sexta-feira, 4 de setembro de 2009

PRIMEIRA CARTA AOS TESSALONICENSES

É a partir da sinagoga (Act 17,2) que Paulo inicia, com bons frutos, a evangelização de Tessalónica; mas a hostilidade judaica obriga-o a interrompê-la bruscamente (Act 17,5-9). Por isso, o Apóstolo deixa uma comunidade apenas constituída, sujeita às seduções do paganismo de que proveio, na sua maioria (1,9) e à perseguição. Daí a inquietação que manifesta pela sorte dos crentes (2,17; 3,1.5).

CONTEXTO Com os seus companheiros, Paulo parte para Bereia; e depois, sozinho, para Atenas e Corinto, onde se lhe vêm juntar Silas, ou Silvano, e Timóteo (Act 18,5). Timóteo, entretanto, tinha sido enviado a Tessalónica (3,1) e traz boas notícias. É neste contexto que é escrita a 1.ª Carta aos Tessalonicenses, provavelmente de Corinto e entre os anos 50 e 52.

TEOLOGIA A nível cronológico, esta carta é o primeiro escrito do Novo Testamento, facto que lhe confere uma particular importância. É uma carta colegial, quanto ao remetente e às características gerais (veja-se o uso do plural), e eclesial, nos seus destinatários e na sua função (5,27); prolonga a obra da evangelização, que não é de um só, mas colectiva.A tonalidade dominante é pastoral: não há polémica, nem erros a corrigir. Com profundo reconhecimento a Deus por tudo o que Ele realiza, Paulo encoraja os cristãos a progredir. Revela uma grande intensidade afectiva, que é recíproca entre os missionários e os crentes. Nela sobressaem a gratidão, o entusiasmo, a confiança, a solicitude como de mãe e pai (2,7-8.11). E comunica ao leitor a generosidade e a grandeza de alma dos tempos iniciais, de fundação.

DIVISÃO E CONTEÚDOI. Acção de graças (1,2-3,13), em 3 secções:Saudação inicial (1,1) Acção de graças pelo trabalho dos missionários e pela resposta dos tessalonicenses (1,2-2,16).Missão de Timóteo, cujo êxito suscita reconhecimento a Deus (2,17-3,10).Voto final (3,11-13).II. Prática cristã «no Senhor Jesus Cristo» (4,1-5,24), em 4 secções:Dois aspectos fundamentais da vida cristã: santificação e caridade (4,1-12).Dois aspectos da expectativa escatológica: os mortos antes da parusia e o Dia do Senhor (4,13-5,11).Outros conselhos úteis à vida cristã (5,12-22).Voto final (5,23-24).Saudação final (5,25-28).
1 Endereço e saudação - 1Paulo, Silvano e Timóteo à igreja de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, que está em Tessalónica. A vós, graça e paz.

I. ACÇÃO DE GRAÇAS E SEUS MOTIVOS (1,2-3,13)
Eleição e resposta - 2Damos continuamente graças a Deus por todos vós, recordando-vos sem cessar nas nossas orações; 3a vosso respeito, guardamos na memória a actividade da fé, o esforço da caridade e a constância da esperança, que vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo, diante de Deus e nosso Pai, 4conhecendo bem, irmãos amados de Deus, a vossa eleição, 5pois o nosso Evangelho não se apresentou a vós apenas como uma simples palavra, mas também com poder e com muito êxito pela acção do Espírito Santo; vós sabeis como estivemos entre vós para vosso bem. 6Vós fizestes-vos imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra em plena tribulação, com a alegria do Espírito Santo, 7tendo-vos, assim, tornado um modelo para todos os crentes na Macedónia e na Acaia. 8Na verdade, partindo de vós, a palavra do Senhor não só ecoou na Macedónia e na Acaia, mas por toda a parte se propagou a fama da vossa fé em Deus, de tal modo que não temos necessidade de falar disso. 9De facto, são eles próprios que contam o acolhimento que vós nos fizestes e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro 10e para aguardardes do Céu o seu Filho, que Ele ressuscitou de entre os mortos, Jesus, que nos livra da ira que está para vir.

2 Comportamento dos missionários - 1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis. 9Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. 11Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós 12exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória.

Acolhimento da Palavra - 13Por isso, damos continuamente graças a Deus, porque, tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente, palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais. 14De facto, irmãos, vós tornastes-vos imitadores das igrejas de Deus, que estão na Judeia, em Cristo Jesus, pois também sofrestes, da parte dos vossos compatriotas, o mesmo que elas sofreram da parte dos Judeus; 15eles mataram o Senhor Jesus e os profetas e agora perseguem-nos: não agradam a Deus e são mal vistos por todos os homens; 16impedem-nos de pregar aos gentios para que se salvem e, assim, enchem cada vez mais a medida dos seus pecados. Mas, finalmente, a ira de Deus caiu sobre eles.

Missão de Timóteo - 17Mas nós, irmãos, órfãos de vós por breve tempo, longe da vista mas perto de coração, redobrámos esforços para rever o vosso rosto, porque tínhamos um ardente desejo. 18Por isso, tínhamos decidido ir ter convosco - eu, Paulo, mais que uma vez - mas Satanás no-lo impediu. 19De facto, quem é a nossa esperança, a nossa alegria e a nossa coroa de glória diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquando da sua vinda, senão vós? 20Sim, vós é que sois a nossa glória e a nossa alegria!

