranhas sairão reis. 12Concedo-te o país que dei a Abraão e a Isaac e dá-lo-ei à tua posteridade depois de ti.» 13Deus desapareceu de junto dele e do lugar em que lhe falara. 14Jacob levantou um monumento naquele lugar sobre o qual fez uma libação e derramou óleo. 15E Jacob chamou Betel àquele lugar, no qual Deus conversara com ele.
Família de Jacob (1 Cr 2,1-8) - 16Partiram de Betel, e faltava ainda um pouco de tempo para chegarem a Efrata, quando Raquel deu à luz e o seu parto foi difícil. 17Durante as dores do parto, a parteira disse-lhe: «Ânimo, porque voltas a ter um filho.» 18Ora no momento do último suspiro - pois estava a morrer - deu-lhe o nome de Ben-Oni; mas seu pai chamou-o Benjamim. 19Então Raquel morreu e foi enterrada no caminho de Efrata, que é Belém. 20Jacob levantou um monumento sobre o seu túmulo: é o monumento do túmulo de Raquel, que ainda hoje existe. 21Israel partiu e levantou a sua tenda além de Migdal-Éder. 22Enquanto Israel residiu nesta região, Rúben teve relações com Bila, concubina de seu pai, e Israel soube-o.Foram doze os filhos de Jacob: 23Filhos de Lia: o primogénito de Jacob, Rúben, depois Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zabulão. 24Filhos de Raquel: José e Benjamim. 25Filhos de Bila, escrava de Raquel: Dan e Neftali. 26E filhos de Zilpa, escrava de Lia; Gad e Aser.Estes são os filhos de Jacob, que nasceram no território de Padan-Aram. 27Jacob chegou junto de Isaac, seu pai, em Mambré, em Quiriat-Arbá, que é Hebron, onde viveram Abraão e Isaac. 28Os dias de Isaac foram de cento e oitenta anos. 29Expirando, morreu e reuniu-se aos seus pais, já velho e satisfeito com os seus dias. Esaú e Jacob, seus filhos, sepultaram-no.
36 Listas de Edom (1 Cr 1,35-54) - 1Esta é a descendência de Esaú, isto é, Edom. 2Esaú escolheu as suas mulheres entre as filhas de Canaã: Ada, filha de Elon, o hitita, e Oolibama, filha de Aná, filha de Cibeon, o heveu; 3depois, Basemat, filha de Ismael e irmã de Nebaiot. 4Ada deu a Esaú, Elifaz; Basemat deu à luz Reuel; 5e Oolibama deu à luz a Jeús, Jalam e Corá. São estes os filhos de Esaú, que nasceram no país de Canaã. 6Esaú tomou as suas mulheres, os seus filhos, as suas filhas e todas as pessoas da sua casa, os seus rebanhos, todos os seus animais e todos os bens que adquirira no país de Canaã, e emigrou para outra terra, por causa do seu irmão Jacob. 7Efectivamente, os seus bens eram demasiado numerosos para poderem habitar em comum, e o lugar em que viviam era insuficiente para os rebanhos de ambos. 8Esaú, isto é, Edom, estabeleceu-se, então, sobre a montanha de Seir.

Descendência de Esaú em Edom - 9Esta é a descendência de Esaú, antepassado dos edomitas, sobre a montanha de Seir. 10Eis os nomes dos filhos de Esaú: Elifaz, filho de Ada, mulher de Esaú; Reuel, filho de Basemat, mulher de Esaú. 11Os filhos de Elifaz foram: Teman, Omar, Sefó, Gatam e Quenaz. 12Timna tornou-se concubina de Elifaz, filho de Esaú, e deu-lhe Amalec. São estes os filhos de Ada, mulher de Esaú. 13Eis os filhos de Reuel: Naat, Zera, Chamá e Miza. Estes eram os filhos de Basemat, outra mulher de Esaú. 14Estes foram os filhos de Oolibama, filha de Aná, filha de Cibeon, mulher de Esaú: Jeús, Jalam e Corá.

Chefes de Edom - 15Seguem-se os chefes de família dos filhos de Esaú. Filhos de Elifaz, primogénito de Esaú: o chefe Teman, o chefe Omar, o chefe Sefó, o chefe Quenaz, 16o chefe Corá, o chefe Gatam e o chefe Amalec. São estes os chefes saídos de Elifaz, no país de Edom; estes eram filhos de Ada. 17E estes são os filhos de Reuel, filho de Esaú: o chefe Naat, o chefe Zera, o chefe Chamá e o chefe Miza. São estes os chefes saídos de Reuel, no país de Edom; estes eram os descendentes de Basemat, mulher de Esaú. 18Estes são os filhos de Oolibama, mulher de Esaú: o chefe Jeús, o chefe Jalam e o chefe Corá. São estes os chefes nascidos de Oolibama, filha de Aná e mulher de Esaú. 19São estes os filhos de Esaú e são estes os seus chefes; isto é, de Edom.
Descendência de Seir - 20Estes são os filhos de Seir, os horritas, primeiros habitantes do país: Lotan, Chobal, Cibeon, Aná, 21Dichon, Écer e Dichan. São estes os chefes dos horritas, filhos de Seir, no país de Edom. 22Os filhos de Lotan foram Hori e Hemam; e a irmã de Lotan, Timna. 23Eis os filhos de Chobal: Alvan, Manaat, Ebal, Sefó e Onam. 24Eis os filhos de Cibeon: Aiá e Aná. Foi este Aná que encontrou no deserto as fontes de água quente, quando apascentava os jumentos de Cibeon, seu pai. 25Aná teve um filho, Dichon, e uma filha, Oolibama. 26Eis os filhos de Dichon: Hemedan, Echeban, Jitran e Caran. 27Eis os filhos de Écer: Bilean, Zaavan e Jacan. 28Eis os filhos de Dichan: Uce e Aran. 29Seguem-se os chefes de família dos horritas: o chefe Lotan, o chefe Chobal, o chefe Cibeon, o chefe Aná, 30o chefe Dichon, o chefe Écer e o chefe Dichan.São estes os chefes dos horritas, segundo as suas famílias, no país de Seir. 31São estes os reis que reinaram no país de Edom, antes que um rei reinasse sobre os filhos de Israel: 32em Edom reinou primeiro Bela, filho de Beor; e o nome da sua cidade natal era Dinaba; 33Bela morreu, e reinou em seu lugar Jobab, filho de Zera de Bosra; 34Jobab morreu, e reinou em seu lugar Hucham, da região de Teman. 35Hucham morreu, e reinou em seu lugar Hadad, filho de Bedad, que derrotou Madian, nos campos de Moab. O nome da sua cidade era Avit. 36Hadad morreu, e reinou em seu lugar Sámela, de Massereca. 37Sámela morreu, e reinou em seu lugar Saul, de Reobot, nas margens do Eufrates. 38Saul morreu, e reinou em seu lugar Baal-Hanan, filho de Acbor. 39Baal-Hanan, filho de Acbor, morreu, e reinou em seu lugar Hadar, cuja cidade era Paú; a sua mulher era Meetabiel, filha de Matred, filha de Mê-Zaab.

Outros chefes de Edom - 40Eis agora os nomes dos chefes oriundos de Esaú, segundo as suas famílias, lugares e denominações: o chefe Timna, o chefe Alva, o chefe Jetet, 41o chefe Oolibama, o chefe Elá, o chefe Pinon, 42o chefe Quenaz, o chefe Teman, o chefe Mibçar, 43o chefe Magdiel e o chefe Iram.São estes os chefes de Edom, conforme as suas residências e as terras que ocuparam. Esaú foi o antepassado dos habitantes de Edom.

D - Ciclo de José (37,1-50,26)

37 José eliminado da família - 1Jacob habitou no país em que seu pai peregrinou, no país de Canaã. 2Esta é a descendência de Jacob. José, que era um jovem com dezassete anos, apascentava as ovelhas com os seus irmãos, os filhos de Bila e de Zilpa, mulheres de seu pai; e José contava ao pai o mal que se dizia de seus irmãos. 3Ora Israel preferia José aos seus outros filhos, porque era o filho da sua velhice, e mandara-lhe fazer uma túnica comprida. 4Os irmãos, vendo que o pai o amava mais do que a todos eles, ganharam-lhe ódio e não podiam falar-lhe amigavelmente. 5José teve um sonho que contou aos irmãos; e estes ficaram a odiá-lo ainda mais. 6José disse-lhes: «Peço-vos que ouçais o sonho que tive: 7fazíamos feixes no campo e, de repente, o meu feixe ergueu-se e ficou de pé, enquanto os vossos se puseram à volta e se prostraram diante dele.» 8Os irmãos disseram-lhe: «O quê? Reinarás tu sobre nós, tornar-te-ás senhor nosso?» E odiaram-no ainda mais, por causa dos seus sonhos e por causa das suas palavras. 9José teve ainda outro sonho, que contou aos irmãos, dizendo: «Tive ainda um sonho, no qual vi o Sol, a Lua e onze estrelas prostrarem-se diante de mim.» 10Contou-o ao pai e aos irmãos, e o pai repreendeu-o, dizendo: «Que significa um tal sonho? Será possível que eu, a tua mãe e os teus irmãos tenhamos de prostrar-nos por terra, a teus pés?» 11Os irmãos de José invejaram-no, mas o pai aguardou os acontecimentos.

