sexta-feira, 4 de setembro de 2009

CARTA A TITO

Tito foi, juntamente com Timóteo, um dos principais colaboradores de Paulo. De origem grega, aderiu à fé, provavelmente através de Paulo, durante a primeira viagem missionária deste. Certo é que o acompanhou a Jerusalém, para a assembleia apostólica, constituindo um exemplo vivo da decisão tomada de não impor os costumes judaicos aos cristãos oriundos do mundo pagão, pois, embora sendo grego, não foi obrigado a circuncidar-se (Gl 2,1.3).

ACÇÃO DE TITO Na sua colaboração com Paulo, foram-lhe confiadas tarefas delicadas como a organização da colecta em favor das igrejas da Judeia (2 Cor 8,6-17) e, provavelmente, a pacificação da comunidade de Corinto e a reconciliação entre esta e o próprio Paulo (2 Cor 2,1-13).Paulo refere-se a ele sempre em termos muito elogiosos (2 Cor 7,6-7.13-16; 12,18). Segundo 2 Tm 4,10, foi-lhe ainda confiada uma missão na Dalmácia. A presente Carta dá-o como “bispo” de Creta (Tt 1,5), onde, segundo a tradição, exerceu o ministério até ao fim dos seus dias. É estranho que os Actos dos Apóstolos, que mencionam várias vezes Timóteo, não façam nenhuma referência a Tito. Nunca foi apresentada uma explicação convincente para o facto, sugerindo alguns que Tito é o redactor das passagens “nós” dos Actos (Act 16,10-17; 20,5-21,18; 27,1-28,16).

AUTENTICIDADE A maioria dos exegetas contesta a autenticidade paulina da Carta a Tito, quer pelo vocabulário utilizado, que se afasta bastante do que encontramos nas autênticas Cartas de Paulo, quer pelos problemas tratados, que fazem supor uma fase de desenvolvimento da Igreja posterior à época apostólica.Além disso, a Carta encontra-se redigida num tom muito impessoal, com excepção do título de «meu verdadeiro filho» que se encontra na saudação (1,4), longe, pois, das afectuosas referências de Paulo a Tito noutras Cartas.

DIVISÃO E CONTEÚDO A Carta pode estruturar-se do modo seguinte:Saudação inicial (1,1-4);Orientações a Tito sobre os critérios de escolha dos responsáveis das comunidades (1,5-9);Aviso contra os falsos mestres (1,10-16);Ensinamentos sobre o modo de comportamento de várias categorias de crentes (2,1-15);Elenco de deveres sociais (3,1-11);Recomendações de carácter pessoal (3,12-14);Saudação final (3,15).

1 Saudação - 1Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, em ordem à fé dos eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade, que conduz à piedade, 2na esperança da vida eterna, prometida desde os tempos antigos pelo Deus que não mente 3e que, no devido tempo, manifestou a sua palavra, pela pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador: 4a Tito, meu verdadeiro filho, pela fé comum, a graça e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.

Qualidades dos presbíteros (1 Tm 3,1-7) - 5Deixei-te em Creta, para acabares de organizar o que ainda falta e para colocares presbíteros em cada cidade, de acordo com as minhas instruções. 6Cada um deles deve ser irrepreensível, marido de uma só mulher, com filhos crentes, e não acusados de vida leviana ou de insubordinação. 7Porque é preciso que o bispo, como administrador de Deus, seja irrepreensível, não arrogante, nem colérico, nem dado ao vinho, à violência ou ao lucro desonesto; 8mas, antes, hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, 9firmemente enraizado na doutrina da palavra digna de fé, de modo que seja capaz de exortar com sãos ensinamentos e de refutar os contraditores.

Os falsos mestres (1 Tm 1,3-7; 4,1-5; 2 Tm 2,14-20) - 10Há, de facto, muitos insubordinados, palradores e sedutores, sobretudo entre os da circuncisão, 11aos quais é preciso tapar a boca, pois transtornam famílias inteiras, ensinando o que não devem, tendo em vista o lucro desonesto. 12Aliás, como disse um deles, que era profeta, «os cretenses são sempre mentirosos, bestas más e ventres preguiçosos.» 13E este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que tenham uma fé sã, 14não dando ouvidos a fábulas judaicas e a preceitos de homens que se afastaram da verdade. 15Tudo é puro para os puros, mas, para os corruptos e os incrédulos, nada é puro, porque a sua mente e a sua consciência estão corrompidas. 16Proclamam conhecer a Deus, mas negam-no com as obras, revelando-se abomináveis, rebeldes e incapazes de qualquer obra boa.

2 Qualidades dos anciãos e dos jovens - 1Tu, porém, ensina o que é conforme à sã doutrina. 2Os anciãos sejam sóbrios, dignos, prudentes, firmes na fé, na caridade e na paciência. 3Do mesmo modo, as anciãs tenham um comportamento reverente, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras de virtude, 4a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos e os filhos, 5a serem prudentes, castas, boas donas de casa e dóceis aos maridos, de modo que a palavra de Deus não seja difamada. 6Exorta igualmente os jovens a serem moderados, 7apresentando-te em tudo a ti próprio como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, 8de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós.

Os escravos (1 Tm 6,1-2; 1 Pe 2,18-25) 9Exorta os escravos a serem em tudo dóceis aos seus senhores, procurando agradar-lhes em tudo e não os contradizendo 10nem defraudando, mas mostrando-se totalmente leais, a fim de honrarem em tudo a doutrina de Deus nosso Salvador. 11Com efeito,manifestou-se a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens, 12para nos ensinar a renúncia à impiedade e aos desejos mundanos, a fim de vivermos no século presente com sobriedade, justiça e piedade, 13aguardando a bem-aventurada esperança e a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. 14Ele entregou-se por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade e de purificar e constituir um povo de sua exclusiva posse e zeloso na prática do bem. 15Assim é que deves falar, exortar e repreender com toda a autoridade. E que ninguém te despreze.

3 Obediência às autoridades (Rm 13,1-7; 1 Pe 2,13-17) - 1Recorda-lhes que sejam submissos e obedientes aos governantes e autoridades, que estejam prontos para qualquer boa obra, 2que não digam mal de ninguém, nem sejam conflituosos, mas sejam afáveis, mostrando sempre amabilidade para com todos os homens. 3Pois também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. 4Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, 5Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia, mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, 6que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, 7a fim de que, justificados pela sua graça, nos tornemos, segundo a nossa esperança, herdeiros da vida eterna. 8Esta palavra é digna de fé, e desejo que tu fales com firmeza destas coisas, para que os que acreditaram em Deus se empenhem na prática de boas obras, pois isso é bom e útil para os homens. 9Evita, porém, as discussões insensatas, as genealogias, bem como as contendas legalistas, pois são inúteis e vãs. 10Depois de uma ou duas advertências, afasta-te do sectário, 11pois bem sabes que esse homem está transviado, peca e a si mesmo se condena.
Recomendações e saudação - 12Quando te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te em vir ter comigo a Nicópolis, pois decidi passar lá o Inverno. 13Providencia solicitamente quanto à viagem de Zenas, o jurista, e de Apolo, de modo que nada lhes falte. 14Também os nossos devem aprender a empenhar-se em boas obras, para atender às necessidades prementes, de modo que não deixem de produzir frutos. 15Saúdam-te todos os que estão comigo. Saúda todos os que nos amam na fé.A graça esteja com todos vós.

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