3 1Por isso, não podendo resistir mais, aceitámos que nos deixassem sós em Atenas, 2e enviámos Timóteo, nosso irmão e colaborador de Deus no Evangelho de Cristo, para vos confirmar e encorajar na vossa fé, 3para que ninguém se desencaminhe no meio destas tribulações. Vós bem sabeis que a tal estamos destinados. 4Quando estávamos entre vós, já então vos prevenimos que teríamos de sofrer provações, e assim aconteceu, como sabeis. 5Por isso, não podendo esperar mais, mandei saber notícias da vossa fé, receando que o tentador vos tivesse tentado, tornando assim vão o nosso esforço. 6Agora que Timóteo voltou daí e nos trouxe boas notícias sobre a vossa fé e a vossa caridade, e porque conservais de nós uma grata recordação, desejando-nos ver tal como nós a vós, 7encontrámos reconforto em vós, irmãos, graças à vossa fé, no meio de todas as nossas angústias e tribulações. 8Agora sentimo-nos com mais vida, porque estais firmes no Senhor. 9Que acção de graças poderemos nós dar a Deus por toda a alegria que gozamos, devido a vós, diante do nosso Deus? 10Nós que, noite e dia, insistentemente, pedimos para rever o vosso rosto e completar o que falta à vossa fé?
Voto final - 11Que o próprio Deus, nosso Pai, e Nosso Senhor Jesus nos encaminhem até vós. 12O Senhor vos faça crescer e superabundar de caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós para convosco; 13que Ele confirme os vossos corações irrepreensíveis na santidade diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de Nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.

II. PRÁTICA CRISTÃ (4,1-5,24)
4 Santidade e caridade - 1Quanto ao resto, irmãos, pedimo-vos e exortamo-vos no Senhor Jesus Cristo, a fim de que, tendo aprendido de nós o modo como se deve caminhar e agradar a Deus - e já o fazeis - assim progridais sempre mais. 2Conheceis bem que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. 3Esta é, na verdade, a vontade de Deus: a vossa santificação; que vos afasteis da devassidão, 4que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra, 5sem se deixar levar pelo desejo da paixão como os pagãos que não conhecem Deus. 6Que ninguém, nesta matéria, defraude e se aproveite do seu irmão, porque o Senhor vinga tudo isto, como já vos dissemos e testemunhámos. 7Com efeito, Deus não nos chamou à impureza mas à santidade. 8Pois quem despreza estes preceitos não despreza um homem, mas o próprio Deus, que vos dá o seu Espírito Santo. 9A respeito do amor fraterno não precisais que se vos escreva, pois vós próprios fostes ensinados por Deus a amar-vos uns aos outros; 10aliás, vós já o fazeis com todos os irmãos da Macedónia. Exortamo-vos, irmãos, a progredir sempre mais, 11a ter como ponto de honra viver em paz, a ocupar-vos das próprias actividades, a trabalhar com as vossas mãos, como vos recomendámos, 12de modo que vos comporteis honestamente perante os de fora e não preciseis de ninguém.

Vinda do Senhor e destino dos mortos (1 Cor 15) - 13Irmãos, não queremos deixar-vos na ignorância a respeito dos que faleceram, para não andardes tristes como os outros, que não têm esperança. 14De facto, se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus reunirá com Jesus os que em Jesus adormeceram. 15Eis o que vos dizemos, baseando-nos numa palavra do Senhor: nós, os vivos, os que ficarmos para a vinda do Senhor, não precederemos os que faleceram; 16pois o próprio Senhor, à ordem dada, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressurgirão primeiro. 17Em seguida nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. 18Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

O Dia do Senhor - 1Irmãos, quanto aos tempos e aos momentos, não precisais que vos escreva. 2Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão. 3Quando disserem: «Paz e segurança», então se abaterá repentinamente sobre eles a ruína, como as dores de parto sobre a mulher grávida, e não escaparão a isso. 4Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos surpreenda como um ladrão. 5Na verdade, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. 6Não durmamos, pois, como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. 7Os que dormem, dormem de noite e os que se embriagam, embriagam-se de noite. 8Ao contrário, nós que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação. 9De facto, Deus não nos destinou à ira mas à posse da salvação por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo 10que morreu por nós, a fim de que, quer durmamos, quer estejamos vigilantes, com Ele vivamos unidos. 11Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como já o fazeis.

Vida eclesial - 12Pedimo-vos, irmãos, que sejais reconhecidos para com aqueles que se afadigam entre vós, que vos governam no Senhor e que vos instruem; 13dedicai-lhes uma caridade acrescida devido à sua obra. Vivei em paz entre vós. 14Exortamo-vos, irmãos: corrigi os indisciplinados, encorajai os desanimados, amparai os fracos, sede pacientes com todos. 15Prestai atenção a que ninguém pague o mal com o mal; procurai, antes, fazer sempre o bem uns para com os outros e para com todos. 16Sede sempre alegres. 17Orai sem cessar. 18Em tudo dai graças. Esta é, de facto, a vontade de Deus a vosso respeito em Jesus Cristo. 19Não apagueis o Espírito. 20Não desprezeis as profecias. 21Examinai tudo, guardai o que é bom. 22Afastai-vos de toda a espécie de mal.

Voto final - 23Que o Deus da paz vos santifique totalmente, e todo o vosso ser - espírito, alma e corpo - se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. 24Fiel é aquele que vos chama: Ele há-de realizá-lo.

Últimas recomendações - 25Irmãos, orai também por nós. 26Saudai todos os irmãos com o ósculo santo. 27Advirto-vos no Senhor que esta Carta seja lida a todos os irmãos. 28A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco.

Sem comentários:

Enviar um comentário