José vendido - 12Um dia, os irmãos de José conduziram os rebanhos de seu pai para Siquém. 13E Israel disse a José: «Os teus irmãos apascentam os rebanhos em Siquém. Prepara-te, pois quero enviar-te para junto deles.» José respondeu: «Estou pronto.» 14E Israel continuou: «Peço-te que vás ver como vão os teus irmãos e como está o gado, e vem dizer-me.» Enviou-o, assim, do vale de Hebron e José partiu para Siquém. 15Um homem encontrou-o perdido pelo campo e perguntou-lhe: «Que procuras?» 16José respondeu: «Procuro os meus irmãos. Indica-me, por favor, onde é que apascentam o seu gado.» 17O homem disse-lhe: «Partiram daqui, pois ouvi-lhes dizer: ‘Vamos para Dotain.’» José seguiu os passos dos irmãos e encontrou-os em Dotain. 18Eles viram-no de longe e, antes que se aproximasse, fizeram planos para o matar. 19Disseram uns aos outros: «Eis que se aproxima o homem dos sonhos. 20Vamos, matemo-lo, atiremo-lo a qualquer cisterna e depois diremos que um animal feroz o devorou. Veremos, então, como se realizarão os seus sonhos.» 21Rúben ouviu-os e quis salvá-lo das suas mãos. Então disse: «Não atentemos contra a sua vida.» 22Rúben disse ainda: «Não derrameis sangue! Atirai-o à cisterna que está no deserto, mas não levanteis a mão contra ele.»O seu intento era livrá-lo das suas mãos para o fazer regressar ao seu pai. 23Quando José chegou junto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica comprida que usava 24e, agarrando-o, lançaram-no à cisterna. Esta estava vazia e sem água. 25Depois, sentaram-se para comer. Erguendo, porém, os olhos, viram uma caravana de ismaelitas que vinha de Guilead. Os camelos estavam carregados de aroma, de bálsamo e láudano, que levavam para o Egipto. 26Judá disse aos irmãos: «Que vantagem tiramos da morte de nosso irmão, ocultando o seu sangue? 27Vinde, vendamo-lo aos ismaelitas e que a nossa mão não caia sobre ele, porque é nosso irmão e da nossa família.» E os irmãos consentiram. 28Passaram por ali alguns negociantes madianitas, que conseguiram tirar José da cisterna; e eles venderam-no aos ismaelitas por vinte moedas de prata. Estes levaram José para o Egipto. 29Rúben voltou à cisterna e, vendo que José já não estava ali, rasgou os vestidos 30e, voltando para junto dos irmãos, disse: «O menino já não está ali, e eu, para onde irei?» 31Mas eles tomaram a túnica de José, degolaram um cabrito e mergulharam a túnica no sangue; 32depois enviaram a Jacob a túnica comprida, mandando-lhe dizer: «Eis o que encontrámos; verifica se é ou não a túnica do teu filho.» 33Jacob reconheceu-a e exclamou: «A túnica de meu filho! Um animal feroz devorou-o! José foi despedaçado!» 34E Jacob rasgou as suas vestes, pôs um cilício sobre os rins e usou luto por seu filho, durante muito tempo. 35Todos os seus filhos e filhas procuraram consolá-lo, mas ele recusou toda a consolação, dizendo: «Não! Chorando, juntar-me-ei ao meu filho, na sepultura!» E seu pai continuou a chorá-lo. 36Quanto aos madianitas, venderam José, no Egipto, a Potifar, eunuco do faraó e chefe dos guardas.
38 Judá e Tamar (Mt 1,2-3) - 1Naquele tempo, Judá apartou-se dos seus irmãos e encaminhou-se para junto de um dos habitantes de Adulam, chamado Hirá. 2Judá viu ali a filha de um cananeu, de nome Chua: tomou-a por mulher e uniu-se com ela. 3Ela concebeu e deu à luz um filho, que ele chamou Er. 4Voltou a conceber e teve um filho que chamou Onan. 5Concebeu de novo e deu à luz um filho que chamou Chelá. Judá estava em Quesib, quando ela deu à luz Chelá. 6Judá escolheu para Er, seu primogénito, uma mulher chamada Tamar. 7Er, primogénito de Judá, desagradou ao Senhor e Ele feriu-o de morte. 8Então Judá disse a Onan: «Casa com a mulher do teu irmão, pois é essa a tua obrigação como cunhado, para dares descendência ao teu irmão.» 9Mas Onan compreendeu que essa descendência não seria a sua e, quando se aproximava da mulher de seu irmão, derramava no chão o sémen, a fim de não dar descendência a seu irmão. 10A sua conduta desagradou ao Senhor, que também lhe deu a morte. 11E Judá disse a Tamar, sua nora: «Conserva-te viúva na casa de teu pai, até que meu filho Chelá cresça.» Judá, porém, temia que ele também morresse como os irmãos. E Tamar foi morar para casa de seu pai. 12Muito tempo depois, morreu a filha de Chua, mulher de Judá. Passado o luto, foi Judá a Timna com o seu amigo Hirá, de Adulam, a fim de vigiar a tosquia das ovelhas. 13Informaram disso Tamar, nestes termos: «Teu sogro sobe neste momento para Timna, para a tosquia das ovelhas.» 14Então ela tirou as vestes de viúva, cobriu-se com um véu e sentou-se à entrada de Enaim, no caminho de Timna, porque via que Chelá já havia crescido e ela não lhe fora dada por mulher. 15Ao vê-la, Judá tomou-a por uma prostituta, porque tinha a cara coberta com um véu. 16Aproximou-se dela e disse-lhe: «Deixa-me ir contigo.» Pois ignorava que ela fosse a sua nora. Ela respondeu: «O que me darás para vires comigo?» 17Judá respondeu: «Mandar-te-ei um cabrito do meu rebanho.» Tamar replicou: «Está bem, se me deres um penhor, enquanto espero que o envies.» 18Judá perguntou-lhe: «Que penhor te hei-de dar?» Ao que ela respondeu: «O teu selo, o teu cordão e o bastão que tens na mão.» Judá deu-lhos, uniu-se a ela, e Tamar concebeu um filho. 19Depois, levantando-se, partiu e tirou o véu da cabeça, voltando a vestir as roupas de viúva. 20Judá enviou o cabrito por intermédio do seu amigo Hirá de Adulam, a fim de retirar o penhor das mãos daquela mulher; mas ele não a encontrou. 21Interrogou os habitantes daquela terra, dizendo: «Onde está a prostituta, que aparece em Enaim, à beira do caminho?» Responderam-lhe: «Nunca houve aqui nenhuma prostituta.» 22voltou então para junto de Judá e disse-lhe: «Não a encontrei e, além disso, os habitantes daquela terra disseram que ali nunca houve prostituta alguma.» 23Judá disse: «Que ela fique com o que tem, para que não tenhamos de nos envergonhar: eu que lhe enviei o cabrito, e tu que não a pudeste encontrar.» 24Cerca de três meses depois, disseram a Judá: «Tamar, a tua nora, prevaricou e até ficou grávida com a sua prostituição. Judá respondeu: «Levai-a, e que seja queimada.» 25Quando a levavam, ela mandou dizer ao sogro: «Na verdade, estou grávida do homem a quem estas coisas pertencem.» E continuou: «Verifica, peço-te, a quem pertence este selo, este cordão e este bastão.» 26Judá reconheceu-os e disse: «Ela é mais justa do que eu, pois é verdade que não lhe dei o meu filho Chelá.» Contudo, a partir de então, não voltou a conhecê-la. 27E quando chegou a ocasião de dar à luz, Tamar trazia dois gémeos no seio. 28Durante o parto, um deles estendeu a mão e a parteira pegou nela, atando-lhe um fio escarlate, para indicar que era o primogénito. 29Mas ele retirou a mão e nasceu seu irmão. Então a parteira disse: «Que passagem abriste para ti!» E chamaram-lhe Peres. 30Em seguida, nasceu o irmão; numa das mãos trazia o fio escarlate, e chamaram-lhe Zera.

39 José no Egipto - 1José foi levado para o Egipto e Potifar, um egípcio, eunuco do faraó e chefe dos guardas, comprou-o aos ismaelitas que para lá o tinham conduzido. 2O Senhor estava com José, que veio a ser um homem afortunado, sendo admitido na casa do seu senhor egípcio. 3O seu senhor viu que o Senhor estava com ele e que fazia prosperar todas as obras das suas mãos. 4José obteve a sua benevolência, tornando-se seu servidor; Potifar pô-lo à frente da sua casa e confiou-lhe tudo o que possuía. 5A partir do momento em que o pôs à frente da sua casa e de todos os seus negócios, o Senhor abençoou a casa do egípcio, por causa de José; e a bênção divina estendeu-se sobre todos os seus bens, tanto em casa como nos campos. 6Então, abandonou tudo o que possuía nas mãos de José e não se ocupou com mais nada, a não ser com o pão que comia.
José seduzido e preso - 6Ora José era esbelto de corpo e belo de rosto. 7E aconteceu que, depois de tudo isto, a mulher do seu senhor lançou os olhos sobre José e disse-lhe: «Dorme comigo.» 8José recusou, dizendo à mulher do seu senhor: «Sabe que o meu senhor não me pede contas de nada da sua casa e que entregou nas minhas mãos todos os seus negócios; 9não há ninguém maior do que eu nesta casa, e ele não me proibiu coisa alguma, excepto tu, porque és sua esposa; como poderei cometer uma tão grande falta e assim ofender a Deus?» 10Apesar de ela repetir o convite todos os dias a José, este não acedeu aos seus desejos e não se aproximou dela. 11Mas um dia, numa dessas ocasiões, ao entrar em casa para fazer o seu trabalho, não se encontrando ali ninguém, 12ela segurou-o pelo manto, dizendo: «Vem, comigo.» José abandonou o manto na mão dela, e fugiu para fora. 13Quando ela viu que lhe deixara o manto na mão e que fugira, 14gritou pela gente da casa e disse-lhes: «Vede! Trouxeram-nos um hebreu para se rir de nós! Aproximou-se de mim para se deitar comigo e tive de gritar bem alto. 15Quando me ouviu levantar a voz pedindo ajuda, deixou o manto junto de mim e fugiu para fora.» 16Depois guardou o manto de José junto dela, até que o seu amo regressasse a casa. 17E repetiu-lhe a mesma história, dizendo: «O escravo hebreu que nos trouxeste aproximou-se para abusar de mim. 18Depois, como gritei, deixou o manto junto de mim e fugiu para fora.» 19Quando o amo de José ouviu a exposição feita por sua mulher, a qual dizia: «Aqui está o que me fez o teu escravo», enfureceu-se. 20O senhor de José mandou-o agarrar e fecharam-no na prisão, onde estavam detidos os prisioneiros do rei. E José ficou na prisão. 21O Senhor estava com José, tornou-o estimado e fê-lo obter as boas graças do governador da prisão. 22O governador confiou-lhe todos os prisioneiros, que estavam na prisão, e tudo o que ali se fazia era dirigido por ele. 23O governador não examinava coisa alguma do que lhe confiara, porque o Senhor estava com ele; e o Senhor fazia com que fosse bem sucedido em tudo o que empreendia.
40 Intérprete de sonhos na prisão - 1Depois destes acontecimentos, sucedeu que o copeiro-mor e o padeiro-mor do rei do Egipto ofenderam o seu senhor, o rei do Egipto. 2O faraó, irritado contra estes dois eunucos - o copeiro-mor e o padeiro-mor - 3mandou-os prender na casa do chefe dos guardas, no mesmo lugar onde José estava detido. 4O chefe dos guardas pôs José à sua disposição e este servia-os. O copeiro e o padeiro do faraó do Egipto já estavam presos havia algum tempo, 5quando ambos tiveram um sonho, na mesma noite, cada um o seu, e com sentidos diferentes. 6Ao aproximar-se deles, de manhã, José notou que estavam preocupados 7e perguntou aos eunucos do faraó que estavam presos juntamente com ele na casa do seu senhor: «Porque está hoje sombrio o vosso rosto?» 8Responderam-lhe: «Tivemos um sonho e não há ninguém para o interpretar.» José disse-lhes: «Não pertence a interpretação a Deus? Contai-me o sonho.» 9O copeiro-mor contou o seu sonho a José, dizendo: «No meu sonho, uma videira estava diante de mim. 10E nessa videira havia três ramos. Apenas ela floriu, as flores cresceram e os rebentos da videira deram uvas maduras. 11Eu tinha na mão a taça do faraó, colhia as uvas, espremia o sumo na taça do faraó e apresentava a taça ao rei.» 12José respondeu: «Eis a explicação: os três ramos são três dias. 13Três dias ainda, e o faraó libertar-te-á, restabelecendo-te no teu posto; e porás a taça do faraó na sua mão, na tua anterior qualidade de copeiro. 14Se te lembrares de mim, quando fores ditoso, presta-me, por favor, um bom serviço: fala de mim ao faraó e faz-me sair desta prisão. 15Pois fui arrebatado do país dos hebreus; e também aqui não tinha feito nada, quando me atiraram para esta prisão.» 16O padeiro-mor, ao ver que José dera uma interpretação favorável, disse-lhe: «Quanto a mim, no meu sonho, eu tinha três cestos de pães sobre a minha cabeça. 17No cesto superior havia os manjares do faraó, que o padeiro costuma preparar, mas as aves comiam-nos do cesto que estava à minha cabeça.» 18José respondeu nestes termos: «Eis a explicação: os três cestos são três dias. 19Três dias ainda e o faraó mandar-te-á cortar a cabeça e suspender numa forca; e os pássaros virão debicar a tua carne.» 20Ora, no terceiro dia, aniversário do nascimento do faraó, este deu um banquete a todos os seus servos e, dentre eles, chamou o copeiro-mor e o padeiro-mor. 21Encarregou o copeiro-mor de lhe dar de novo de beber, e ele apresentou a taça ao faraó. 22Quanto ao padeiro-mor, mandou-o enforcar, como José vaticinara. 23Mas o copeiro-mor não se lembrou mais de José e esqueceu-se dele.

41 O sonho do faraó (Dn 2; 4,1-30) - 1Dois anos depois, o faraó teve um sonho: estava de pé junto do Nilo. 2E do Nilo saíram sete vacas, belas e gordas, que se puseram a pastar a erva; 3depois destas saíram do rio outras sete vacas, enfezadas e magras, e pararam junto das primeiras, na margem do rio. 4E as vacas enfezadas e magras devoraram as sete vacas belas e gordas.Então, o faraó acordou. 5Adormeceu de novo e teve um segundo sonho: sete espigas, grandes e belas, subiram de uma mesma haste; 6depois, sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente germinaram a seguir às primeiras. 7E as espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes e cheias. Então, o faraó acordou: era um sonho. 8Pela manhã, com o espírito agitado, o faraó mandou chamar todos os magos do Egipto e todos os seus sábios. Contou-lhes os sonhos, mas ninguém conseguia explicá-los. 9Então o copeiro-mor falou diante do faraó nestes termos: «Hoje devo confessar a minha falta. 10Um dia, o faraó estava irritado contra os seus servos; mandou-os encerrar na casa do chefe dos guardas, a mim e ao padeiro-mor. 11Ambos tivemos um sonho na mesma noite, e os nossos sonhos tinham, cada um, o seu significado. 12Estava lá connosco um jovem hebreu, escravo do chefe dos guardas. Contámos-lhe os nossos sonhos e ele interpretou-os, dando a cada um de nós o significado do sonho. 13E tudo aconteceu como ele tinha interpretado: eu fui restabelecido no meu posto e o outro foi enforcado.»
José diante do faraó - 14O faraó mandou procurar José, o qual foi rapidamente tirado da prisão. Barbeou-se, mudou de vestidos e apresentou-se diante do faraó. 15E o faraó disse a José: «Tive um sonho que ninguém me explica, mas ouvi dizer que tu sabes interpretar os sonhos.» 16José respondeu ao faraó, dizendo: «Não sou eu, é Deus quem dará ao faraó uma resposta satisfatória.» 17Então, o faraó falou assim a José: «No meu sonho, estava na margem do rio. 18E do rio saíram sete vacas, belas e gordas que se puseram a pastar a erva; 19depois, seguiram-nas outras sete vacas magras, muito enfezadas e todas descarnadas; nunca vi outras tão magras em todo o país do Egipto. 20As vacas magras e enfezadas devoraram as sete primeiras vacas, as gordas; 21estas passaram para o seu corpo, sem que parecesse terem ali entrado: o seu aspecto permaneceu enfezado como antes. Então acordei. 22Vi depois, num outro sonho, sete espigas elevarem-se sobre uma mesma haste, cheias e belas; 23mas em seguida eis que nasceram outras sete espigas, raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente. 24E estas espigas raquíticas engoliram as sete espigas grandes. Contei isso aos magos e nenhum deles mo explicou.» 25José disse ao faraó: «O sonho do faraó é só um. Deus anunciou ao faraó o que vai fazer. 26As sete vacas belas são sete anos; as sete espigas grandes são sete anos; é um mesmo sonho. 27E as sete vacas magras e feias, que subiam em segundo lugar, são sete anos; e as sete espigas raquíticas e ressequidas pelo vento do oriente são sete anos. Serão sete anos de fome. 28É o que eu disse ao faraó: Deus revelou ao faraó o que vai fazer. 29Sim, vão chegar sete anos de grande abundância a todo o território do Egipto. 30Mas sete anos de fome surgirão a seguir, de modo que toda a abundância desaparecerá do Egipto e a fome devastará o país. 31A recordação da abundância apagar-se-á no país, devido à fome que se seguirá, porque será excessiva. 32E se o sonho do faraó se repetiu duas vezes, é porque isto está decidido diante de Deus e porque Deus está quase a realizá-lo. 33Agora escolha o faraó um homem prudente e sábio, encarregando-o do país do Egipto. 34Que o faraó nomeie comissários para o país e lance o imposto de um quinto sobre as colheitas do Egipto, durante os sete anos de abundância. 35Que se acumulem todas as sobras de víveres desses anos férteis que se aproximam; que se armazene trigo sob a autoridade do faraó, nas cidades, como reserva de víveres. 36Essas provisões serão um recurso para o país durante os sete anos de fome que vão chegar ao Egipto, a fim de que o país não pereça pela fome.»
Promoção de José - 37Estas palavras agradaram ao faraó e a todos os seus servos. 38E o faraó disse aos servos: «Poderemos nós encontrar outro homem como este, cheio do espírito de Deus?» 39E o faraó disse a José: «Visto que Deus te revelou tudo isso, não há ninguém tão inteligente e tão sábio como tu. 40Tu mesmo serás o chefe da minha casa; todo o meu povo será governado por ti e somente pelo trono é que serei maior do que tu.» 41E disse ainda a José: «Eis que te ponho à frente de todo o país do Egipto.» 42Então o faraó tirou da mão o anel, passou-o para a de José, mandou-o vestir com vestes de linho fino e pôs-lhe ao pescoço o colar de ouro. 43Mandou-o subir para o segundo dos seus carros, e gritavam diante dele: «Prestem homenagem!» E assim foi estabelecido chefe de todo o país do Egipto. 44O faraó disse a José: «Eu sou o faraó; mas, sem a tua permissão, ninguém moverá a mão ou o pé em todo o Egipto.» 45O faraó cognominou José Safnat-Panéa e deu-lhe por mulher Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. E José partiu para inspeccionar o país do Egipto. 46Tinha trinta anos quando apareceu diante do faraó, rei do Egipto. E saindo da presença do faraó, José percorreu todo o país do Egipto. 47A terra, durante os sete anos de fertilidade, produziu colheitas abundantes. 48Acumularam-se as provisões dos sete anos de abundância, que houve no Egipto, e abasteceram-se as cidades; puseram em cada cidade os géneros dos campos que as rodeavam e guardaram-nos em cada uma. 49José acumulou trigo como a areia do mar, em tão grande quantidade que deixaram de o medir, pois era incalculável. 50Antes que chegasse o período da fome, nasceram a José dois filhos, que lhe deu Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On. 51José chamou ao primogénito Manassés: «Porque - disse ele - Deus fez-me esquecer todas as minhas tribulações e toda a casa de meu pai.» 52Ao segundo chamou Efraim: «Porque - disse ele - Deus fez-me frutificar, no país do meu infortúnio.» 53Tendo terminado os sete anos de abundância, no país do Egipto, 54sobrevieram os sete anos da fome, como José predissera. Houve fome em todos os países, mas no Egipto havia pão. 55Quando a fome começou a manifestar-se no Egipto, o povo clamou por pão ao faraó; mas o faraó respondeu aos egípcios: «Ide ter com José; fazei o que ele vos disser.» 56Estendendo-se a fome a toda a terra, José abriu todos os celeiros e vendeu trigo aos egípcios. Mas a fome persistiu no país do Egipto. 57De todos os países vinham ao Egipto para comprar trigo a José, pois a fome era violenta em toda a terra.

42 Primeira viagem dos irmãos de José ao Egipto - 1Sabendo Jacob que havia trigo à venda no Egipto, disse aos seus filhos: «Porque olhais uns para os outros?» 2E disse ainda: «Ouvi dizer que há trigo à venda no Egipto. Ide lá comprá-lo, para nós continuarmos vivos e não morrermos.» 3Os irmãos de José partiram, em número de dez, para comprar trigo no Egipto. 4Quanto a Benjamim, irmão de José, Jacob não o deixou ir com os irmãos, porque, dizia ele de si para consigo: «Poderia acontecer-lhe algum mal.» 5E os filhos de Israel foram comprar trigo, juntamente com outros que iam, pois também havia fome no país de Canaã. 6Ora José era governador do país; era ele que mandava distribuir o trigo a todo o povo do país. Quando os irmãos de José chegaram, prostraram-se diante dele com o rosto por terra. 7Vendo os irmãos, José reconheceu-os; dissimulou, porém, diante deles e falou-lhes com dureza, dizendo: «Donde vindes?» Ao que eles responderam: «Do país de Canaã, para comprar víveres.» 8José reconheceu os irmãos mas eles não o reconheceram. 9José recordou-se, então, dos sonhos que tivera acerca deles e disse-lhes: «Sois espiões! É para descobrir o lado fraco do país que viestes.» 10Responderam-lhe: «Não, senhor, os teus servos vieram para comprar víveres. 11Somos todos filhos de um mesmo pai; somos pessoas honestas: os teus servos nunca foram espiões.» 12Disse-lhes José: «Não é assim! Viestes reconhecer os lados fracos do território.» 13Responderam-lhe: «Nós, os teus servos, éramos doze irmãos, filhos de um mesmo pai e habitantes do país de Canaã; o mais novo está junto do nosso pai neste momento e o outro já não existe.» 14José disse-lhes: «É aquilo que eu disse: sois espiões! 15Por isso vos porei à prova: Pela vida do faraó, não saireis daqui enquanto o vosso irmão mais novo não tiver vindo. 16Mandai um de vós buscá-lo, enquanto ficais prisioneiros; verificar-se-á, assim, a sinceridade das vossas palavras. Doutro modo, pela vida do faraó, sereis considerados espiões.» 17E fechou-os na prisão durante três dias. 18No terceiro dia, José disse-lhes: «Fazei o seguinte e vivereis, porque temo o Senhor: 19se procedeis de boa fé, que só um de vós fique detido na prisão, enquanto ireis levar às vossas famílias com que lhes matar a fome. 20Depois, trazei-me o vosso irmão mais novo: assim, as vossas palavras serão justificadas, e não morrereis.» E eles concordaram. 21Disseram, então, uns aos outros: «Na verdade, nós estamos a ser castigados por causa do nosso irmão; vimos o seu desespero quando nos implorou compaixão, e não o escutámos. Por isso veio sobre nós esta desgraça.» 22Rúben respondeu-lhes nestes termos: «Eu bem vos dizia, então: ‘Não pequeis contra o menino!’ Mas não me escutastes. Agora respondemos pelo seu sangue.» 23Ora eles não sabiam que José os compreendia, porque lhes falava por meio de um intérprete. 24José afastou-se deles e chorou. Depois voltou para junto dos irmãos e falou-lhes. Escolheu Simeão e mandou-o encarcerar na presença deles.
Regresso à terra natal - 25José ordenou, então, que lhes enchessem de trigo os sacos; que pusessem o dinheiro de cada um no seu saco e que lhes dessem provisões para a viagem. Tudo isso foi executado. 26Eles carregaram o trigo sobre os jumentos e partiram. 27Na estalagem, ao abrir o saco para dar a ração ao jumento, um deles encontrou o dinheiro, que estava na boca do saco. 28E disse aos seus irmãos: «Devolveram-me o dinheiro; está aqui no meu saco.» Desfaleceu-lhes o coração e olharam uns para os outros, atemorizados, dizendo: «O que é isto que Deus nos fez?» 29Chegando junto de Jacob, seu pai, no país de Canaã, contaram-lhe tudo o que lhes tinha acontecido, nestes termos: 30«O homem, que é senhor do país, falou-nos com dureza; tratou-nos como a espiões que iam explorar o país. 31Nós dissemos-lhe: ‘Somos pessoas honestas, nunca fomos espiões. 32Éramos doze irmãos, filhos do mesmo pai: um já não vive, e o mais novo está agora com o nosso pai no país de Canaã.’ 33E o homem, que é senhor daquele país, respondeu-nos: ‘Reconhecerei que sois sinceros, se deixardes junto de mim um de vós; tomai o que é preciso para as necessidades das vossas famílias e parti; 34depois, trazei-me o vosso irmão mais novo. Saberei, assim, que não sois espiões e que sois pessoas honestas. Entregar-vos-ei, então, o vosso irmão, e podereis circular no país, fazendo as vossas compras.’» 35Ao esvaziarem os seus sacos, todos eles encontraram o dinheiro dentro deles; à vista desse dinheiro, tanto eles como o pai estremeceram. 36Então Jacob, seu pai, disse-lhes: «Ainda me ides deixar sem meus filhos! José desapareceu, Simeão desapareceu e quereis agora tirar-me Benjamim! É sobre mim que tudo isto cai.» 37Rúben disse ao pai: «Tira a vida aos meus dois filhos, se eu to não trouxer; entrega-o nas minhas mãos e trá-lo-ei para junto de ti.» 38Jacob respondeu: «O meu filho não irá convosco; porque o seu irmão já não existe e só ele ficou. Se lhe acontecesse algum mal durante a viagem que ides fazer, os meus cabelos brancos desceriam ao túmulo com o peso da dor.»

43 Segunda viagem ao Egipto - 1Entretanto, a fome pesava sobre o país. 2Quando consumiram todo o trigo que tinham trazido do Egipto, o pai disse-lhes: «Voltai e comprai-nos alguns víveres.» 3Judá respondeu-lhe: «Aquele homem falou categoricamente e disse-nos: ‘Não torneis à minha presença sem que esteja convosco o vosso irmão.’ 4Se consentes que o nosso irmão vá connosco, então iremos comprar-te víveres. 5Mas se não o deixares ir, não podemos lá voltar, pois aquele homem disse-nos: ‘Não apareçais diante de mim, se não vierdes acompanhados pelo vosso irmão.’» 6E Israel replicou: «Porque procedestes mal para comigo, informando esse homem de que tínheis ainda um irmão?» 7Responderam-lhe: «Aquele homem fez muitas perguntas, a nosso respeito e da nossa família, dizendo: ‘Vosso pai vive ainda? Tendes mais algum irmão?’ E nós respondemos às suas perguntas. Podíamos acaso prever que ele diria: ‘Fazei vir o vosso irmão?’» 8E Judá disse a Israel, seu pai: «Deixa ir o menino comigo, a fim de que possamos partir; e assim poderemos viver, nós, tu e os nossos filhos, em vez de morrermos. 9Sou eu que respondo por ele; é a mim que o reclamarás; se eu não o trouxer e não o puser diante de ti, declarar-me-ei culpado para contigo, para todo o sempre. 10Se não tivéssemos demorado tanto, já estávamos de volta pela segunda vez!» 11Israel, seu pai, disse-lhe: «Visto que é assim, está bem! Fazei isto: metei nas vossas bagagens os melhores produtos do país e levai-os como homenagem a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, aromas, láudano, pistácios e amêndoas. 12Levai também convosco o dobro do dinheiro, assim como a soma que encontrastes na boca dos sacos, certamente por engano. 13Levai o vosso irmão e preparai-vos para voltar à presença desse homem. 14Que o Deus supremo vos faça encontrar compaixão junto desse homem, a fim de que vos deixe vir com o outro vosso irmão e com Benjamim. Quanto a mim, se tiver de ser privado dos meus filhos, paciência, que eu seja privado deles.» 15Os homens tomaram consigo os presentes, muniram-se com o dobro do dinheiro e levaram Benjamim. Puseram-se a caminho do Egipto e apresentaram-se diante de José. 16Logo que José viu Benjamim entre eles, disse ao seu intendente: «Manda entrar esses homens em minha casa; manda matar um animal e prepara-o, porque esses homens comerão comigo ao meio-dia.» 17O intendente obedeceu às ordens e introduziu os viajantes na casa de José. 18Mas, quando os introduziram na casa de José, eles alarmaram-se e disseram: «É por causa do dinheiro reposto nos nossos sacos, da outra vez, que nos trouxeram para aqui; é para nos agredirem, caindo sobre nós, para nos escravizarem e se apoderarem dos nossos jumentos.» 19Aproximaram-se do homem, que governava a casa de José, e falaram-lhe à entrada da casa, 20dizendo: «Perdão, senhor! Já aqui estivemos uma vez para comprar víveres. 21Ora aconteceu que, ao chegarmos a uma estalagem, abrimos os nossos sacos e encontrámos o dinheiro de cada um na boca de cada saco - o nosso próprio dinheiro. 22Temo-lo nas mãos e trouxemos connosco uma outra quantia, para comprar víveres. Não sabemos quem tornou a pôr o nosso dinheiro nos nossos sacos.» 23Disse-lhes ele: «Tranquilizai-vos, não vos atemorizeis. O vosso Deus, o Deus do vosso pai, é que vos fez encontrar um tesouro nos vossos sacos: o vosso dinheiro foi-me entregue.»E trouxe-lhes Simeão. 24O intendente mandou-os entrar na casa de José; deram-lhes água para lavarem os pés e deram forragem aos animais. 25Enquanto esperavam José, que devia chegar ao meio-dia, prepararam os presentes, porque lhes tinham dito que comeriam ali. 26Quando José entrou em casa, levaram-lhe os presentes que haviam trazido e inclinaram-se até ao chão, diante dele. 27José informou-se da sua saúde e depois disse: «Como está o vosso velho pai, esse ancião do qual me falastes? Ainda é vivo?» 28Eles responderam: «O teu servo, nosso pai, está de saúde e vive ainda.» Então inclinaram-se, prostrando-se. 29Levantando os olhos, José viu Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: «É este o vosso irmão mais novo, do qual me falastes?» E continuou: «Que Deus te seja favorável, meu filho!» 30E José apressou-se a sair, porque ficou enternecido, à vista do seu irmão, e tinha necessidade de chorar; entrou no seu aposento e chorou. 31Depois, lavou o rosto e voltou a sair. Então, procurando dominar-se, disse: «Servi a refeição.» 32Serviram-lhes a refeição em três mesas separadas: numa para José, na outra para os irmãos e na terceira para os egípcios; porque não é permitido aos egípcios comer com os hebreus, pois isto é uma abominação, no Egipto. 33Sentaram-se à mesa diante dele, o primogénito segundo a sua idade e o mais novo segundo a sua; e os homens olhavam uns para os outros com assombro. 34José mandou que lhes servissem iguarias na sua mesa, mas a porção de Benjamim foi cinco vezes maior do que a dos outros. Beberam e alegraram-se todos juntos.

44 Última prova - 1José deu a seguinte ordem ao intendente da sua casa: «Enche de víveres os sacos destes homens, tanto quanto eles puderem conter e põe o dinheiro de cada um na boca do saco. 2Põe também a minha taça de prata na boca do saco do mais novo, juntamente com o preço do trigo.» E tudo foi executado como José ordenara. 3Quando chegou a manhã, deixaram partir os homens com os seus jumentos. 4Acabavam de sair da cidade e ainda estavam a pouca distância, quando José disse ao intendente da sua casa: «Vai, corre atrás desses homens e, assim que os encontrares, diz-lhes: ‘Porque pagastes o bem com o mal? 5É precisamente por essa taça que bebe o meu senhor, e é dela que ele se serve para adivinhar. Praticastes uma má acção!’» 6Tendo-os alcançado, o intendente disse-lhes essas mesmas palavras. 7Eles responderam-lhe: «Porque fala assim o meu senhor? Longe de teus servos terem cometido uma tal acção! 8Trouxemos-te do país de Canaã o dinheiro que encontrámos na boca dos nossos sacos. Como poderíamos, então, furtar da casa de teu amo ouro ou prata? 9Aquele dos teus servos que o tiver em seu poder morrerá, e nós mesmos seremos escravos do meu senhor!» 10O intendente replicou: «Sim, é certo e justo o que dizeis: somente aquele que for encontrado na posse da taça será meu escravo, e vós ficareis livres.» 11Todos eles se apressaram a pousar os sacos no chão e cada um abriu o seu. 12E o intendente revistou-os, começando pelo mais velho e acabando no mais novo. A taça foi encontrada no saco de Benjamim. 13Rasgaram, então, as suas vestes; tornaram a carregar os jumentos e voltaram para a cidade. 14Judá entrou com os irmãos na casa de José, que ainda ali se encontrava e prostraram-se no chão, aos seus pés. 15José disse-lhes: «Que procedimento foi o vosso? Não sabeis que um homem como eu tem poder de adivinhar?» 16Judá respondeu: «Que havemos de dizer ao meu senhor? Como falar e como justificar-nos? Deus descobriu a iniquidade dos teus servos. Seremos agora os escravos do meu senhor, tanto nós como aquele em cujo poder se encontrou a taça.» 17E José replicou: «Longe de mim proceder assim! O homem, em cujo poder se encontrou a taça, é que será meu escravo. Quanto a vós, voltai em paz para junto do vosso pai.»

Intervenção de Judá - 18Então, Judá aproximou-se de José e disse-lhe: «Por favor, senhor, que o teu servo possa dizer uma palavra aos ouvidos do meu senhor, e que a tua cólera não se inflame contra o teu servo! Porque tu és igual ao faraó. 19Quando o meu senhor interrogou os seus servos, dizendo: ‘Tendes ainda pai ou outro irmão?’, 20nós respondemos ao meu senhor: ‘Temos um pai idoso e um irmão jovem, filho da sua velhice. Seu irmão morreu, ficando ele só, dos filhos de sua mãe, e o pai está muito afeiçoado a ele.’ 21Tu disseste então aos teus servos: ‘Trazei-mo, para que eu o veja.’ 22E nós respondemos ao meu senhor: ‘O menino não poderá deixar o pai; se ele o deixasse, seu pai morreria.’ 23Mas tu disseste aos teus servos: ‘Se o vosso irmão mais novo não vos acompanhar, não torneis a aparecer diante de mim.’ 24Ao voltarmos para junto do teu servo, nosso pai, repetimos-lhe as mesmas palavras do meu senhor. 25E o nosso pai disse-nos: ‘Voltai, comprai-nos alguns víveres.’ 26Respondemos-lhe: ‘Não podemos partir. Se o nosso irmão mais novo não for connosco, não voltaremos; porque não podemos aparecer diante daquele homem, se o nosso irmão mais novo não estiver connosco.’ 27O teu servo e meu pai, disse-nos: ‘Sabeis que a minha mulher deu-me dois filhos. 28Um desapareceu de junto de mim e eu disse: Com certeza foi devorado! E não tornei a vê-lo, até hoje. 29Se me tirardes também este e se lhe acontecer algum mal, fareis descer os meus cabelos brancos ao túmulo, com o peso da dor.’ 30Agora, ao voltarmos para junto do teu servo e meu pai, como poderíamos não ir acompanhados pelo menino, cuja vida à dele está ligada?! 31Com certeza, não vendo o menino, ele morrerá; e os teus servos terão feito descer ao túmulo, dolorosamente, os cabelos brancos do teu servo e meu pai. 32Foi este teu servo que se responsabilizou pelo menino, perante meu pai, dizendo: ‘Se não o trouxer para junto de ti, serei para sempre culpado para com meu pai.’ 33Então, por favor, que o teu servo fique como escravo do meu senhor, em lugar do menino; que fique escravo do meu senhor e que o menino volte com os irmãos. 34Como poderei voltar para junto de meu pai, sem levar comigo o seu filho? Nem quero ver a dor que sobreviria a meu pai!»

45 Desfecho - 1José não pôde conter-se diante dos que o rodeavam e exclamou: «Mandai sair toda a gente daqui!» Por isso não ficou ninguém presente, quando José se deu a conhecer aos irmãos. 2Mas ele chorava tão alto que os egípcios ouviram-no, e a notícia chegou também ao palácio do faraó. 3José disse então aos irmãos: «Eu sou José; meu pai ainda é vivo?» Mas eles não puderam responder-lhe, porque ficaram perturbados diante dele. 4José disse aos irmãos: «Aproximai-vos de mim, peço-vos!» E eles aproximaram-se. José continuou: «Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egipto. 5Mas não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós próprios, por me terdes vendido para este país; porque foi para podermos conservar a vida que Deus me mandou para aqui à vossa frente. 6Com efeito, há dois anos que a fome reina em toda esta região; e, durante cinco anos, não voltará a haver lavoura nem colheita. 7Deus enviou-me à vossa frente para vos preparar recursos, neste país, e para vos conservar a vida e garantir sobrevivência de uma forma maravilhosa. 8Não, não fostes vós que me fizestes vir para aqui. Foi Deus; foi Ele que me tornou como um pai para o faraó, senhor da sua casa e administrador de todo o país do Egipto. 9Apressai-vos a voltar para junto de meu pai e dizei-lhe: ‘Assim fala o teu filho José: Deus fez-me senhor de todo o Egipto. Vem para junto de mim, sem demora! 10Habitarás na terra de Góchen e estarás perto de mim; tu e os teus filhos, os teus netos, o teu gado miúdo e graúdo e tudo o que te pertence. 11Sustentar-te-ei ali, porque, durante cinco anos, ainda haverá fome, a fim de que nada sofras, tu, a tua família e tudo o que te pertence.’ 12Vedes com os vossos olhos, assim como meu irmão Benjamim, que, na verdade, sou eu que vos falo. 13Contai a meu pai todas as honras que me rodeiam no Egipto e tudo o que vistes, e apressai-vos a trazer o meu pai para cá.» 14Então lançou-se ao pescoço de Benjamim, seu irmão, e chorou; e Benjamim também chorou nos seus braços. 15José abraçou todos os seus irmãos e chorou abraçado a eles. Só então é que os irmãos puderam falar-lhe.

Convite do faraó - 16A notícia espalhou-se por toda a corte do faraó: «Chegaram os irmãos de José!» E isto agradou ao faraó e aos seus servos. 17O faraó disse a José: «Diz aos teus irmãos: ‘Fazei assim: tornai a carregar os vossos animais e ponde-vos a caminho para Canaã. 18Trazei vosso pai e as vossas famílias e vinde para junto de mim; dar-vos-ei a melhor província do Egipto, e comereis os melhores frutos deste país.’ 19E ficas encarregado de transmitir esta ordem: ‘Fazei assim: tomai carros para os vossos filhos e para as vossas mulheres, no país do Egipto; fazei subir para eles o vosso pai e voltai. 20Não tenhais pena das vossas terras, porque o melhor do Egipto será para vós.’»

Regresso a Canaã - 21Assim fizeram os filhos de Israel. José deu-lhes carros, segundo as ordens do faraó; forneceu-lhes provisões para a viagem 22e deu a todos, individualmente, vestidos novos; a Benjamim deu de presente trezentas moedas de prata e cinco mudas de roupa. 23E também enviou a seu pai dez jumentos carregados com os melhores produtos do Egipto e dez jumentas carregadas com trigo, pão e provisões que lhe serviriam para a viagem. 24Despediu-se dos irmãos, quando eles partiram, e disse-lhes: «Não entreis em discussões durante a viagem.» 25Partiram do Egipto e chegaram ao país de Canaã, à casa de seu pai Jacob. 26Disseram-lhe que José ainda era vivo e que governava todo o Egipto, mas o seu coração permaneceu frio, porque não acreditava neles. 27Repetiram-lhe então todas as palavras que José dissera e, quando viu os carros que José enviara para o levar, a vida voltou ao coração de Jacob, seu pai. 28E Israel exclamou: «Meu filho José ainda está vivo! Isso basta-me. Vou vê-lo antes de morrer.»

46 Jacob emigra para o Egipto (12,10-20; Ex 1,1-7; Mt 2,13-15) - 1Israel partiu com tudo o que lhe pertencia e chegou a Bercheba, onde imolou vítimas ao Deus de seu pai Isaac. 2Deus falou a Israel numa visão, durante a noite, e disse-lhe: «Jacob! Jacob!» Ele respondeu: «Eis-me aqui.» 3E Deus prosseguiu: «Eu sou o Deus de teu pai: não hesites em descer ao Egipto, porque tornar-te-ei ali uma grande nação. 4Eu mesmo descerei contigo ao Egipto; e Eu mesmo far-te-ei voltar de lá; e será José quem te fechará os olhos.» 5Jacob partiu de Bercheba. Os filhos de Israel fizeram subir Jacob, seu pai, assim como as suas mulheres e os seus filhos, para os carros enviados pelo faraó para os transportar. 6Tomaram os seus rebanhos e os bens que haviam adquirido no país de Canaã e foram para o Egipto, Jacob e toda a família. 7Os seus filhos e os seus netos, as suas filhas e as suas netas e toda a sua descendência acompanharam-no para o Egipto.
Família de Jacob (Nm 26,1-51.57-62) - 8Eis os nomes dos filhos de Israel que entraram no Egipto:Jacob e seus filhos: Rúben, o primogénito de Jacob, 9e os filhos de Rúben: Henoc, Palú, Hesron e Carmi; 10e os filhos de Simeão: Jemuel, Jamin e Oad, Jaquin e Soar; depois Saul, filho de uma cananeia. 11Os filhos de Levi são: Gérson, Queat e Merari. 12Os filhos de Judá: Er, Onan, Chelá, Peres e Zera. Er e Onan morreram no país de Canaã; e os filhos de Peres foram Hesron e Hamul. 13Os filhos de Issacar foram: Tola, Puvá, Job e Chimeron. 14Os filhos de Zabulão foram: Séred, Elon e Jaliel. 15São estes os filhos que Lia deu a Jacob no território de Padan-Aram, e depois Dina, sua filha. Total dos seus filhos e das suas filhas: trinta e três pessoas. 16Os filhos de Gad foram: Sifion, Hagui, Chuni, Ecebon, Eri, Arodi e Areli. 17Os filhos de Aser foram: Jimna, Jisva, Jisvi, Beria e sua irmã Sera; e os filhos de Beria foram: Héber e Malquiel. 18São estes os filhos de Zilpa, serva que Labão dera a sua filha Lia; foi ela que os deu a Jacob, ao todo dezasseis pessoas. 19Os filhos de Raquel, mulher de Jacob foram: José e Benjamim. 20Assenat, filha de Potifera, sacerdote de On, deu a José, no Egipto, Manassés e Efraim. 21E os filhos de Benjamim foram: Bela, Bécer, Achebel, Guera, Naaman, Eí, Rós, Mupim, Hupim e Ard. 22São estes os filhos que Raquel deu a Jacob; ao todo catorze pessoas. 23Filho de Dan: Huchim. 24Filhos de Neftali foram: Jaciel, Guni, Jécer e Chilém. 25São estes os filhos de Bila, serva que Labão dera a Raquel, sua filha; foi ela que os deu a Jacob, ao todo sete pessoas. 26E todas as pessoas da família de Jacob e seus descendentes, que entraram no Egipto, além das mulheres dos filhos de Jacob, foram ao todo sessenta e seis pessoas. 27Depois, os filhos de José, que nasceram no Egipto: duas pessoas. Total das pessoas da casa de Jacob que foram para o Egipto: setenta pessoas.

Encontro com José - 28Jacob mandara Judá adiante encontrar-se com José, para que este preparasse a sua entrada em Góchen. 29Quando chegaram ali, José mandou atrelar o seu carro e foi a Góchen, ao encontro de seu pai. Ao vê-lo, lançou-se-lhe ao pescoço e chorou longamente, entre os seus braços. 30E Israel disse a José: «Agora posso morrer, pois vi o teu rosto e ainda vives!» 31José disse aos irmãos e à família de seu pai: «Vou regressar, a fim de informar o faraó. Dir-lhe-ei: ‘Meus irmãos e toda a família de meu pai, que viviam no país de Canaã, vieram para junto de mim. 32Esses homens são pastores de rebanhos, pois possuem gado; trouxeram o seu gado miúdo e graúdo e tudo o que possuíam.’ 33Quando o faraó vos mandar chamar e disser: ‘Qual é o vosso trabalho?’ 34respondereis: ‘Os teus servos dedicam-se a pastorear os rebanhos, desde a juventude até ao presente. Assim fizeram também os nossos pais.’ Deste modo, podereis viver na província de Góchen, porque os egípcios abominam todos os pastores de gado miúdo.»
47 Audiência real - 1José foi dar a notícia ao faraó, dizendo: «Meu pai e meus irmãos vieram do país de Canaã com o seu gado miúdo e graúdo e com tudo o que possuem, e encontram-se na província de Góchen.» 2Depois tomou alguns dos irmãos, cinco homens, e apresentou-os ao faraó. 3E o faraó disse-lhes: «Qual é o vosso trabalho?» Responderam ao faraó: «Os teus servos são pastores, como o foram seus pais.» 4Disseram ainda ao faraó: «Emigrámos para este país, porque os pastos faltam aos rebanhos dos teus servos, e a miséria é muita no país de Canaã. Permite, então, aos teus servos que habitem na província de Góchen.» 5O faraó disse a José: «Teu pai e teus irmãos vieram para junto de ti. 6O país do Egipto está à tua disposição; instala teu pai e teus irmãos na sua melhor província. Que habitem na terra de Góchen e, se vires que entre eles há pessoas de valor, nomeia-os inspectores dos meus domínios.» 7José introduziu Jacob, seu pai, e apresentou-o ao faraó; e Jacob saudou o faraó. 8Este disse a Jacob: «Qual é o número dos anos da tua vida?» 9Jacob respondeu-lhe: «O número dos anos da minha peregrinação é de cento e trinta. Breve e infeliz foi o tempo dos anos da minha vida e não se compara aos anos da vida dos meus pais, aos dias das suas peregrinações.» 10Jacob saudou o faraó e retirou-se da presença dele. 11José instalou seu pai e seus irmãos e concedeu-lhes direitos de propriedade no Egipto, no melhor território, o de Ramessés, como o faraó lhe tinha ordenado. 12E José sustentou seu pai, seus irmãos e toda a casa de seu pai, dando-lhes víveres, de acordo com as necessidades de cada família.

Política agrária de José - 13Faltava o pão em toda a região; a miséria era muita, e o Egipto e o país de Canaã estavam reduzidos à miséria. 14José recolheu todo o dinheiro que havia no país do Egipto e no de Canaã, em troca do trigo que eles compravam, e fez entrar esse dinheiro no palácio do faraó. 15Quando o dinheiro estava esgotado no país do Egipto e no de Canaã, todos os egípcios se dirigiram a José, dizendo: «Dá-nos pão. Havemos de morrer diante de ti, porque se acabou o dinheiro?» 16José respondeu: «Entregai os vossos animais, e dar-vos-ei pão em troca deles, visto faltar o dinheiro.» 17Trouxeram o gado a José e ele deu-lhes pão em troca dos cavalos, do gado miúdo, do gado graúdo e dos jumentos; e forneceu-lhes alimentação em troca do gado, durante aquele ano. 18Passado aquele ano, vieram novamente ter com José e disseram-lhe: «Não podemos ocultar ao nosso amo que, tendo o dinheiro e o gado passado por completo para o seu poder, só podemos agora oferecer-lhe os nossos corpos e as nossas terras. 19Será que nos vais deixar morrer e deixar perdidas as nossas terras? Torna-te nosso proprietário e das nossas terras, em troca de víveres: nós e as nossas terras seremos pertença do faraó; dá-nos sementes para vivermos e não perecermos, e para que os nossos campos não fiquem desertos.» 20José adquiriu, assim, toda a terra do Egipto para o faraó, pois todos os egípcios venderam os campos, constrangidos como estavam, pela fome. Assim, todo o Egipto ficou a pertencer ao faraó. 21Quanto ao povo, José reduziu-o à servidão, em toda a extensão do território egípcio. 22Contudo, não adquiriu as terras dos sacerdotes. É que os sacerdotes recebiam do faraó uma porção fixa e viviam com essa porção que o faraó lhes concedia, de modo que eles não venderam as propriedades. 23E José disse ao povo: «De hoje em diante, vós, assim como as vossas terras, sereis propriedade do faraó. Aqui estão as sementes para semeardes a terra; 24depois, na altura da produção, dareis um quinto ao faraó; as outras quatro partes servir-vos-ão para semear os campos e para vos sustentardes, assim como à vossa gente e às vossas famílias.» 25Eles responderam: «Tu conservaste-nos a vida! Possamos alcançar o favor do nosso senhor e permanecer servos do faraó.» 26José impôs à terra do Egipto esta contribuição de um quinto, para o faraó, a qual subsiste ainda. Só as terras dos sacerdotes é que foram exceptuadas, porque não dependiam do faraó.

Últimas vontades de Jacob (23, 17-19; 49,29-32; 50,5) -

27Israel estabeleceu-se, então, no país do Egipto, na província de Góchen; os israelitas adquiriram propriedades e multiplicaram-se prodigiosamente. 28Jacob viveu dezassete anos no país do Egipto; o tempo da sua vida foi de cento e quarenta e sete anos. 29Quando os dias de Israel se aproximaram do fim, ele mandou chamar seu filho José e disse-lhe: «Se tens alguma afeição por mim, peço-te que ponhas a tua mão sob a minha coxa para jurar que procederás para comigo com bondade e fidelidade, não me sepultando no Egipto. 30Quando descansar com meus pais, hás-de levar-me para fora do Egipto e enterrar-me no túmulo deles.»José respondeu: «Farei o que tu dizes.» 31Jacob continuou: «Jura-mo.» Ele jurou, e Israel inclinou-se em adoração à cabeceira da cama.

48 Efraim e Manassés - 1Depois destes acontecimentos, vieram dizer a José: «Teu pai está doente.» José partiu, levando com ele os dois filhos, Manassés e Efraim. 2Anunciaram-no a Jacob, dizendo: «O teu filho José vem ver-te.» Israel juntou as suas forças e sentou-se no leito. 3E disse a José: «O Deus supremo apareceu-me em Luz, no país de Canaã e abençoou-me, 4dizendo:‘Quero que cresças e frutifiques; converter-te-ei numa multidão de povos e darei este país à tua posteridade, depois de ti, como propriedade perpétua.’ 5E agora, os dois filhos que tiveste no Egipto, antes da minha vinda para junto de ti, para o Egipto, tornam-se meus. Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão. 6Quanto aos filhos que tiveste depois deles, ficarão para ti: em nome dos seus irmãos, receberão a sua herança. 7Vindo eu de Padan-Aram, Raquel morreu nos meus braços, no país de Canaã, durante a viagem, quando eu estava a certa distância de Efrata; sepultei-a ali, no caminho de Efrata, que é Belém.» 8Israel reparou nos filhos de José e disse: «Quem são estes?» 9José respondeu a seu pai: «São os meus filhos, que Deus me deu neste país.» Jacob replicou: «Aproxima-os de mim, peço-te, para que eu os abençoe.» 10Pois, os olhos de Israel, enfraquecidos pela velhice, já não distinguiam bem. José mandou-os aproximar dele e Israel beijou-os, apertando-os nos seus braços; 11e disse a José: «Não contava tornar a ver o teu rosto e, contudo, Deus mostrou-me também a tua posteridade!» 12José retirou-os de entre os joelhos de seu pai e prostrou-se por terra diante dele. 13Depois, José tomou-os a ambos: Efraim à sua direita, isto é, à esquerda de Israel; e Manassés à sua esquerda, isto é, à direita de Israel; e aproximou-os dele. 14Israel estendeu a mão direita, pondo-a sobre a cabeça de Efraim, que era o mais novo, e pôs a mão esquerda sobre a cabeça de Manassés, apesar de Manassés ser o mais velho. 15Abençoou José, e depois disse:«Que o Deus, por cujos caminhosandaram meus pais, Abraão e Isaac,que o Deus, que velou por mimdesde o meu nascimento até este dia, 16que o mensageiro que me livrou de todo o mal,abençoe estes meninos.Que eles possam perpetuar o meu nome,e o nome dos meus pais, Abraão e Isaac.Que eles possam multiplicar-se com abundância neste país.» 17José reparou que seu pai tinha a mão direita sobre a cabeça de Efraim e isso desagradou-lhe; levantou a mão de seu pai, para a mudar da cabeça de Efraim para a de Manassés, 18e disse ao pai: «Assim não, meu pai! Pois este é o mais velho. Põe a tua mão direita sobre a sua cabeça.» 19Mas seu pai recusou, dizendo: «Eu sei, meu filho, eu sei; também ele se converterá num povo e também ele será poderoso; mas o seu irmão mais novo será mais do que ele, e a sua posteridade converter-se-á numa multidão de nações.» 20Abençoou-os, naquele dia, e disse: «Israel pronunciará esta bênção, dizendo:‘Deus te faça como Efraim e Manassés!’»E pôs, assim, Efraim à frente de Manassés. 21Israel disse a José: «Agora vou morrer. Deus estará convosco e vos reconduzirá ao país dos vossos antepassados. 22Mais do que aos teus irmãos, prometo-te Siquém, que conquistei aos amorreus com a minha espada e o meu arco.»

49 Bênçãos de Jacob (Dt 33,1-29) - 1Jacob mandou vir os seus filhos e disse:«Reuni-vos, pois quero revelar-vos o que vos acontecerá no futuro. 2Ajuntai-vos para escutar, filhos de Jacob,para escutar Israel, vosso pai. 3Rúben, tu foste o meu primogénito,o meu orgulho e as primícias da minha virilidade,o primeiro em dignidade,o primeiro em poder. 4Impetuoso como a onda, não terás a preeminênciaporque atentaste contra o leito paterno.Aviltaste a honra do meu leito. 5Simeão e Levi são irmãos!As suas armas são instrumentos de violência. 6Não te associes aos seus desígnios, ó minha alma!Não sejas, ó minha honra, cúmplice da sua aliança!Porque, na sua cólera, imolaram homens.E, na sua exaltação, derrubaram touros. 7Maldita seja a sua cólera tão cruel.E a sua indignação tão funesta!Quero separá-los, em Jacob.E dispersá-los, em Israel. 8A ti, Judá, teus irmãos te louvarão.A tua mão fará curvar o pescoço dos teus inimigos.Os filhos de teu pai inclinar-se-ão diante de ti! 9Tu és um leãozinho, Judá,quando regressas, ó meu filho, com a tua presa!Ele deita-se. É o repouso do leão e da leoa;quem ousará despertá-lo? 10O ceptro não escapará a Judá,nem o bastão de comando à sua descendência,até que venha aquele a quem pertence o comandoe ao qual obedecerão os povos. 11Então, há-de atar-se à vide o seu jumentinho,e à parreira, o filho da sua jumenta.O seu vestuário vai ser lavado em vinho,e a sua túnica, no sangue das uvas. 12Os seus olhos ficarão turvos de vinho,e os dentes serão brancos de leite. 13Zabulão ocupará o litoral dos mares;oferecerá portos aos navios.E a sua praia atingirá Sídon. 14Issacar é um jumento musculosoque se deita entre as colinas. 15Saboreou o encanto do repouso,e as delícias do pasto;entregou os ombros ao jugoe tornou-se tributário. 16Dan julgará o seu povo,como qualquer tribo de Israel. 17Dan será uma serpente sobre o caminho,uma áspide no carreiro:pica o pé do cavalo,e o cavaleiro cai de costas. 18Conto com o Senhor para te auxiliar. 19Gad será assaltado por assaltantes,mas ele assaltá-los-á pelas costas. 20Quanto a Aser, o seu pão será abundante;é ele que proverá os prazeres dos reis. 21Neftali é uma corça em liberdade,que produz formosas crias. 22José é um cavalo selvagem,um cavalo selvagem à beira de uma fonte.Ultrapassa os outros ramos ao longo da muralha. 23Exasperaram-no e feriram-no;odiaram-no os arqueiros orgulhosos. 24Mas o seu arco manteve-se firmee os músculos dos seus braços permaneceram vigorosos,graças ao Protector de Jacob,graças ao Pastor, ao Rochedo de Israel; 25graças ao Deus de teu pai, que será o teu apoio,e o Deus supremo, que será a tua bênção,com as bênçãos superiores do céu,com as bênçãos subterrâneas do abismo,com as bênçãos dos seios e das entranhas! 26As bênçãos de teu pai,sobrepujando as dos meus antepassados,atingem os limites das montanhas eternas;e cumprir-se-ão sobre a cabeça de José,sobre a fronte do eleito entre os seus irmãos! 27Benjamim é um lobo predador:pela manhã farta-se com a carnificina,e de tarde repartirá o espólio.» 28São estes os que formam as doze tribos de Israel; e foi assim que seu pai lhes falou e os abençoou, dando a cada um a sua própria bênção.

Morte e sepultura de Jacob - 29Jacob deu-lhes as suas ordens, dizendo: «Vou juntar-me ao meu povo. Sepultai-me junto dos meus pais, no jazigo que está no domínio de Efron, o hitita, 30no jazigo que está no território de Macpela, diante de Mambré, no país de Canaã, terra que Abraão comprou a Efron, o hitita, para propriedade sepulcral. 31Ali foram enterrados Abraão e Sara, sua esposa; foram lá enterrados também Isaac e Rebeca, sua esposa, e ali enterrei Lia. 32A compra dessa terra e do jazigo que ali se encontra foi feita no país dos hititas.» 33E tendo Jacob ditado aos seus filhos as suas últimas vontades, juntou os pés na sua cama, expirou e reuniu-se a seus pais.

50 Exéquias de Jacob - 1José precipitou-se sobre o rosto de seu pai e cobriu-o de lágrimas e de beijos. 2Ordenou aos médicos, seus servidores, que embalsamassem seu pai; e os médicos embalsamaram Israel, 3empregando nisso, quarenta dias, que são os dias precisos para o embalsamamento. Mas os egípcios puseram luto durante setenta dias. 4Quando os dias de luto passaram, José falou assim aos homens do faraó: «Se encontrei o vosso favor, peço-vos que leveis aos ouvidos do faraó estas palavras: 5‘Meu pai fez-me jurar nestes termos: Agora vou morrer: sepulta-me no sepulcro que adquiri no país de Canaã, no meu sepulcro’. Queria, pois, partir; sepultarei meu pai e depois regressarei.» 6O faraó respondeu: «Parte, sepulta teu pai, como ele te fez jurar.» 7E José partiu, a fim de sepultar seu pai. Foi acompanhado por todos os oficiais do faraó, pelos anciãos da sua corte, por todos os anciãos do Egipto, 8por toda a casa de José, por seus irmãos e pela casa de seu pai. Só as crianças e o seu gado miúdo e graúdo é que ficaram na província de Góchen. 9Seguiram-no carros e cavaleiros, e o préstito foi muito grande. 10Chegando à eira de Atad, situada na margem do Jordão, celebraram ali grandes e solenes funerais, e José ordenou um luto de sete dias, em honra de seu pai. 11Os habitantes do país, os cananeus, presenciaram o luto na eira de Atad e disseram: «Eis um grande luto para o Egipto!» Por isso chamaram Abel-Misraim ao lugar situado no outro lado do Jordão. 12Os filhos procederam a seu respeito exactamente como ele lhes tinha ordenado: 13transportaram-no para o país de Canaã e enterraram-no no jazigo do campo de Macpela, o campo que Abraão comprara, como propriedade tumular, a Efron, o hitita, diante de Mambré. 14Depois de sepultar seu pai, José voltou para o Egipto com os seus irmãos e com todos os que o tinham acompanhado, a fim de sepultar seu pai.

Morte de José - 15Ora os irmãos de José, depois da morte de seu pai, disseram uns aos outros: «E se José nos guarda rancor? Se vai vingar-se de todo o mal que lhe fizemos sofrer?» 16Mandaram então dizer a José o seguinte: «Teu pai ordenou-nos antes da sua morte: 17‘Falai assim a José: Perdoa, por favor, a ofensa dos teus irmãos, a sua falta e o mal que te fizeram! Perdoa, pois, o seu erro, aos servos do Deus do teu pai!’»E José chorou quando lhe falaram assim. 18Depois os seus irmãos vieram e caíram aos seus pés, dizendo: «Estamos prontos a tornar-nos teus escravos.» 19José respondeu-lhes: «Não temais; estou eu no lugar de Deus? 20Premeditastes contra mim o mal. Mas Deus aproveitou-o para o bem, a fim de que acontecesse o que hoje aconteceu, e um povo numeroso foi salvo. 21Nada receeis, então! Eu cuidarei de vós e das vossas famílias.» E assim tranquilizou-os e falou-lhes ao coração. 22José residiu no Egipto, com a sua família e a de seu pai, e viveu cento e dez anos. 23Viu os filhos de Efraim até à terceira geração; e os filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os seus joelhos. 24José disse aos seus irmãos: «Vou morrer! Mas Deus visitar-vos-á, fazendo-vos regressar deste país ao país que prometeu por juramento a Abraão, a Isaac e a Jacob.» 25E José fez jurar aos filhos de Israel, dizendo: «Deus há-de visitar-vos e então levareis os meus ossos deste país.» 26José morreu com a idade de cento e dez anos. Embalsamaram-no e puseram-no num sarcófago, no Egipto.

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